Muito mais que “treinar” para o mercado de trabalho, ou simplesmente fazer de conta que estamos escolarizando as novas gerações, um dos compromissos fundamentais dos educadores comprometidos é pensar a transcendência, para a projeção de um ser humano melhor, para construção de uma sociedade solidária, para a formação de um cidadão comprometido com a vida.
Em seu livro Tempo de transcendência, Leonardo Boff nos diz que o ser humano é um projeto infinito. Apesar da finitude ser inerente à condição humana, pois somos seres que caminhamos para a morte, o homem busca o infinito, e aí reside a dimensão da transcendência.
No dizer de Boff, “somos seres de enraizamento e seres de abertura” (imanência/ transcendência). “A raiz nos limita porque nascemos numa determinada família, numa língua específica, com um capital limitado de inteligência, de afetividade, de amorosidade”. Esta é nossa dimensão de imanência. “Mas somos simultaneamente seres de abertura”, pois ninguém segura os pensamentos, ninguém amarra as emoções, ninguém é capaz de aprisionar-nos totalmente. “Mesmo que os escravos sejam mantidos nos calabouços e obrigados a cantar hinos à liberdade, são livres, porque sempre nasceram livres, e sua essência está na liberdade”. Esta é a nossa dimensão da transcendência que nos possibilita romper barreiras, superar os interditos, ir além de todos os limites.
Poderíamos citar muitas situações de transcendência. Exemplos que emergem do cotidiano, que são narrados na literatura, na poesia, na ficção, na dramaturgia, nas obras de arte, na música.
O próprio Leonardo Boff cita vários na belíssima obra acima referida. Experiências que vão desde o enamoramento até a descrição dramática das memórias de Rudolf Hess, diretor nazista do campo de extermínio de Auschwitz, que mandou mais de um milhão de judeus para as câmaras de gás. Boff capta em suas memórias, escritas antes do seu julgamento em Nuremberg, o momento de transcendência dele. Foi quando mandou para a câmara de gás uma mulher com 5 filhos. A mulher suplicou de joelhos para que ele poupasse as crianças. Ele ficou perplexo por um momento, mas com um gesto brusco mandou que levassem todos. É nesse momento que, no relato das suas memórias, ocorre a transcendência.
Ele comenta:“Aquele olhar da mulher não posso jamais esquecer. Ele me persegue sempre, até os dias de hoje, porque havia nele tanto enternecimento, tanta súplica, tanta humanidade, que eu me senti o inimigo da própria humanidade”. Eis uma profunda e dramática experiência de transcendência, possível, pelo reverso, até no nazismo mais brutal.
Podemos dizer, para finalizar que a transcendência é talvez o desafio mais secreto e escondido do ser humano e, portanto, um grande tema filosófico.
Como nos diz com todas as letras Leonardo Boff, o ser humano “se recusa a aceitar a realidade na qual está mergulhado porque se sente maior do que tudo o que o cerca. Com seu pensamento, ele habita as estrelas e rompe todos os espaços. Essa capacidade é o que nós chamamos de transcendência, isto é, transcende, rompe, vai para além daquilo que é dado. Numa palavra, eu diria que o ser humano é um projeto infinito”.
Pensar a transcendência, compreendida a partir do que foi rapidamente exposto acima, talvez constitua um dos mais importantes papéis de todo aquele que tem a reponsabilidade da formação das novas gerações e uma tarefa intransferível do pensamento filosófico.
Muito mais do que “treinar” para o mercado de trabalho, ou simplesmente fazer de conta que estamos escolarizando as novas gerações, um dos compromissos fundamentais dos educadores comprometidos é pensar a transcendência, para a projeção de um ser humano melhor, para construção de uma sociedade solidária, para a formação de um cidadão comprometido com a vida.
Eu sofro escrevendo este texto porque sei o que é sentir fome. E quem sente fome não consegue pensar direito, não consegue aprender a ler e a escrever, o seu pensamento cognitivo fica prejudicado e não consegue desenvolver o raciocínio lógico.
Hoje, começo com uma frase da nossa querida escritora Lya Luft que nos diz “As muitas fomes é o que impulsiona o sonho. Fome de nos sentirmos bem na nossa pele de espécie pensante.” Pois bem, penso que quem sente fome como eu senti tornar-se um sonhador ou sonhadora. Concordo com a Luft, as minhas fomes impulsionaram os meus sonhos.
Na infância, senti muitas fomes: a física e a emocional. Eu senti fome de alimento, fome de livros, fome de vestidos, fome de brinquedos e fome de amar. Eu senti tanta fome que cheguei a chorar no meio da sala de aula sem ninguém saber o motivo.
Todas às vezes que sentia fome a minha mamãe mandava eu dormir que passava. Se passava ou não eu não me lembro, mas lembro que sonhava o tempo todo. Eram sonhos lindos para uma menina com a barriga cheia de vermes, apenas. Comida não tinha na barriga.
Até os primeiros meses de vida a criança deve se alimentar apenas do leite materno. É ele que fortalece os laços afetivos da mãe para o bebê assim como lhe traz segurança e conforto. O leite materno é importante não somente para aliviar a fome da criança, mas como fonte de nutrientes e proteção contra doenças que porventura venham a aparecer.
A criança que mama cresce com muito mais saúde. O problema é quando essa mãe não tem leite materno para oferecer ao seu filhinho porque o seu corpo é subnutrido e ela por diversos motivos que incluem a fome e a subnutrição não conseguiu produzir este alimento.
Passada essa fase da amamentação, que vai até mais ou menos os seis a oito meses, tem criança que passa mais tempo, vem uma nova fase que é o alimento do nosso dia a dia que a mamãe ou quem é responsável pela criança vai preparar carinhosamente para que comece a experimentar e sentir o gosto das frutas, papinhas, tubérculos, leguminosas etc.
É importante nessa fase da introdução da nova alimentação que a criança seja respeitada quando não quiser comer o que está sendo oferecido. Há crianças que podem escolher o que comer no Brasil, são poucas, muito poucas, mas há aquelas que vivem em berço de ouro e são criadas com todo o cuidado merecido, aliás cuidado este que deveria ser estendido a todas as crianças do nosso país.
Fica a minha grande questão: e quando não se tem o que oferecer à criança? Nem frutas, nem leguminosas e nem nada. O que ela comerá? Precisará dormir para sonhar com comida na barriga igual eu fazia? Isso não é amor, isso é uma fuga da realidade, um fingimento do ser enquanto essência num mundo cruel onde criancinhas simplesmente morrem de fome porque não têm quem as alimente de verdade. Apenas lhes dão migalhas, como se fossem animais, quer dizer nem animais porque até esses muitas vezes comem bem.
As mamães precisam ter paciência para que a criança vá aos poucos se acostumando com aquele novo alimento e esquecendo o leite materno. Muitas vezes algumas pedem para mamar mesmo estando se alimentando com comidas do dia a dia, principalmente quando estão sentindo algum desconforto como dores de cabeça, cólicas, febre ou até mesmo quando se sentem inseguras por algum problema que desconhecemos. Elas vão chorar e só o peito da mamãe vai trazer conforto e segurança. Isso é normal nos primeiros meses em que a criança está em fase de adaptação.
É preciso saber que, depois dos seis meses de idade, o bebê necessita de outros alimentos para se desenvolver além do leite materno. E por isso a necessidade de introduzir outros alimentos. A introdução gradativa dos alimentos deve ser feita com cuidado e de preferência por um médico pediatra ou por uma nutricionista.
É fato que a criança que tem uma boa alimentação cresce mais forte, inteligente e com desenvoltura para brincar, correr e pular, por isso que desde cedo ela deve entrar em contato com as frutinhas que são excelentes fontes de vitaminas e proteínas sejam elas amassadas ou passadas no liquidificador. Acostumar a criança a comer frutas é muito importante, porque ao passar dos anos ela vai ter o seu apetite preparado para esse alimento tão saudável à vida infantil e adulta.
Educar e acostumar a criança para uma alimentação saudável desde os primeiros anos de idade é de fundamental importância para os pais.
Começando pelo que esses pais comem as crianças tenderão a imitá-los, por isso são eles os maiores exemplos. Não somente as frutas, mas as verduras e legumes também. Pais que só comem comidas industrializadas são péssimos exemplos para os seus filhos. E pais que comem comida do lixo? São o que para os seus filhos?
Infelizmente, enquanto falamos de alimentação saudável, há milhões de crianças neste momento sentindo fome no Brasil e isso é muito triste porque elas não têm nada para comer. Essas crianças não têm escolhas. Comem tudo o que encontram pela frente e algumas vezes passam horas sem comer.
Para mim, é difícil até mesmo escrever este texto quando acabei de dar um pão dormido com uma banana para uma criancinha que passou há poucos minutos pela minha casa pedindo comida. Na verdade, eu gostaria que toda criança tivesse uma alimentação saudável.
A gente vê um baixo nível de aprendizagem das crianças nas escolas do Brasil inteiro pelos índices do IDEB, principalmente nas regiões mais pobres e a mídia televisiva e impressa divulgam essa notícia procurando um culpado sem se dar conta de que o problema é muito maior do que escolas mal equipadas e governos corruptos. O problema está também na alimentação da criança. Sem uma boa alimentação a aprendizagem fica comprometida.
Eu me saía muito mal na matemática na escola. Não que fosse uma má aluna. Era que eu sentia tanta fome que não conseguia compreender direito as continhas que a professora fazia. Quando a professora ensinava algo que exigisse mais raciocínio lógico eu acabava me enrolando e não conseguia aprender porque estava com fome e a fome mexia com a minha mente e o meu corpo.
Uma criança bem alimentada mostra uma melhor disposição para aprender e desenvolver as suas habilidades, ajudando com isso a ter uma melhor concentração. O alimento contribui para um melhor aproveitamento na escola.
A criança precisa ser acostumada a comer feijão com arroz que é o prato preferido do brasileiro, porque segundo crenças populares e isso afirmado pela minha mamãe que tem setenta e sete anos e já criou quatro filhos amamentando e os alimentando logo depois com feijão e arroz fazendo com que todos os quatro crescessem fortes e saudáveis. O problema é que a mãe solo ou os pais assalariados não podem mais comprar feijão com arroz para os seus filhos.
Eu sofro quando falo de alimentação saudável. Eu sofro escrevendo este texto porque sei o que é sentir fome. E quem sente fome não consegue pensar direito, não consegue aprender a ler e a escrever, o seu pensamento cognitivo fica prejudicado e não consegue desenvolver o raciocínio lógico. Gostaria de que toda criança pudesse ser bem alimentada assim que largasse o leite materno. Mas não é isso que vemos no nosso país. E eu sofro com as diversas crianças mexendo em latas de lixo da minha cidade à procura de comida.
Alimentação saudável, querida mamãe ou querido papai, tornou-se na verdade aquilo que você tiver em casa e puder oferecer à sua criança. Não sejamos hipócritas. Não falemos de nutricionistas ou pediatras num país em que há filas enormes para se conseguir uma consulta de urgência num posto de saúde público onde uma criança agoniza nos braços de uma mãe.
A criancinha morre na fila do hospital e logo alguém diz que a causa foi a fome, isso é normal para a maioria das pessoas, é mais uma criança na estatística da fome no país, mas não para mim. Nunca será normal para mim saber que uma criança morreu nos braços de uma mãe na fila de um hospital, de fome.
Como procurar uma nutricionistas porque elas quase não existem em cidades pequenas do nordeste brasileiro? Sequer existe um médico em algumas cidades para atender toda a população de cinco a dez mil habitantes que sofrem com todas as mazelas, quem vai se preocupar com criança com fome? Nutricionista é coisa de rico e ter uma dieta saudável muito mais longe da vida do pobre trabalhador.
Para muitas crianças, o leite materno será o único alimento rico em nutrientes que ela vai receber em toda a sua vida. Quando estiver maiorzinha e puder andar pelas ruas terá que se virá com comida jogada no lixo.
Essas crianças parecem que têm anjos a sua disposição porque nunca adoecem e se ficam doentes a luta pela sobrevivência é tão cruel que não as deixam sequer sentirem que estão doentes, parece que elas não sentem dores físicas, mas apenas emocionais e choram pelas ruas escondidas dos semáforos abertos para os veículos porque não querem mostrar as suas fraquezas. Criança de rua é preciso ser forte e corajosa ou será engolida pela noite que também é faminta.
Num país onde crianças estão morrendo de fome não pode existir diferença de comida saudável para não saudável. Tudo é comida. Acho que deveria ter começado este texto assim. A gente come o que tem para comer, como diz a minha mamãe até hoje para mim.
Escutei muito isso na infância e ainda escuto até hoje com os meus cinquenta e um anos de existência. Dói lá no fundo da alma. Dói querer escrever um texto dizendo que biscoitos recheados, doces e pipocas são prejudiciais à saúde da criança.
O que é mais prejudicial é sentir a barriga com fome. É olhar para um lado e para o outro e não saber a quem pedir comida, porque o papai e a mamãe já disseram que não conseguiram nada naquele dia para trazer pra casa. E por incrível que pareça a comida que é mais prejudicial à saúde da criança é a mais barata e a de mais fácil acesso para ela que são os doces e as demais guloseimas encontradas em qualquer mercadinho perto de casa.
Costumo dizer para a minha mãe que se pudesse voltar para dentro da barriga dela nunca mais sairia de lá. Aqui fora o mundo está difícil para se viver com felicidade e barriga cheia. Quem é feliz com fome, minha gente? Vocês sabem o que significa ter uma panela vazia em cima de um fogão?
A alimentação saudável deve trazer o leite, o pão, o arroz, o feijão, as hortaliças, o peixe, os ovos e tantos outros alimentos diversos para a criança poder se alimentar e se sentir forte o suficiente para sair por aí brincando feliz com os seus amiguinhos, tomando banho de rios, subindo em árvores ou empinando papagaios. A criança que se alimenta bem tem coragem para correr e vive a dar recados para os vizinhos mais velhos.
Vejo muitas crianças pelas ruas comendo pastéis oleosos com refrigerantes porque são mais baratos do que uma vitamina de banana, abacate ou mamão acompanhados por biscoitos integrais. Esta alimentação muitas vezes é o seu jantar. Perto de mim tem muita criança que come essas coisas à noite e depois vai dormir. Seus desempenhos escolares são baixos e as escolas culpam os pais por não as incentivarem nos estudos.
Eu me lembro que na minha infância para matar a nossa fome, à noite, a gente ia para as casas que havia terços religiosos e que depois da celebração as donas das casas serviam lanches. A gente só ia para comer e nem ligava de rezar por uma vida melhor. Enchíamos o bucho de suco com bolo e corríamos para casa felizes.
Não era só eu. Além de mim tinham muitas outras crianças com fome nos terços de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, padroeira da nossa Igreja do bairro. Acho que a padroeira sabia da nossa fome porque nunca fomos castigados por participarmos somente dos terços nas casas que serviam lanches. Parece que o povo lá do céu não costuma castigar criança com fome.
Para criancinhas pobres, o bom é que elas possam comer feijão com arroz desde cedo junto com farinha e ovos que ainda são baratos. Se puderem oferecer frutas ou saladas de verduras, para as crianças será muito bom.
Peço para alguns pais que não podem comprar verduras semanalmente que façam uma horta em casa plantando tomates, cenouras, alfaces, cebolas. Aqueles pais que tiverem casas próprias. Sei que muitos não podem plantar porque moram em casas alugadas e vivem se mudando. Nossa! É tão difícil dá uma sugestão porque aí já vem outra que impede o que a gente estava querendo dizer sobre alimentação saudável às crianças.
Para escrever este texto eu fiz algumas leituras e pesquisas na internet sobre alimentação saudável para crianças e vi num desses sites que visitei que na escola os professores deveriam contar histórias sobre crianças que comem bem e não reclamam da comida, mostrar fotos e ilustrações de frutas e pratos às crianças, passar vídeos de comidas saudáveis ou até mesmo cantar músicas com temas sobre alimentos saudáveis. Sim, tudo isso é muito didático e cai bem nas escolas onde as crianças podem ser alimentadas em casa com boas comidas.
O problema é que a maioria das crianças só faz uma refeição bem-feita durante todo o dia que é a da merenda escolar. É essa merenda que ajuda a criança muitas vezes a continuar na escola. A merenda escolar na educação básica não devia ser apenas uma e eu já falei nisso em outros textos meus. A criança deveria comer ao chegar na escola, na metade do horário das aulas e no final das aulas. Assim, ela teria garantido um pouco de energia nutricional capaz de aprender a interpretar um texto ou fazer um continha.
Os nossos alunos da educação básica estão tirando notas ruins no IDEB não é porque não sejam bons ou não tenham bons professores. O problema está na alimentação.
Quem não se alimenta bem não consegue fixar conhecimento, memorizar, raciocinar logicamente. Não é o ensino que é ruim, o professor que é fraco ou a escola que não tem boa estrutura predial para oferecer um bom ensino. Nada disso. O problema começa muito antes da criança chegar à escola. O problema ela traz de casa e vem buscar esperança na escola. Tudo se resume na palavra que mais dói para eu escrever, a FOME.
E no dia que nossos governantes perceberem que com fome nenhuma criança vai conseguir aprender nada de verdade eles passarão a dar mais atenção para a merenda e para a comida saudável da criança que esteja sempre presente na mesa da sua casa. Qual criança vai deixar de comprar um sanduíche gostoso para comprar um livro com uma história linda mesmo que seja o livro que ela sempre sonhou ler se sente a sua barriga roncando de fome e o sanduíche está ali prontinho para ser comido? Não temos a cultura da leitura, mas sentimos fome, e muita.
Alimentação saudável para minha mamãe é tudo aquilo que podemos comprar com o dinheiro que temos depois de pagarmos as nossas dívidas porque pobre não pode além de sentir fome ter o nome sujo no comércio. Neste caso, para a minha mamãe vale mais a dignidade de ter o nome limpo do que está com a barriga cheia.
Charles Darwin dizia que “a luta pelo alimento para a manutenção da vida é um dos principais mecanismos da seleção natural na evolução das espécies. A incapacidade de o homem se alimentar plenamente estaria, então, relacionada aos limites impostos pelo ambiente natural.” É esta seleção não mais natural, mas fonte de desigualdades sociais que dita quem pode comer bem e sobreviver e quem não pode comer nada e consequentemente morrer de fome.
O malthusianismo, fundado na relação homem-natureza, considerava (e ainda considera) a fome e a miséria como resultantes da violência contra a lei natural da vida, motivada pelos próprios pobres. Segundo esse pensamento os pobres são culpados pelas suas fomes por não saber onde buscar os seus alimentos ou por não saber que eles são o necessário para as suas sobrevivências. É como se as pessoas fossem ignorantes ao ponto de não saberem que se não comerem morrerão de fome.
Já para Paul Singer ele nos diz que “A fome endêmica é antes de tudo um problema de falta de dinheiro. As pessoas que sofrem desse mal não se alimentam adequadamente porque não têm dinheiro suficiente pra comprar comida. Há dados abundantes para o Brasil de pesquisas de orçamento familiar. Todas demonstram nitidamente que existe uma correlação perfeita entre níveis de renda e níveis de alimentação. De tão óbvio, seria até ridículo afirmar aqui, se não fossem as dúvidas muitas vezes levantadas até por especialistas, de que as pessoas não sabem se alimentar bem, e com os parcos recursos compram pinga, televisão, cigarros etc. e assim continuam subnutridos. Tal raciocínio leva à conclusão de que nosso problema não seria a renda das famílias e sim suas falhas na educação, repetindo-se aquela famosa estória de que é pela educação que tudo se resolve.”
Discordo de Singer. Conheço famílias que são tão pobres que não têm dinheiro sequer para comprar uma garrafa de pinga ou uma carteira de cigarros. As suas crianças vivem com a ajuda de pessoas caridosas sejam vizinhos, estudantes universitários, organizações sem fins lucrativos, pessoas voluntárias, que passam todos os dias nessas casas e deixam alguma coisa para que possam comer.
Ao invés de Singer dizer de que é pela educação que tudo se resolve eu diria que não só pela educação, mas pelo sistema que tudo se resolve, sistema esse que envolve a sociedade, os governantes e a cultura dos povos.
A educação é o primeiro passo a ser dado, mas como já falei aqui não é possível aprender o básico que é português e matemática estando com fome. Antes da educação vem a alimentação, ou seja, o prato de comida.
Desculpem-me, meus leitores queridos! Eu queria ter falado sobre alimentação saudável na infância, mas fui tomada por uma onda de indignação, revolta e raiva ao lembrar da menina faminta que passou pela minha casa ainda há pouco pedindo comida. Atrás dela não vinha ninguém, mas lá na frente tem um monte delas que nunca vai fazer distinção entre alimentação saudável ou não, elas só vão querer encher a barriga e parar de sentir fome.
Se um dia a gente conseguir acabar com a fome no Brasil, outra vez quem sabe eu consiga escrever um texto sobre alimentação saudável.
Quero abrir um parêntesis para dizer que não é só a criança largada nas ruas que sente fome. As crianças que têm um lar onde morar e pais carinhosos e amáveis também sentem, sendo que esses ainda têm um pouco de dignidade e forças para trabalharem e buscarem juntar dinheiro para trazer comida para casa. Muitas vezes não conseguem o dinheiro suficiente para o arroz e o feijão, mas se contentam com um pedaço de pão e um copo de refresco industrializado.
Outro dia, eu estava em um mercadinho do meu bairro e vi uma senhora comprar umas coisinhas e ir para o caixa. Eu fiquei na fila logo atrás dela. Enquanto passava as coisinhas ela torcia para que o dinheiro desse para pagar tudo o que estava no carrinho porque faltou colocar muita coisa que estava precisando em casa. Teve que deixar no carrinho dois pacotes de café e duas barras de sabão. Deu prioridade aos itens de comida mais necessários. Havia uma criança com ela que pedia a todo instante para que comprasse um pacote de biscoitos. A mãe parecia não lhe dar ouvidos. A menina começou a chorar.
A mulher cochichou algo no ouvido da criança que a calou rapidamente. Fiquei curiosa para saber o que a mãe tinha dito para a sua filha que a silenciou tão rápido. As duas foram embora cada uma levando uma sacola de compras nas mãos. A moça ao me atender foi logo dizendo “a mãe sempre engana ela dizendo que a fada vai trazer os biscoitos à noite.” Eu achei bonita e triste a mentira da mãe.
Para finalizar este texto trago uns versos da nossa linda e encantadora cantora e compositora Adriana Calcanhoto que nos diz “Eu gosto dos que têm fome / Dos que morrem de vontade / Dos que secam de desejo / Dos que ardem…”
E que nós possamos gostar dos que têm fome do saber, da felicidade, do amor e não a fome que dói na barriga e nos faz chorar. Que toda fome seja bem-vinda ao mundo da criança, menos a fome da alimentação porque sem comida a gente não é ser, a gente nem chega a ser.
*Este texto faz parte da obra “As fomes das crianças” de Rosângela Trajano, a ser lançado em março de 2023.
Maria Helena, vou chamá-la assim, a avó, vai buscar o neto de seis anos que mora com a mãe em outro estado. Conforme combinado na Justiça, o menino passará as férias com o pai, filho de Maria Helena. Trata-se de um casamento que terminou mal: os ex-casados brigam por telefone, não podem se falar, as famílias criticam-se asperamente.
Maria Helena desembarca do avião e vai para o local do encontro. No horário combinado, a ex-nora não aparece com o menino. Maria Helena vai perder o voo de retorno, terá de trocar a passagem e pousar uma noite na cidade.
Como a maioria de nós em semelhante situação, sente-se irritada. As decepções e a raiva acumuladas há anos tendem a vir à tona e a explodir numa grande briga. Porém, Maria Helena decide evitar o comportamento habitual e priorizar a felicidade do seu netinho.
Antes de tudo, procura entender que a ex-nora, provavelmente, sente raiva ao lembrar-se das decepções que teve no casamento.
Ela deve ser imatura, no sentido de que não capta a rede de relações em que vivemos. Qualquer atitude nossa afeta muita gente. No caso, transferência de passagem, atraso nos compromissos que teria Maria Helena amanhã, afetando terceiros que nada tinham a ver. Por exemplo, teria de desmarcar horário na dentista, atrapalhando sua agenda, e assim por diante.
Maria Helena coloca-se no lugar da ex-nora e deduz que deve ser difícil para ela entregar, por ordem judicial, o menino para o “ex”, o pai. Sabe o quanto é duro para ela, avó, devolvê-lo no final das férias. Deve ser mais duro ainda para quem é a mãe. Deve sentir a irritação proveniente do sentimento de perda.
No dia seguinte, nova combinação de encontro. Maria Helena já fez o check-out no hotel, mas somente após seis horas do combinado a ex-nora aparece. Joga os cabelos bem escovados para trás e, de seu rosto irretocavelmente maquiado, deixa escapar o sorriso irônico: “Como se seu filho nunca tivesse me feito esperar!”.
Maria Helena abraça calorosamente o neto. Apresenta-se para o novo namorado da ex-nora: “Sem lhe conhecer já lhe quero bem. Meu neto falou por telefone muito bem de você. Sinal de que você é um bom homem e o trata bem”.
Volta-se para a ex-nora e diz: “O que são algumas horas de espera em contrapartida a este presente que você me dá?! Poder conviver nos meus últimos anos de vida com um menino maravilhoso como é o teu filhinho. E ele tem muito de você”.
Maria Helena, antes de falar, buscara dentro de si motivos para ter afeto pela mãe do netinho. Expressou algo que sentia.
A bem maquiada ex-nora e seu novo namorado, constrangidos frente à inesperada recepção amistosa, aceitam o convite para um café. A partir desse momento, uma trégua teve início.
Após muito tempo, o menino vê as pessoas adultas com as quais convivia e tinha afeto se relacionarem sem agressão. Surgira uma flor naquele pântano. “Apenas uma flor”, como na foto de Sérgio de Paula Ramos (foto da capa).
O menino relaxa a ponto de dormir sobre duas cadeiras com a cabeça no colo da vovó. Da admirável vovó.
Nossas raízes mais profundas estão na África. Não faz o menor sentido ignorar a sua história.
“Onde já se viu uma Ariel negra?”, questionou alguém incomodado com o fato de uma atriz negra ter sido escalada para interpretar uma das mais populares princesas da Disney no filme “A Pequena Sereia.” “Ariel é ruiva”, afirmou convictamente. “Não existe sereia negra”, protestou. Então, proponho que da próxima vez escalem uma sereia de verdade.
Desde o dia em que os estúdios anunciaram que a atriz negra Halle Bailey seria a nova Ariel, a produção recebeu vários ataques racistas.
Não foi diferente agora com o lançamento do primeiro trailer. Na manhã do dia 12 de setembro, o vídeo já tinha nove milhões e meio de visualizações, 344 mil likes e, pasmem, 1 milhão e duzentos mil dislikes.
Mas é melhor que os racistas de plantão comecem a se acostumar. Ações afirmativas são cada vez mais frequentes em produções cinematográficas. Muitas outras produções têm substituído atores brancos por negros, não só para interpretarem personagens fictícios como Doctor Who, por exemplo, mas também personagens históricos tidos como brancos.
O irônico é que a mudança racial só incomoda quando escurece, mas quando branqueia, ninguém se queixa, como aconteceu com figuras históricas como Jesus, Cleópatra e Machado de Assis.
Filmes, novelas e séries têm um grande poder na construção de valores sociais, e boa parte desta construção passe pela representatividade. Quem geralmente discorda disso é quem sempre se viu representado e não imagina como é não se ver em nada que consome.
Esse apego exagerado ao fenótipo de personagens fictícios não passa de racismo enrustido.
A reação de crianças vendo pela primeira vez Halle Bailey dando vida à Ariel foi fascinante e viralizou nas redes sociais. Ao ver o tom de pele da personagem, meninas negras se sentiram representadas.
Reação semelhante ocorreu com o anúncio do novo “Doctor Who.” Depois de 39 temporadas e quase 60 anos no ar, finalmente um ator negro interpretará o personagem principal em uma das mais tradicionais séries da TV britânica. Enquanto alguns celebram, outros se mostram incomodados com a escolha de Ncuti Gatwa, para herdar o manto do Doutor.
O ator, que além de negro, também é gay, nasceu em Ruanda em 1992 e com dois anos mudou-se com sua família para a Escócia fugindo de um massacre em massa que ocorreu durante a Guerra Civil em seu país. Formado em arte cênicas em 2013, ganhou fama mundial em 2018, ao interpretar Eric, um jovem gay descobrindo sua sexualidade e identidade em uma família religiosa nigeriana, na série “Sex Education” (Netflix).
Outra série que deu muito o que falar foi Bridgerton. Ambientada em Londres no período regencial, tem em seu elenco atores de diversos matizes étnicos interpretando membros da aristocracia inglesa. O protagonista da primeira temporada da série é um ator negro.
Recentemente, o alvo das críticas ao elenco multiétnico foi “Anéis de Poder”, série inspirada em “O Senhor dos Anéis” de Tolkien. Para alguns, é admissível ver um elfo interpretado por um ator que não seja branco.
Apoio qualquer ação afirmativa que vise a reparação do prejuízo sofrido por populações minoritárias ao longo do tempo. Porém, acredito que outros passos precisam ser dados além de introduzir atores e atrizes de minorias étnicas ou homossexuais em elencos predominantemente brancos e héteros.
Melhor do que uma “Branca de Neve” ou uma “Rapunzel” negra seria criar princesas que fossem negras desde o início. Melhor do que uma releitura histórica em que personalidades notadamente brancas sejam interpretadas por atores negros seria contar a história de personalidades negras em seus contextos originais. Algo como foi feito no filme “A Mulher Rei” estrelado por Viola Davis.
O filme tem como protagonista Nanisca que foi uma comandante do exército do Reino de Daomé, um dos locais mais poderosos da África nos séculos XVII e XIX. Durante o período, o grupo militar era composto apenas por mulheres que combateram os colonizadores franceses, tribos rivais e todos aqueles que tentaram escravizar seu povo e destruir suas terras.
Conhecidas como as Amazonas Dahomey, ou Agojie o grupo foi criado por conta de sua população masculina enfrentar altas baixas na violência e guerra cada vez mais frequentes com os estados vizinhos da África Ocidental, o que levou Dahomey a ser forçado a dar anualmente escravos do sexo masculino, particularmente ao Império Oyo, que usou isso para troca de mercadorias como parte do crescente fenômeno do comércio de escravos na África Ocidental durante a Era dos Descobrimentos, o que fez com que mulheres fosse alistadas para o combate.
Hollywood está em polvorosa! O eurocentrismo está cedendo a uma leitura mais pluralista da história, levando em conta a existência e a rica história de outros povos como os que habitaram a África antes que fossem explorados, saqueados e escravizados por nações europeias.
Nossas raízes mais profundas estão na África. Não faz o menor sentido ignorar a sua história.
À medida que nos afastamos do paraíso, símbolo da integração com o Criador e com o restante da criação, empalidecemo-nos. O frio das longínquas terras para as quais migramos nos clareou a epiderme, mas também resfriou nossa alma. Nossos cabelos ficaram escorridos, pois não precisavam mais reter a água que refrigerava nossas têmporas durante os dias de sol escaldante das regiões áridas do velho continente.
Perdemos o tônus muscular quando deixamos de correr pelas savanas para escapar das feras. Passamos a nos refugiar em cavernas para nos proteger do frio. O fogo agora não nos servia apenas para assar nossa comida, mas também para aquecer nossas noites e preservar a rica herança negra que carregávamos na alma. Os tambores jamais deixaram de rufar. Mesmo sem entender direito o que efeito que causavam na constituição de nosso ser, deixávamos que seu som nos seduzisse e nos pusesse a dançar. Cada canto, cada passo de dança, cada ritual, era um tributo que prestávamos às nossas raízes.
Se nossa mente é grega, nossa fé é judaica, nossas leis são romanas, nossa moral é vitoriana, nossa alma é africana. Se a Mesopotâmia é o nosso berço, a África é o útero no qual fomos formados. Não há como negar!
A melanina que nos falta à pele pigmenta nossa alma. Não é possível disfarçar por muito tempo nossa latente negritude, pois ela ainda vibra ao som dos tambores, se delicia pelo encanto dos sabores e se inspira nos ideais de heróis como Luther King e Mandela.
Nem mesmo a escravidão foi capaz de sufocar o espírito aguerrido que nos habita. Como a fênix, a África renasce das cinzas através de sua arte, para brindar a civilização com sua desaforada musicalidade.
Somos todos filhos da África. Mas numa espécie de Édipo planetário, ensejamos matá-la e nos apoderar de tudo o que ela produz. Queremos sua arte, sua jinga, sua fé, sua fibra, mas rejeitamos sua gente. Cobiçamos as curvas de seus corpos, mas desprezamos os traços de seus rostos. Invejamos sua virilidade, ambicionamos sua força e destreza, mas rejeitamos sua companhia.
Nosso preconceito nos entrega. Revela nossa face mais cruel e indigna. Expõe nossas vísceras fétidas, carregadas de excremento racista.
Fizemos a eles o que Dalila e os filisteus fizeram a Sansão. Vazamos seus olhos quando lhes oferecemos uma educação tacanha, incapaz de fazê-los enxergar criticamente o arranjo social no qual são inseridos. Tosquiamos seus cabelos ao convencê-los de sua suposta fraqueza e inferioridade. Pusemo-los a trabalhar em nossos moinhos, tornando-os meras engrenagens de nosso sistema, lubrificado pelo seu sagrado suor. E por fim, cedemos-lhes (não sem resistência) a ribalta, proporcionando-lhes a ilusão de serem o centro das atenções enquanto nos divertimos à sua custa.
Iludidos são os que pensam que não haverá uma reação. Tal qual o herói hebreu, abraçaram os pilares de nossa cultura, mas em vez de derrubá-los, passaram, na verdade, a escorá-los.
Se quisessem, derrubariam nosso templo, e nos soterrariam sob os escombros de nossa vaidade. Mas surpreendentemente, preferem nos poupar, abençoando-nos com sua presença no mundo, ensinando-nos a resiliência capaz de sorrir e festejar mesmo em face da dor.
Para riscar a África do mapa, teríamos que rasgar os poemas de Machado de Assis, esquecer os solos psicodélicos de Jimmi Hendrix, a voz rouca de Ray Charles, o balanço de Tim Maia e Jorge Benjor, a genialidade esportiva de Pelé e Tiger Woods, os passos de Michael Jackson, o caráter de Joaquim Barbosa, a envergadura ética de Desmond Tutu, o carisma de Barack Obama, o idealismo de Nina Simone e Bob Marley, o empoderamento de Beyoncé, a extensão vocal de Whitney Houston, o humor de Eddie Murphy, o engajamento de Oprah Winfrey, o brilhantismo da atuação de Sidney Poitier, Denzel Washington, Will Smith, Milton Gonçalves, Lázaro Ramos e o inesquecível Grande Otelo, o talento musical de Cartola, Milton Nascimento, Djavan, Alcione, Emicida e tantos outros.
Definitivamente, o mundo não seria o mesmo sem esses ilustres filhos da África.
“Minha alma, onde estás? Tu me escutas? Eu falo e clamo a ti – estás aqui? Eu voltei, estou novamente aqui – eu sacudi de meus pés o pó de todos os países e vim a ti, estou contigo; após muitos anos de longa peregrinação voltei novamente a ti.”
Este diálogo acima Carl Gustav Jung trava consigo e está descrito em O Livro Vermelho nos leva a muitas reflexões, pois fora escrito por ele em outubro de 1913 numa época em que aos 40 anos de idade já havia alcançado fama, dinheiro, poder, saber e considerava-se muito feliz.
Mesmo tendo presidido por um período a Sociedade Médica Internacional para Psicoterapia e sido um psiquiatra de renome, sempre lhe incomodaram questões da ordem do sagrado, do religioso, e, por incluí-las em sua psicologia, acabou rompendo suas relações com Sigmund Freud. Ainda hoje há, infelizmente, quem diga que religião e ciência não podem andar juntas.
Se fizermos uma leitura deste lindo texto entendendo por “alma” o Eu interior, teremos aí a formulação de uma grande busca à nossa consciência e o enriquecimento em autoconhecimento.
Este novo encontro – depois de tirarmos o “pó” daqueles lugares por onde andamos e que nos impregnou – sugere que é preciso nos livrar das impurezas que agregamos por onde passamos, dos maus hábitos, das más ideias, maus pensamentos, de toda aquela carga inútil que nos dificulta na jornada.
Quantas vezes nos afastamos de nossos desejos – de brincar com os filhos, de ficar com a pessoa amada, de descansarmos – em detrimento de exigências do trabalho e de compromissos os quais, no final, não nos levaram ao sucesso, ao dinheiro ou ao crescimento que almejávamos?
Tempo perdido; é preciso que voltemos ao nosso Eu para um recomeço, e nunca é tarde. Segue Jung em seu diálogo interior:
“… mas uma coisa precisas saber, uma coisa eu aprendi: que a gente deve viver esta vida. Esta vida é o caminho, o caminho de há muito procurado para o inconcebível, que nós chamamos divino. Não existe outro caminho. Todos os outros caminhos são trilhas enganosas. Eu encontrei o caminho certo, ele me conduziu à ti, à minha alma.”
Há um conceito universal chamado “A Jornada do Herói”, o qual caracteriza-se por aquele que sai de suas origens (casa, vila, cidade) e, após partir, submete-se a uma iniciação e vive uma aventura para só depois retornar ao convívio com os seus.
Grandes vultos da história, da mitologia e da literatura vivenciaram este reencontro proposto por Jung, e isto sugere um desafio muito interessante a nós mesmos, partirmos para nossa jornada com a finalidade de nos encontrarmos.
O mundo nos envolve com sua rotina, com os compromissos, com as contas a pagar, a eterna sensação de falta de tempo, e tudo isto nos afasta do sagrado que há em cada um de nós e que muitas vezes fica esquecido. E o que acontece?
Na maioria das vezes, só paramos e olhamos para nós quando estamos doentes, cansados, com uma vida sem graça.
É preciso dar o mínimo de atenção a nós mesmos procurando encontrar o equilíbrio que nossa saúde merece para bem vivermos esta vida.
Muitas questões ajudam a definir nossos votos em eleições gerais ou em eleições municipais. O importante é basearmos a decisão pelos votos em critérios que nos ajudem em decisões mais assertivas, mais conscientes e mais cidadãs.
Começamos esta reflexão perguntando: como surgem os candidatos e candidatas que se apresentam, a cada dois ou a cada quatro anos, seja para as eleições gerais ou eleições municipais? Ou ainda: em que mundo vivem eles/elas? Quais são seus verdadeiros propósitos? Qual é o seu papel e a sua finalidade na representação política que exercem a partir de seus mandatos?
É importante destacar que os candidatos/as não “são anjos que caem do céu”.
Geralmente, eles ou elas são convocados a assumir uma missão de representação política de um determinado grupo ou de grupos de determinadas categorias ou classes sociais ou, ainda, eles mesmos se autoconvocam para esta representação.
Os candidatos ou candidatas surgem das lutas e das disputas sociais que envolvem os diferentes interesses coletivos. Podem representar uma categoria de trabalhadores/as, uma causa social, uma ideia de organização de sociedade, uma pauta com grandes e importantes impactos na sociedade.
Quanto maior for a diversidade das pautas sociais, políticas, culturais, econômicas e ambientais que os candidatos representam, maior será o exercício da democracia a partir das eleições.
Sempre é louvável termos pessoas dispostas, preparadas e disponíveis para o trabalho de representação política nas cidades, nos estados e na nação.
Um dos aspectos que devem nortear nossas escolhas é termos conhecimento das trajetórias de vida e de atuação social daqueles que se escalam para nos representar na vida pública. Cada um e cada uma de nós vai construindo a sua vida pessoal e social, alicerçada em valores, em propósitos, em engajamentos e envolvimentos que interessam à coletividade. Quando candidatos, esta trajetória é o grande aval para o trabalho coletivo. Afinal, a política é o exercício do bem-comum, voltada aos anseios e necessidades da coletividade.
Quem se apresenta para o exercício de um trabalho de representação na esfera pública deve comprovar uma trajetória onde já tenha vivenciado e/ou protagonizado ações políticas com benefícios para a coletividade.
É fato também que algumas pessoas que buscam votos numa eleição não tem comprovada inserção em atividades, eventos ou causas que realmente impactam coletivamente os interesses de uma coletividade. Estes, deveríamos evitar, pois na medida em que escondem seus interesses, estão ludibriando as nossas mentes e nos enganando como eleitores. Os interesses individuais nunca podem se sobrepor aos interesses da coletividade.
Outro aspecto que pode e deve orientar nossas escolhas é saber dos candidatos quais sãoseus méritos e seus métodos para alcançar o objetivo da representação. Por exemplo, pode ser que determinado candidato ou candidata tenha ótimas ideias, boa inserção social e representatividade, mas está usando meios ilícitos como compra de votos, como acordos com setores econômicos ou com segmentos políticos para perpetuar práticas políticas que ele mesmo condena.
Há que se considerar, ainda, se o pedido de votos para a representação política condiz com o cargo que irá exercer. Se o cargo é para o executivo, terá de apresentar propostas concretas para resolver questões de cidadania, políticas públicas, economia, mundo do trabalho. Se seu cargo for para o legislativo (vereador, deputado estadual, deputado federal ou senador), deverá dizer como levará as demandas e necessidades da comunidade para o executivo, como legislará para a comunidade e como fará a fiscalização do poder executivo.
Os candidatos não se fazem sozinhos. Para além dos grupos com os quais estão vinculados, fazem parte de organizações e partidos políticos que defendem diferentes ideologias. Neste sentido, cabe ao eleitor conhecer os partidos, saber o que eles defendem e votar em candidatos vinculados às ideologias que ele acredita sejam capazes de promover mudanças reais para a sua vida e para a vida em sociedade.
Por fim, cabe abordar a ideia da “falsa idealização dos agentes políticos”. Muitos, dentre nós, gostaria que os políticos fossem anjos. Se assim fosse, estariam imunizados contra todas as situações e oportunidades que não promovem o bem comum e as boas práticas da democracia. Mas os políticos, assim como cada um de nós, não são anjos e sim, seres humanos, ou seja, também não são perfeitos.
A política não é um espaço para a ação de anjos, mas é o espaço de disputa dos mais diferentes interesses que estão em jogo na sociedade. A disputa destes interesses é legítima, desde que os mesmos estejam sempre bem explicitados, para que todos saibam o que move os candidatos que se propõem a representar os interesses da população.
No pequeno mundo das crianças, tudo é grande demais, assim também são os monstros que nascem dentro delas quando não prestamos atenção as suas birras, ao invés de solucionarmos problemas fáceis, acabamos criando monstros imaginários para elas.
Uma criança não faz birra por ser mimada. Ela faz birra porque quer chamar a atenção, precisa de cuidados, sente-se sozinha e com medo, algo a incomoda, precisa de alguém para ajudar-lhe nas suas mais diversas ansiedades e desejos, não sabe o que escolher para si e fica perdida diante de tantas atribuições que lhe damos durante a sua pequena infância.
Uma criança birrenta precisa de cuidados especiais dos pais e responsáveis, necessita de um olhar atencioso e, muitas das vezes, de um psicólogo.
A birra da criança serve para extravasar as suas emoções e experienciar a raiva, o medo, a tristeza, a dor, a solidão, o desamparo e a orfandade do brincar. As crianças sentem-se órfãs das brincadeiras junto com outros amigos, pois a sociabilidade é muito importante para o seu crescimento.
Muitas vezes, os pais não permitem que desçam para brincar no parquinho do condomínio ou as impedem de sair à rua sem explicar o motivo pelo qual elas não podem fazer aquilo.
Uma criança birrenta procura por atenção desesperada dos adultos, principalmente, aquelas que têm pouca idade. A birra é uma forma de pedir ajuda aos adultos que a criança encontra, ainda mais aquelas que não falam ainda.
As crianças são submetidas todos os dias a tarefas e afazeres que muitas vezes fogem dos seus desejos, pois tudo o que mais querem é brincar e correr pela casa inteira. O não pode isso e não pode aquilo sem motivos aparentes faz com que a criança sinta raiva dos pais ou dos responsáveis tornando-se essa raiva uma birra, forma mais bem encontrada por ela para demonstrar a sua emoção mais profunda.
As birras das crianças não podem ser deixadas de lado, os adultos não devem fingir que não estão vendo, que isso não merece atenção, que nada está acontecendo, pois quando joga para fora as suas emoções mais profundas, a criança busca uma solução para elas, a sua pequena alma está cansada de lidar com um problema que não sabe como resolver.
Não devemos confundir as crianças birrentas com as mimadas, são duas coisas diferentes.
A birra é um pedido de ajuda que se desenvolve a partir de uma emoção.
A raiva é uma das emoções mais fortes na criança, pois no seu pequeno mundo não consegue compreender por que o mundo lhe diz tanto não, por que não pode fazer as coisas que deseja, por que não pode dormir até tarde, por que não pode levar o seu animal de estimação para a cama, porque os adultos não conseguem compreender as suas vontades e impõem limites para tudo.
Para muitas crianças, os pais proíbem que façam diversas coisas senão ficarão de castigo, mas nunca conversam sobre o motivo de tais proibições. A criança não entende o que lhe é negado e faz birra para notar que está aborrecida com aquele tipo de atitude ou gesto.
No pequeno mundo das crianças, tudo é grande demais, assim também são os monstros que nascem dentro delas quando não prestamos atenção as suas birras, ao invés de solucionarmos problemas fáceis, acabamos criando monstros imaginários para elas.
Quando atendemos as birras das crianças, elas ficam felizes não por serem mimadas, mas por termos ouvido os seus desejos, elas ficam contentes com a importância que damos para os seus anseios e vontades. Todo mundo quer sentir-se importante, não é diferente com a criança, ela tem emoções e precisa de amor, carinho, conselhos, segurança, aconchego e diálogo.
As birras despercebidas pelos pais ou responsáveis podem desencadear ansiedades e outros traumas que com o tempo prejudicarão as relações da criança com as pessoas ao seu redor, animais e a natureza. Muitas birras tornam-se tão graves que acabam necessitando de psicólogos.
Dar atenção à birra da criança é dizer para ela que você está ali, que a presença dela não está incomodando, que o não que lhe foi dado tem um motivo a ser dialogado assim que possível. É preciso cuidar bem da criança tratando-a com respeito e admiração. Mesmo que as suas birras roubem-nos a paciência, nunca é demais dá afeto e atenção.
Assim, a criança que faz birra é porque está sentindo algo a incomodar, logo, os pais devem tomar precauções e buscar conversar com ela para saberem do que está precisando.
As emoções das crianças são mais visíveis do que a dos adultos, porque elas ainda não têm os sentimentos de vergonha dentro de si, ainda não estão marcadas pelas regras e normas de alguns adultos de que chorar em público é feio.
Para uma criança chorar no supermercado ou na rua não tem problema nenhum, sentiu vontade de chorar porque ficou com raiva ou triste e abre o bocão diante de todos.
Se fôssemos iguais as crianças estaríamos menos doentes. A birra da criança é um sinal de alerta de que algo errado está a acontecer e, quanto antes a ajuda chegar, melhor será para todos.
A criança birrenta deve ser amada igual a todas as outras, pois ela está gritando ao mundo que precisa de ajuda.
O grande desafio atual é nos libertarmos da dependência do mundo virtual e ilusório das máquinas mágicas que, em alguns casos são úteis e indispensáveis, mas que nos distraem e nos desconectam do mundo real. É urgente voltar a viver o dia a dia de forma natural, real.
Somos todos, que compõem a humanidade, filhos da Terra, ela é a nossa mãe dadivosa e boa que nos oferece doações sem limites. Bem trabalhada e cuidada, ela transforma em alimento tudo que seus filhos precisam. É um laboratório divino.
O nosso convívio equilibrado com os outros seres vivos proporciona a manifestação e continuidade da vida plena. Ela sempre foi capaz de gerar alimento abundante para a manutenção de seus habitantes tanto do reino mineral, vegetal e animal. A Terra é naturalmente preservadora e mantenedora da vida.
A vida, sopro divino, é encontrada no ar, nas águas, nos raios do Sol, no solo, na relva, nas árvores, nas montanhas, nos animais, no nosso corpo físico. A Natureza está sempre presente em nossas vidas. A Terra é uma bateria gigantesca que se desloca no cosmos equilibradamente.
Nas páginas vivas do livro da Natureza, aberto à nossa frente, bastando acessá-lo com a visão, o olfato, a audição, o tato ou a gustação, observá-lo conscientemente, racionalmente, percebermos a grandiosidade da vida que temos a nossa volta e da qual somos parte integrante. Esta constatação vai nos proporcionar fonte de equilíbrio emocional e físico.
A observação dos fenômenos naturais como: nascer e pôr do Sol, as aves voando, as flores e seus perfumes, as árvores, as nuvens, o céu noturno estimula a elaboração de bons pensamentos, da razão ativa, da consciência participativa, da vontade de fazer boas coisas e de nos sentirmos plenos.
A comparação interativa entre nós e o meio natural em que vivemos ajuda a nos autoconhecer e proporciona processo de identificação com a divindade, promovendo o sentimento de pertencimento a esta criação transcendental e de inteireza e plenitude com tudo que nos cerca, dando sentido a nossa vida. O Sol, a fonte, a árvore, as pedras, as flores, a brisa, não falam, irradiam a luz, a harmonia, a beleza, o som, o perfume, comunicam-se silenciosamente, falando a nossa alma sobre as realidades sublimes que nos cercam.
Temos que parar, silenciar, respirar fundo, sentir a natureza que nos cerca. Observar atentamente os elementos que a compõem. Quanta lição vamos encontrar.
O ar atmosférico, indispensável à vida, quando seco e limpo, é composto de 21% de oxigênio, 78% de nitrogênio, 1% de argônio, 0,03% de carbono e vapor de água. Encontram-se, também, poluentes, poeiras, cinzas, microrganismos e pólen.
O oxigênio presente no ar atmosférico é de grande importância para a manutenção da vida no planeta, é o gás utilizado na respiração de todos os seres vivos. Ele sopra e viceja em torno da Terra. Nós começamos a respirá-lo ao nascer e essa assistência vai até o último dia de nossa vida na Terra, quando paramos de respirar.
O ar é a força renovadora, cheia de vitalidade que nos doa, ao respirarmos, a energia que necessitamos para nos manter vivos. O ar dá vida às plantas, pois elas também respiram e transformam, perante a luz do Sol, no processo de fotossíntese, o gás carbônico que expiramos em oxigênio, purificando o ar poluído pelos seres humanos.
A fragrância do vento que corre, tudo limpa, o sopro forte do ar empurra as nuvens carregadas de água que acabam desaguando sobre a terra árida, nutrindo-a. O corpo humano precisa respirar o ar da mãe Terra para sobreviver e o espírito precisa respirar o ar rarefeito transcendental que vem de Deus, que é o alimento da alma. Precisamos do pão que nutre o corpo, mas, também do alimento que nutre a alma.
A água é o sangue vivo que circula no planeta. Duas partes da Terra estão debaixo das águas. Nas águas dos mares está o marco do princípio da vida, elas são laboratórios imensuráveis de fenômenos surpreendentes para a Ciência. No contato com a água, o ser humano tem sensação de bem-estar, pois ela é doadora de energia e é imprescindível à vida dos seres vivos. Ao bebermos um copo de água fresca, estamos ingerindo o elixir da vida, a melhor bebida que existe na Terra, indispensável à manutenção da saúde física.
Mais de 70% do corpo humano é composto de água. Ela representa 60% do peso total do corpo. No período da gestação, o feto fica imerso do líquido amniótico dentro da placenta, até o nascimento. Não existe vida sem água. Das fontes divinas fluem as águas que saciam as fontes do planeta Terra que caem do céu como benditas gotas de chuva mantendo o vigor da vida no solo.
O solo do planeta é o resultado de paciente trabalho da natureza, partículas minerais e orgânicas vão sendo depositadas em camadas devido a ação da chuva, do vento, do calor, do frio e de organismos vivos como minhocas, formigas, cupins e outros micro-organismos. Ele é tão importante quanto o ar, a água, o sol e fundamental para o ecossistema terrestre, pois, além de fixar as plantas, como meio natural, ele oferece os nutrientes básicos para elas crescerem. Serve também de base para as construções humanas.
A mãe Terra, que nos acolhe na nossa atual experiência, nos fornece os elementos básicos para a formação do nosso corpo físico, disponibiliza os recursos naturais que precisamos para sobreviver e que, depois guarda no seu seio os restos mortais do mesmo quando nosso espírito se liberta, representa escola bendita que busca nos ensinar a aprender, conhecer, a conviver com os outros e interagir com a natureza, despertando nossa autoconsciência.
A natureza, da qual somos parte integrante, age em rede de entrelaçamento para manter a vida organizada com o sol, o ar, a água, o solo. O sol, fonte de luz, calor e energia; o ar atmosférico que promove o sopro renovador da vida; a água, fonte da vida; o solo, base da vida. De Deus recebemos a vida espiritual, o amor e a sabedoria.
O grande desafio atual é nos libertarmos da dependência do mundo virtual e ilusório das máquinas mágicas que, em alguns casos são úteis e indispensáveis, mas que nos distraem e nos desconectam do mundo real. É urgente voltar a viver o dia a dia de forma natural, real.
Recuperar a curiosidade sadia da infância e saciá-la na busca de respostas sobre o significado mais profundo da vida, junto à natureza e no contato pessoal com o outro, sem a intermediação do aparelho celular, na convivência olho no olho, no ouvir a voz e olhar o rosto, apertar a mão, dar o abraço…. Voltar a explorar os recursos naturais a nossa disposição e sentir a vida estuante que nos cerca.
Precisamos nos libertar das atividades escolares exclusivamente dentro das quatro paredes da sala de aula. Quando possível, aula ao ar livre, embaixo da sombra de uma árvore, na horta da escola, embaixo dos raios solares, sentindo a brisa do vento, promovendo acurada observação, por parte dos alunos, de algum ângulo da natureza. É preciso aprender a olhar, descobrir, fixar a atenção.
O pensamento é valorizado pela observação e pela comparação entre duas ou mais constatações de fenômenos naturais. Aprender a sentir, a expressar as emoções que a observação da natureza oferece, valorizar tudo o que está a volta ajuda a ativar o campo perceptivo do aluno.
Este tipo de vivência representa ensaio para leitura do livro aberto da natureza associado às emoções e sentimentos. Sentir o calor do sol, a frescura da brisa, olhar o céu, as nuvens, ouvir o canto dos pássaros, tatear o troco de uma árvore, abraça-la, verbalizar no grupo as constatações pessoais feitas no laboratório vivo da natureza ajuda a desenvolver visão mais plena do sentido da vida.
Atividades planejadas adequadamente, de forma multidisciplinar e interdisciplinar, enriquecem o processo ensino aprendizagem na escola. Encontramos, na Base Nacional Curricular Comum, entre as competências do Ensino Religioso que o aluno deve: “Reconhecer e cuidar de si, do outro, da coletividade e da natureza enquanto expressão de valor da vida. ”
A escola, no nosso entendimento, templo do saber, deve buscar oferecer experiências de aprendizagem que contribuam para a formação de pessoas capazes de compreender o mundo e agir de forma consciente e crítica, que tenham a capacidade de ler e interpretar os saberes que estão à disposição no mundo complexo que vivemos, especialmente em relação à educação ambiental. O aluno deverá ser estimulado, provocado a “ler” seu ambiente natural e interpretar as relações e os conflitos que fazem parte deste contexto, formando uma cidadania ambiental e um sujeito ecológico.
A escola é o local onde a criança e o jovem vão desenvolver as habilidades socioemocionais com vistas a construir sua cidadania, percebendo-se como ser integrante pleno de um Estado, com seus direitos e deveres civis e políticos, como um membro ativo da Sociedade”. Leia mais: https://www.neipies.com/a-escola-templo-do-saber/
O educador, na escola é, por natureza do ofício que exerce, quem conduz o aluno a interpretar e compreender o mundo natural e social que o cerca, é o mediador e provocador de reflexões que provoquem novas leituras da vida, de visões e compreensões do mundo que no acolhe e da responsabilidade pessoal de ação sobre este mundo, como seres humanos, históricos e sociais.
A compreensão dos problemas socioambientais envolve múltiplas dimensões na escola: geográfica, biológica, histórica, social e espiritual.
A professora Alzira B.F. Amui, no livro Fundamentos Educacionais para a Escola do Espírito, da editora Esperança e Caridade, coloca, na página 138:
“Compreender a vida, a partir da natureza, estabelece, na intimidade do ser, outros parâmetros em relação a tudo que o envolve, especialmente, quando passa a sentir e perceber o valor inestimável de uma educação que lhe propicia o equilíbrio e a harmonia íntima. Valorizando, de forma diferente, tudo o que está a sua volta, o aluno torna-se um ser cada vez mais reflexivo e participativo da natureza em que está inserido. Com esta educação, tornar-se-á um jovem tranquilo e sereno, sequioso de saber e pleno de respeito pelas coisas divinas. ”
Percebam que Zé Leôncio não falou que buscaria uma professora habilitada, que pagaria um ótimo salário, que daria todas as condições de trabalho para que ela atendesse adequadamente as crianças. Não. Ele disse que elas deveriam fazer um sacrifício em nome da educação.
No capítulo da novela “O Pantanal” do dia 09 de setembro, tivemos uma cena que mostra exatamente o que a elite brasileira pensa da educação e principalmente do professor.
Zé Lucas e Zé Leôncio discutiam sobre a possibilidade de se ter uma escola chalana, onde as crianças pantaneiras teriam aulas nestas embarcações que cortam os rios pantaneiros. Lá pelas tantas, Zé Lucas questiona sobre quem estaria disposto a dar aulas para aquelas crianças em uma chalana no meio do pantanal. Eis que Zé Leôncio responde:
– Uai, nóis contrata uma professora. Elas tão acostumada a faze sacrifício.
A fala de Zé Leôncio é a expressão do pensamento da sociedade brasileira sobre o professor. Percebam que ele não falou que buscaria uma professora habilitada, que pagaria um ótimo salário, que daria todas as condições de trabalho para que ela atendesse adequadamente as crianças. Não. Ele disse que elas deveriam fazer um sacrifício em nome da educação.
Mas, justiça seja feita, não é somente o latifundiário Zé Leôncio que pensa assim. Nós ouvimos estas falas quase que diariamente de autoridades, políticos, e as vezes até mesmo de professores, em todo o Brasil.
Tento me convencer que talvez tenha sido uma crítica refinada à elite agrária brasileira. Mas, logo em seguida, Irma, a cunhada de Zé Leôncio, se prontifica a ser esta professora, me convencendo que não havia crítica alguma. Irma parece ter feito o curso de letras, o que não o habilita a alfabetizar, e parece também que ela nunca pisou em uma sala de aula, e pelo que entendi, nem salário ela vai querer.
Isso diz muito sobre o Brasil, a sua classe política, e a sua elite com suas raízes escravocratas, mostrando o longo caminho que precisamos percorrer, até que nos tornemos um país minimamente civilizado.
Neste período eleitoral, que se intensifica com a proximidade do dia 2 de outubro, os discursos e planos para a educação são muito bonitos no papel e nos discursos. Mas será que seu candidato realmente se importa com a educação e os educadores(as)?
Por mais de 30 dias o CPERS percorreu escolas dos 42 Núcleos do Sindicato para fazer esse questionamento aos professores(as) e funcionários(as) de escola – da ativa e aposentados – e debater sobre que projeto de futuro esperançamos para a educação pública do Rio Grande do Sul e do Brasil.
Assim como o explicado durante a #CaravanaPelaDemocracia, o Sindicato não tem a intenção de definir votos, mas é seu papel propiciar uma reflexão sobre as ações dos governos e parlamentos. Recordar o passado e analisar o presente é fundamental para se decidir o futuro!
>> Clique aqui para baixar o encarte de como votaram os deputados(as) e senadores(as) em projetos que retiraram direitos dos educadores(as).
Acesse os materiais e reflita você também sobre os cenários vivenciados e as possibilidades diante das eleições que se aproximam. O teu voto fará a diferença na eleição para assegurar um projeto a serviço do povo gaúcho(a) e brasileiro(a), bem como na defesa de uma escola pública laica, democrática, gratuita e de qualidade social.