O sentimento moral como virtude

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Para filósofo Hume, cultivar bons sentimentos de simpatia, amizade, honestidade, benevolência, misericórdia, tolerância, humildade, compaixão e principalmente amor, nos possibilita uma aproximação do bem e de uma vida moral correta. Sentimentos opostos como antipatia, inimizade, desonestidade, avareza, preguiça, intolerância, prepotência e principalmente ódio nos aproximam do mal e de uma vida moral incorreta e destrutiva.

Conviver com os outros, principalmente com quem possui outros costumes e experiências, professa outra religião, possui outra cultura, cultiva outras crenças, compartilha outra ideologia tornou-se um dos maiores desafios da atualidade. Aprender a viver juntos, aprender a viver com os outros constitui um dos quatro pilares do famoso relatório da Unesco para a educação do século XXI.

Quando acompanhamos os acontecimentos da terrível guerra entre Ucrânia e Rússia, ou mais recentemente o conflito entre israelenses e palestinos, para além das motivações econômicas, religiosas ou políticas está o terrível problema da intolerância e da dificuldade de conviver com o diferente.

Talvez nos falte o sentimento moral que seja capaz de nos tornar mais humanos e menos desumanos. Um dos pensadores que se debruçou sobre a teoria dos sentimentos morais foi o filósofo David Hume (1711-1776). Reconhecido por muitos como um dos maiores filósofos britânicos do século XVIII, um dos mais radicais empiristas e um dos grandes expoentes do iluminismo moderno.

Embora tenha se tornado célebre por sua filosofia, Hume foi também historiador e economista, deixando para estas áreas escritos importantes, dentre eles História da Inglaterra, considerado um clássico sobre o assunto. Também escreveu sobre política e religião, tendo oferecido inúmeras contribuições relevantes à compreensão desse tema.

No que diz respeito ao conhecimento, o ponto de partida de Hume, seguindo a tradição empirista, é a tese segundo a qual nossas ideias sobre o real se originam de nossa experiência sensível. A percepção é considerada como critério que dá validade, que dá origem a nossas ideias e quanto mais próximas estiverem da percepção que as originou, serão mais nítidas e fortes, ao passo que quanto mais abstratas e remotas, serão menos nítidas e se tornarão mais pálidas perdendo sua força.

Para Hume, as ideias são sempre de natureza particular, pois a origem das ideias simples vem da nossa experiência perceptiva. Quando associamos as ideias simples entre si por meio de palavras (linguagem), passamos a generalizar as coisas a partir de suas semelhanças, criando dessa forma ideias complexas. Dessa forma, Hume explica o processo do conhecimento e porque a imaginação humana é capaz de criar ideias que não existem no mundo real. É pela associação de ideias simples, pelo exercício da reflexão e da imaginação que são criadas na mente humana ideias complexas.

O ponto central da filosofia de Hume é compreender a natureza humana, tanto é que uma das suas mais importantes obras tem por título Tratado da Natureza Humana.

Nesta obra Hume declara que “o único meio de obter de nossas investigações filosóficas o êxito que delas esperamos é abandonar o tedioso e extenuante método seguido até hoje e, ao invés de nos apossarmos, de quando em vez, de um castelo ou um povoado de fronteira, rumamos diretamente para a capital, para o centro dessas ciências, ou seja para a própria natureza humana: senhores desse centro, podemos esperar alcançar uma fácil vitória por toda parte”.

Saber sobre a natureza humana significa perguntar sobre quem é o ser humano, como ele pensa, como se dá o conhecimento, como realiza os juízos morais e estéticos, de que forma é possível cultivar a virtude e evitar os vícios. Em síntese, qual a origem e constituição do humano?

Para responder a essa questão, Hume analisa duas esferas fundamentais que definem a condição do homem: o entendimento e a sensibilidade. Estas duas esferas fundamentais possibilitam ao ser humano tanto a possibilidade do conhecimento quanto a capacidade de julgar moralmente e esteticamente.

Uma parte importante da obra de Hume dedica-se a Investigação sobre os princípios da moral. Para ele, as distinções morais não tratam do verdadeiro e do falso, mas do bem e do mal. Com isso ele defende que o fundamento da moralidade não pode se basear em um princípio da razão, pois “a moralidade é mais propriamente sentida que julgada”. Sendo assim, a percepção que temos das ações morais, sejam as nossas ou de outrem, decorre do nosso sentimento de aprovação ou reprovação.

O sentimento moral, portanto, nasce em nós de uma impressão original própria da natureza humana que é “a possibilidade de sentir prazer ou dor”. Dessa forma, o senso de virtude constitui-se pela capacidade de sentir satisfação de um determinado tipo pela contemplação do caráter.

Para nosso filósofo, cultivar bons sentimentos de simpatia, amizade, honestidade, benevolência, misericórdia, tolerância, humildade, compaixão e principalmente amor, nos possibilita uma aproximação do bem e de uma vida moral correta. Sentimentos opostos como antipatia, inimizade, desonestidade, avareza, preguiça, intolerância, prepotência e principalmente ódio nos aproximam do mal e de uma vida moral incorreta e destrutiva.

Algum indicativo importante para os dias de hoje?

Autor: Dr. Altair Alberto Fávero

Edição: A. R.

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