Vamos convidar nossos adolescentes a trocar empatia? Somos exemplos?

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Vamos falar sobre rejeição, empatia e superação com nossos adolescentes?  Ainda haverá tempo para ajudá-los?

A empatia é o sentimento e a ação que devem ocupar todos os vazios na escola, originadas em dias de incompreensão, discriminação e desrespeito, a uma multidão de alunos.

O bullying e as demais agressões que assistimos são o gatilho comportamental de relacionamentos desajustados e intolerantes, muitas vezes vivenciados em famílias disfuncionais, nos pátios escolares ou até nas salas de aula.  E que são alimentados pelos anos, em mágoas e frustrações, manifestando-se no ritual de preparação para a vingança.

Na base desta violência, encontramos os seus motivos prováveis, as rejeições e hostilizações silenciosas, sofridas em corredores e afins, e que, em alguma manhã, farão retornar ao colégio o aluno, agora o próprio algoz, para extravasar seu ódio incontido.

Junto às famílias, o alcance sempre será limitado mas, através escolas, poderemos prevenir?

Ainda haverá tempo para semear empatia?

Todos os caminhos da infância e da pré-adolescência conduzem para o fim de um mundo de imaginação e fantasia. Ao terminar esta passagem, enfrentam, finalmente, os contos e as histórias reais de seus adultos.

Os adultos somos nós que, normalmente submersos e comprometidos em todas as nossas realidades, não percebemos que os jovens precisam muito pouco, mas do que nos é mais caro nestes dias de carga emocional intensa:  nosso tempo.

Alguns adolescentes demoram para despertar em sua caminhada, à maturidade, à responsabilidade e as contradições da vida adulta. E acontece em uma velocidade tal que a eles não é permitido o tempo necessário, para lhes explicar que a vida que os chama, de fato, pode ser uma jornada de mais cores e menos dores.

Há um desamparo que os aguarda, contudo. Um vazio que deve ser discutido com seus presentes, ou, ausentes. 

Estes jovens, que vivem a transformação de seus sonhos pelas primeiras experiências, têm que ser ouvidos.  Não será apenas um moletom a abraçá-los, mas que todos em seu entorno os ouçam, vejam-nos e os acolham. Em seus delírios aparentes e em suas soluções descabidas, há planos, desejos e inconformidades. 

Dos dias de juventude, com a sua impetuosidade e sua percepção aguçada, de quem tem de mudar este mundo de incompreensões, pode lhes restar somente a fantasia, de que nada nessa vida, até agora, fez sentido. Isso se não os ouvirmos e se a eles não forem estendidas algumas frações de horas, pelo menos as que dispomos ao final do dia, cansados, para ouvir suas primeiras batalhas.

Senão, forma-se o vazio do desamparo, porque no tempo lúdico e no hiato de quaisquer compromissos, seus pensamentos se inclinam a todas as promessas de um mundo utópico, mais justo, em sua opinião, este mundo fácil que os vendedores de sonhos têm a oferecer.

É o tempo de uma passagem rápida, onde passeiam na ponte da imaginação, entre os suportes e pesadelos dos adultos, que ora os aplaudem, ora os censuram.  No desconforto de sua família ou de professores exaustos, na convivência com as rejeições silenciosas, bullyings de todas as dimensões, forma-se o vácuo de desamparo, onde sempre se acha uma porta de saída, para o prazer e a vertigem que as drogas se prestam a prometer.

Livrar ou resgatar os jovens de promessas de uma vida surreal, depois de iniciados no caminho de morte da alienação, é muito mais difícil do que acolhê-los, enquanto há tempo.  Não é uma tarefa fácil, entretanto, a sua prevenção.

Por esse motivo, antes que um vendedor de utopias venha a adotar um jovem já cansado, de sonhar e sofrer, e a ele ofereça a viagem lúdica e enganosa, em uma trouxa de drogas qualquer, é preciso conversar, ouvir, pensar ou até chorar ao seu lado.

Porque o acolhimento de uma pessoa que não tem o seu interior consolidado e desenvolvido com as sementes da esperança, resta a desilusão de uma vida sem rumo e amarga, pois muitas vezes veem espelhadas em outros adultos, igualmente perdidos e sem auxílio a lhes oferecer.

Que tal falarmos sobre empatia com nossos jovens?  A atitude de colocar-se no lugar do outro, não somente lembrar, mas ver e sentir sua dor, enfim, ajudar.  Porque não há antídoto melhor para a aparente falta de sentido na vida e seu propósito, do que acolher o nosso igual, ou, desigual, colocando-se ao seu lado e participando no resgate de sua angústia.  Não há vazio que resista à nossa escolha, em salvar da aflição e da solidão, quem está crescendo em seu abandono.

Trocar cadernos e livros, borrachas e lápis, trocar horas de conversas e risos, segredos, compartilhar nossa caminhada com o colega mais próximo, fazer o bem, enfim, pode se constituir em uma barreira repelente a pensamentos tóxicos, individualistas, e que acham que a alegria ou a felicidade genuína, dependem de uma dose de qualquer promessa de alucinação, em uma viagem, sem destino e sem volta.

Descobrindo que mãos que se estendem e se doam à sua família, amigos e colegas, crescendo juntos, em alegria e cumplicidade, pode-se alcançar a felicidade possível, a plenitude do gosto pela vida mais cedo e dela nunca mais afastar-se.

Autor: Nelceu A. Zanatta

Edição: A. R.

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