Sonho se reconstrói na experiência educacional

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É bom acordar todo dia e saber que
encontraremos jovens com tanta energia e sonhos.
Vemo-nos neles. Somos eles.

Era um sonho grandioso ser professor. Fazer faculdade, então muito mais. Mudar o mundo estava nos planos. Contribuir positivamente na vida de jovens tornava uma realização profunda. Para quem veio de família pobre o esforço movia o impossível. Impossível? Sim. Olhando para trás percebo que ele não existe para quem tem na mente objetivo.

Ser professor já sou há 25 anos. Transformei o mundo? Depende do ponto de vista e do “mundo” que falamos.

O mundo e transformado pelas pessoas e aqueles que conviveram comigo, esses anos todos, levam grandes boas experiências que se deram através da linguagem. Mas nisso tudo, a transformação maior se deu dentro do meu eu, do meu coração. Me tornei alguém realizado. Feliz. A transformação se deu muito mais pra mim. Sou um ser humano melhor. E me renovo a cada dia com o convívio com jovens.



Ensinar com amor e aprender com emoção.



Estamos sufocados. O governo nos sufoca. A desvalorização profissional corrói a esperança. Muitas vezes, ela esta na calçada da vida, quase sem vida. O salário que não vem.

Os governos que não priorizam a educação. Estamos por mais de 5 anos sem nenhum centavo de reajuste. Não temos dinheiro para nos manter. Suprir o mínimo da família. Com toda essa avalanche de negatividade, como revitalizar o sonho a cada dia?

As únicas pílulas que estamos tomando para não morrer a míngua vêm do retorno de nossos alunos e alunas, como nos exemplos que seguem.

Por onde começar?

Como eu sempre falei, as aulas dele me lembram o filme “Sociedade dos poetas mortos“, por serem aulas dinâmicas, divertidas e que inspiram, fazem despertar o talento que cada um tem dentro de si. São aulas que podemos cantar, dançar, recitar poemas, atuar…

Fizemos Invasões Culturais, e aprendemos muito com isso. Levamos cultura em outras escolas.

Aprendemos com ele, que as aulas não precisam ser como nós estávamos acostumados, podemos aprender também, de maneira divertida e que todos participem.



Émerson Ryan da Silva – 208

Meu nome é Vitória Carolina. Tenho 16 anos e participar das Invasões Culturais foi a melhor coisa que o ensino médio me proporcionou. Eu tenho muito que agradecer ao professor Laércio por ter me dado essa oportunidade, de poder levar arte a juventude, e encontrar a arte em mim. Na primeira vez estávamos ansiosos, aflitos, envergonhados. Depois de ver o encanto nos olhos de cada um, a magia do momento em recitar poesias famosas e nos encontrarmos nos versos, tudo fluiu perfeitamente.

Não era algo forçado, e mesmo tendo um pouco de cansaço físico, nada superava os aplausos no final do espetáculo. A arte engloba tudo. Podemos sentir isso na pele. A amizade aflorava, quando decorávamos o poema do colega, e assim ajudava-o a ensaiar um pouco antes. Quando olhávamos uns para os outros e dizíamos, “você está incrível!”.

As parcerias na apresentação firmaram vínculos profundos, e mesmo que se passe 20 anos, ainda saberemos recitar, cada um a sua parte, no seu devido tempo. Ter a nossa turma como escolhida para esse projeto foi um privilégio e tanto. Nunca vamos nos esquecer desses dias incríveis, e das palavras amorosas, encorajadoras e de orgulho do nosso querido professor. Isso com certeza é algo que levaremos para a vida.



Vitória Carolina Machado dos Santos  – 208

Meu nome é Gabriel Andara da Silva, sou aluno do professor Laercio Fernandes dos Santos e participei do trabalho de Português e Literatura, a Invasão Cultural. Eu gostei muito de participar e levar poesia e música para jovens e alunos de outras escolas e do próprio Instituto Estadual Cecy Leite Costa. Foi muito gratificante levar essa experiência a outros jovens que nunca tiveram ela antes.



Gabriel Andara da Silva

            Não bastasse isso, conto um fato. Um dia desses fui para uma consulta de rotina num determinado hospital e já estava saindo da consulta quando fui abordado por uma enfermeira me dizendo: “Oi professor, parabéns pelo trabalho que desenvolve na escola”. Eu olhei bem para ela e perguntei: “Mas de onde mesmo eu te conheço”? Ela com um sorriso largo de lado a lado e me respondeu que eu tinha dado aula pra ela numa instituição de ensino superior e que ela tinha tido uma experiência fantástica com as minhas aulas.

Em seguida, ela me acompanhou até a recepção e dirigindo-se para as funcionárias dizendo: “Gente! Essa é o melhor professor de Passo Fundo! Ele declama, conta história, faz teatro e até apresentou um programa de televisão”.



Assista programa de TV apresentado por Laércio Fernandes dos Santos.



Por isso tudo, que o sonho não morre, porque ele é alimentado por injeções que nos impulsionam todo dia. São pelos alunos que fizemos. São por eles que renovamos a esperança. São por eles que acreditamos.

Quando o sonho está corroído, estraçalhado são eles que juntam os pedaços e cuidadosamente recolocam. É bom acordar todo dia e saber que encontraremos jovens com tanta energia e sonhos. Vemo-nos neles. Somos eles. É bom acordar e saber que na escola temos uma direção que nos apoia que nos entende, que nos ampara. Caso contrário, ou por outros motivos o sonho de educador do início estaria desfeito.

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