Servidor público não pode ser um paradoxo

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A própria palavra servidor significa aquele que serve. Se o cidadão paga imposto é o serviço público antecipado, deve receber um tratamento á altura. Esse é o princípio.

Os textos são pensamentos contidos e, muitas vezes, lutamos contra as palavras para que elas não se manifestem. As palavras esperam ser escritas, porque é delas que se materializa o discurso.

Esse texto me fez mergulhar surdamente no reino das palavras porque fui provocado por um discurso paradoxal de um Deputado Estadual do RS, tratando com tamanho desprezo o serviço público, se vangloriando por ter vendido mais uma empresa pública estadual. Assista o vídeo do deputado, postado em rede social.

Assim, o texto explode. Dizia esse “representante do povo”, abre aspas: “acabamos de concretizar, juntamente com o Governador Eduardo Leite, a privatização da CEEE, muito importante esse passo para o Estado do Rio Grande do Sul, para possibilitar ainda mais investimento…momento histórico…deixando um grande legado para os gaúchos”.

Nesse discurso já existe um paradoxo, porque ele foi eleito pelo povo para zelar, preservar, manter o serviço público. Ao contrário, faz o que não deveria fazer, pois está ali para garantir que o povo usufrua do seu direito. Há uma vontade muito grande de uma parcela dos políticos em acabar com os serviços públicos, reduzindo o Estado à zero.

O paradoxo discursivo está em dizer “deixando um grande legado para os gaúchos”. Que legado é esse? Deixar a pampa pobre? Herança maldita? Para depois esse mesmo cidadão dizer na Assembleia Legislativa que não há como fazer nada pela população, porque é a iniciativa privada que tem domínio.

Rock de Galpão interpreta “Herdeiro da Pampa Pobre”, de Vaine Darde e Gaúcho da Fronteira, com a participação especial de Humberto Gessinger, no ​Centro Histórico-Cultural Santa Casa​, em Porto Alegre, em maio de 2017. A canção, logo depois do seu primeiro lançamento, no álbum “Gaitaço” (1990), de Gaúcho da Fronteira, passou a ocupar um lugar de destaque no repertório tradicionalista gaúcho, recebeu também o reconhecimento do público rockeiro de todo o Brasil com a versão gravada pelos Engenheiros do Hawaii em seu álbum “Várias Variáveis” (1991). A versão apresentada neste vídeo é parte integrante do DVD “Rock de Galpão 10 Anos na Estrada” (2018). https://youtu.be/i4Go6Qf9wYU?t=93

O Estado deve garantir os serviços públicos e não privados. Se nós privatizarmos todos os serviços que são prestados ao cidadão, que autonomia o governo vai ter para garantir ao povo, que paga altos impostos, na retribuição de direitos?

Daqui a pouco não vamos ter mais razão de existir políticos, porque se não há serviço público, para que políticos? Estradas (privadas)? Energia (privada) Água (desejo de privatizar)? Petrolífera (desejo de privatizar tudo). Educação? (sucateada).

Para que serve o serviço público, se não é estar a serviço do povo? O que é um servidor público senão um agente para proteger a população?

O serviço público serve para garantir à população a devolução do que ele contribui. O serviço público não é prestado gratuitamente, ele é pago antecipado e, por isso, deve funcionar. O cidadão merece um bom tratamento. O Estado deve manter os serviços públicos e de boa qualidade.

Sobre o discurso similar ao que trouxemos no início desta reflexão, é absurdamente contraditório, porque é como se ele fosse gerado do ventre e quando sai (se elege) maltrata quem o gerou, como se o filho maltratasse a mãe.

Eu sou um linguista e me alimento com as palavras. O que seria eu sem as palavras, se eu as maltratasse? Uso as metáforas porque elas me permitem que o leitor entenda facilmente o sentindo que dou às palavras. Sabe aquela história “a raposa cuidar do galinheiro?” Conhece o ditado: “Cuspiu no prato que comeu?” Se assemelha com o servidor público que entra no serviço público e depois faz pouco caso dele.

Eu sou funcionário público passado em concurso e a meu ver devo cuidar e defender o público sempre. Sou educador e devo fazer de tudo dentro da função que desempenho, não desmoralizar.

O funcionário público que passa num concurso tem o dever de lutar para melhorar o que é público, ainda mais quem entra nesse setor com a responsabilidade de zelar pelo público, como o político, que se diz representante do povo. Ninguém está fazendo favor para a população. Na educação, que é a área, da qual conheço muito bem, somos bombeiros da vida. Bombeiros que salvam dos perigos. Bombeiros que alcançam a escada e ajudam a subir. Salvam vidas encaminhando para os melhores caminhos.

Enquanto funcionários públicos, devemos fazer sempre o que está no nosso alcance para que a população saia satisfeita. Não podemos ser paradoxais. Paradoxo contraria os princípios básicos e gerais que costumam orientar o pensamento humano, a crença ordinária e compartilhada pela maioria.

A própria palavra servidor significa aquele que serve. Se o cidadão paga imposto é o serviço público antecipado, deve receber um tratamento à altura. Esse é o princípio.

Autor: Laércio Fernandes dos Santos

Edição: Alex Rosset

1 COMENTÁRIO

  1. Verdade! O problema é que mudar a mente de muitos é mais difícil do que misturar óleo e vinagre. A consciência de conhecer e defender direitos e deveres é de todo cidadão, seja ele servidor público ou não, político ou não. Agora lembrei daquele desenho do Pateta em que ele tem uma personalidade sendo motorista e outra totalmente diversa sendo pedestre. Será que este desenho nos lembra algum servidor/político…?

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