Quando as diferenças já não fazem a menor diferença

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Aprendemos a voar como os pássaros e a nadar como os peixes, mas não aprendemos a conviver como irmãos.” (Martin Luther King)

Os discípulos estavam preocupados. Motivo? Alguém estava usando o nome de Jesus para fazer milagres. Ao contar a Jesus o que estava acontecendo, imaginaram que Ele daria um basta naquilo, exigindo que se respeitasse os direitos autorais de Sua mensagem. Mas para a surpresa deles, Jesus disse: “Não lhe proibais. Ninguém há que faça milagre em meu nome, e logo a seguir possa falar mal de mim, pois quem não é contra nós, é por nós” (Mc.9:39-40).

Jesus jamais exigiu royalties ou direitos autorais de suas obras ou mensagem. Ele queria que a mensagem fosse propagada.

Paulo também captou o mesmo espírito, e por isso, declarou: “Verdade é que também alguns pregam a Cristo por inveja e porfia (…) mas que importa? contanto que Cristo, de qualquer modo, seja anunciado, ou por pretexto ou de verdade, nisto me regozijo, sim, e me regozijarei” (Fp.1:15a,18).

A mensagem de Cristo não é monopólio de quem quer que seja.

Quanto as motivações, deixemos que Deus as julgue no momento certo. Por agora, o que importa é que a mensagem seja anunciada.

Não importa se em uma igreja protestante histórica, ou em uma paróquia católica, ou numa igreja neopentecostal, ou mesmo em um centro espiritualista ou numa mesquita. Verdade é verdade, não importa por quem esteja sendo anunciada. E quem ama a verdade, reconhece-a de cara, ainda que anunciada pelos lábios de um cético. Assim como podemos reconhecer a mentira, mesmo quando dita por aqueles que julgamos estar acima do bem e do mal.

Diferentes, mas nem tanto.

Em vez de realçarmos o que nos distingue, por que não realçamos o que temos em comum? Nem que para isso tenhamos que descobrir quais as ameaças ou inimigos que temos em comum. Talvez, assim, as diferenças já não façam tanta diferença.

Por exemplo: em um país muçulmano, não faz diferença se você é evangélico ou católico. Ambos se reconhecem mutuamente como cristãos.

Numa classe universitária na França, onde a maioria dos alunos se diz ateia, a diferença entre muçulmanos e cristãos perde a importância. O ateísmo pode ser visto como um “inimigo” comum para ambos os grupos, haja vista serem monoteístas.

E quando somos ameaçados por um inimigo comum a toda a humanidade? Quiçá, um inimigo externo?

Se fosse anunciado que um asteroide estivesse prestes a chocar-se com a Terra, pondo em risco a civilização humana, todas as diferenças religiosas, raciais, étnicas, culturais, perderiam totalmente sua relevância. Ateus, cristãos, espíritas, hindus, budistas, dariam as mãos num esforço coletivo para evitar a tragédia.

Pode ser que não estejamos ameaçados pela queda de um asteroide mas, certamente, há outras ameaças que nos assediam, e que demandam que nos unamos em um esforço comum para enfrentá-las. Entre elas, destacamos a violência urbana, o aquecimento global, as injustiças sociais, e por último, a crise financeira global.

Estaremos fadados ao fracasso, caso não nos disponhamos a deixar nossos guetos ideológicos e darmos as mãos.

Parafraseando Agostinho: “No essencial a unidade, no não essencial a liberdade, em tudo a caridade”.     

Autor: Hermes C. Fernandes

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