Professores e professoras nas Câmaras de Vereadores

1909

Se a educação sozinha não
transforma a sociedade,
sem ela tampouco a
sociedade muda.
(Paulo Freire)


Não vou declarar publicamente meu voto nestas eleições municipais. Um artigo ou crônica não servem para isso.

Vou declarar um conjunto de habilidades e qualidades que subsidiem a escolha dos votos para vereador, sob a ótica dos professores e professoras. Acredito que as reflexões podem colaborar para afirmar a crença na boa política, levada a sério na perspectiva do bem comum, como já aprendemos com os sábios gregos.

Estamos num momento do país em que a educação, novamente, é colocada na pauta política e, desta feita, não pode deixar de fora os principais protagonistas: os professores e as professoras.

Quem não gosta de política sempre é dirigido pelos que gostam dela.

Entendemos que realidade que envolve a educação no país e nos nossos municípios e, sobretudo, os professores e professoras, exige também a representação política a partir das Câmaras de Vereadores.

Chega dos professores e professoras viverem a alienação política. Chega de professores e professoras querendo a neutralidade política, até porque ela nem existe.

A democracia exige a superação da alienação política e o engajamento permanente de todos, sobretudo para dizer que a educação não é a solução para tudo e para todos, mas que, sem ela, nenhuma mudança social significativa acontecerá.

A democracia representativa tem sentido e legitimidade se estiver casada com a democracia participativa. Este “casamento” é a mudança que deveríamos fazer em nossas cidades, empoderando a comunidade também através de seus representantes eleitos.

Todos deveríamos gosto pela política porque a política é da nossa essência humana. Por que ela é decisiva para a promoção da nossa cidadania. Além de votar, deveríamos lutar para que se ampliem as formas de toda sociedade manifestar-se e decidir sobre os rumos de sua cidade, estado e nação.

Por falta de uma reflexão crítica e por medo de mudanças substantivas, uma grande maioria ainda decide pela continuidade, pela mesmice, pela manutenção do mínimo que sempre se apresenta como o máximo do que é possível fazer.

Muitos professores e professoras ainda não votam em candidatos professores por não entenderem a importância de estarem representados no legislativo municipal.


Adotemos um vereador professor

Adotemos um vereador professor em nossa cidade, votando em candidatos e candidatas professores e professoras nesta eleição.

Milton Jung, gaúcho radicado em São Paulo, junto com amigos, tem uma proposta interessante de aproximação com os vereadores. Chama-se “Adote um vereador”. Um vereador é o agente político mais próximo da vida da gente. Deveríamos, sim, acompanhá-lo, cobrá-lo, sugerir pautas, convocar reuniões para esclarecimentos de suas posições. Deveríamos, ainda, cobrar que a participação da comunidade seja mais efetiva na vida da Câmara de Vereadores, com espaços de escuta e reivindicação permanentes, para que não nos iludamos com o slogan “o poder da comunidade”.

Professores vereadores ou vereadoras bem qualificados cumprem com função política de mostrar à sociedade saídas para a sua realidade, a partir da educação. Vereadores professores ou professoras qualificam o debate público dos problemas das cidades, pois os professores de escolas públicas estão imersos e envolvidos com a dura realidade da maioria da população.

Os professores e professoras da rede pública estão vinculados às suas comunidades, o que permite que as suas demandas possam tê-los como porta-vozes.

Espera-se, também, que os vereadores professores exerçam mandatos participativos, que abram os seus gabinetes para acolher e encaminhar as demandas do magistério, que se somem às lutas e exerçam liderança e pressão junto ao executivo por melhorias na educação municipal. Que tenham atitudes que corroboram com a esperança e o exercício na verdadeira política. Que sejam éticos e coerentes com os propósitos e as expectativas de quem os elegeu.

Sofia Cavedon, professora municipal de Porto Alegre, ex-vereadora, ex-secretária municipal de educação e deputada estadual é um exemplo desta construção aqui referida. Sua atuação política e cidadã demonstra que, ocupando espaços políticos, os professores e professoras, através de mandatos parlamentares, podem contribuir para a elaboração de políticas educacionais, para a defesa da educação pública de qualidade e para o resgate da dignidade na profissão docente. Leia mais clicando aqui.

Cavedon lembrou, recentemente, que as lutas pela educação exigem “… compromisso absoluto com a recuperação da dignidade da profissão de professor, de professora, de sua valorização e autonomia pedagógica, de seu salário e condições de trabalho. Renovo a convocação para fazermos uma escola cidadã, que construa homens e mulheres democráticos, igualitários e justos!”

Recolocar a educação, a valorização da dignidade docente e a função social da escola pode ficar um pouco mais fácil a partir de mandatos parlamentares de professores em todas as Câmaras de Vereadores do Brasil.

Não tenhamos medo e nem vergonha de fazer política a partir da educação, da responsabilidade e da justiça social. Nossa responsabilidade pessoal é a de sermos bons profissionais, bons professores e professoras. Nossa responsabilidade coletiva exige posicionamentos de categoria e de representação social. Ou deixaremos, mais uma vez, para os outros, a defesa dos professores, da escola e da nossa dignidade? O desafio está posto! Sejamos sábios!

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