Mulher professora na política. Por quê?

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Sofia Cavedon nasceu numa
cidade da Serra Gaúcha: Veranópolis.
Foi estudar em Porto Alegre e lá fixou residência,
exerceu sua profissão de professora e atua na política, em defesa da
educação pública de qualidade, da cultura, do esporte e da democracia,
dentre outras bandeiras de sua atuação.

Na sua trajetória política, foi dirigente do Sindicato dos Servidores Municipais de Porto Alegre e, em função de sua atuação e liderança, desafiada pelos colegas a representar a sua categoria de professores na Câmara de Vereadores de Porto Alegre por cinco mandatos e agora assumiu como deputada estadual.

Sofia Cavedon é Destaque na Educação neste site justamente por demonstrar a importância dos professores e professoras na política. Sua atuação política e cidadã demonstra que, ocupando espaços políticos, os professores e professoras, através de mandatos parlamentares, podem contribuir para a elaboração de políticas educacionais, para a defesa da educação pública de qualidade e para o resgate da dignidade na profissão docente.

Sofia é reconhecida por seus pares como uma liderança forte, convicta e batalhadora. Conheçamos mais dela por ela mesma.

NEI ALBERTO PIES: Nasceste no interior do estado, numa cidade da serra gaúcha e atuas e vives hoje na Capital do RS, Porto Alegre. Como, quando e porque o seu interesse pela educação e pela política?

A educação constituiu minha família e utopias originárias. A mãe formou-se professora primária e isso abriu a porta da autonomia e liberdade para ela que desde criança trabalhava em casa de família. Ensinou para seus cinco filhos que educação era tudo na vida. Não conseguiu fazer faculdade e. mesmo só com vinte horas de contrato e meu pai operário serralheiro, ela afirmava que seus filhos fariam e não sossegou até que isso acontecesse.

Eu me criei inquieta como ela, no meio de cadernos e livros, rezas e trabalho. A política era proibida no interior.

Como nasci em 63, fomos educados e disciplinados para a obediência e pelo medo. Desperto para as injustiças e para a solidariedade no grupo de jovens da igreja, mas isso se tornará engajamento político na faculdade e no trabalho de professora já em Porto Alegre. 

NEI ALBERTO PIES: Sua trajetória de estudante, líder sindical, vereadora e agora deputada estadual. Qual é a motivação deste seu trabalho na política?

Fui fazer educação física na UFRGS cujo vestibular era uma epopéia para nós lá no interior! Foi um divisor de águas na minha vida pela experiência da casa de estudante – CEURGS -, pela efervescência cultural da capital e pelo trabalho de professora que começou no Colégio Sevigné onde estudamos os pensadores construtivistas e a metodologia de Projetos, inovadores na época.

Os concursos para a Rede Municipal e depois para a Estadual de Ensino – conquistas da redemocratização – abriram as portas para a carreira pública e aí eu comecei a militar pela educação de qualidade para todos e todas, a discutir os projetos de mundo que estavam em disputa nas primeiras eleições diretas, me filiei ao Partido dos Trabalhadores e das Trabalhadoras e assumi a liderança sindical.   

NEI ALBERTO PIES: Como o seu trabalho de militância ligado à juventude, aos grupos e coletivos de jovens, mulheres e trabalhadores vem colaborando com sua trajetória de professora, liderança sindical, vereadora e agora deputada estadual?

Minha militância começou de fato com o exercício da docência na periferia da cidade discutindo a redemocratização da educação, transformando a prática pedagógica que era autoritária, excludente e seletiva, advinda da ditadura militar.

A Educação Física me deu um lugar alargado de coordenação de atividades gerais da escola municipal Ildo Meneguetti, de muita relação comunitária e afetiva com os e as estudantes. Também fui alfabetizadora e regente de classe de segundo e quarto anos.

Quando passei pela gestão da Secretaria Municipal de Educação como Secretária, penso que consegui manter o mesmo compromisso que me mobilizou e que pelos quais muitos mobilizei na luta sindical e nas salas de aula a valorização dos e das profissionais da educação, a construção de uma educação inclusiva, democrática, de qualidade para cada um e cada uma das estudantes.

NEI ALBERTO PIES: Na sua visão, qual é a importância das mulheres professoras na política sindical e educacional?

As mulheres estarem nos espaços públicos e profissionais é em si um processo revolucionário. A acumulação capitalista as pressupõe no trabalho gratuito de reprodução da vida. Por isso no Rio grande do Sul temos mais de 300 mil mulheres no trabalho doméstico e somente cerca de 90 mil tem carteira assinada, por exemplo.

Acumulamos essas funções quando fomos para o trabalho fora do lar e também por isso as categorias onde majoritariamente trabalham as mulheres são com menor remuneração como a das professoras.

Tomar consciência disso e fazer as rupturas necessárias desde a produção cultural dos meninos e das meninas até a construção das políticas afirmativas reparadoras da desigualdade, é nossa tarefa política primordial se queremos alterar a vida das mulheres e da sociedade desigual.

NEI ALBERTO PIES: Quais são, hoje, os maiores desafios da profissão docente?

Compreender que a defesa de sua profissionalização digna e da realização do seu objeto de trabalho depende da luta geral de todos os trabalhadores na defesa do valor do trabalho, dos valores da vida diante da mercantilização, da financeirização da economia, da concentração de privilégios, terras e renda que se impõem pela violência e pelo pensamento único dominado através das mídias empresariais. A educação para esses será pobre, alienadora e excludente. Os professores desvalorizados e aplicadores de conteúdos gerados por empresas.

Nosso desafio é sermos construtores de nossa valorização junto com a melhor educação para os filhos e filhas dos trabalhadores e trabalhadoras.

NEI ALBERTO PIES: Quais são, hoje, os maiores desafios da escola pública de qualidade social (que interessa a todos os envolvidos nela: estudantes, professores, professoras, pais e mães)?

De duas ordens: disputar o financiamento de uma educação como direito de todos e todas e defender a educação integral, democrática, humanizadora e produtora de sujeitos de pensamento livre.

Esse financiamento que os defensores do Estado Mínimo dizem que é impossível, está na riqueza do Pré-Sal, está nos impostos que o lucro financeiro não paga e buscar isso na mudança da correlação de forças nas ruas, na organização social, comunitária, sindical e popular.  

NEI ALBERTO PIES: Qual a importância da atuação e organização dos sindicatos de professores neste momento histórico do país e da educação em nossa cidade?

Trata-se nesse momento de defender um país de direitos sociais e políticos que a geração anterior à nossa buscou com suas vidas na redemocratização do Brasil, que escrevemos na Constituição de 88 e que está severamente ameaçado.

A luta na defesa da Previdência significa defender todo a Seguridade Social dos brasileiros e brasileiras com sua universalidade e solidariedade geracional. Estão em risco o Sistema de Previdência Social que poderá se tornar um seguro individual e miserável, o Sistema Único de Saúde e o Sistema Único de Assistência Social que serão desconstitucionalizados se passar essa reforma, que na verdade é uma destruição! 

NEI ALBERTO PIES: Como o seu mandato de Deputada Estadual está direcionando pautas e ações em defesa da escola pública no Rio Grande do Sul?

Com muita honra e alegria, a partir da articulação de toda a bancada do PT na Assembleia Legislativa, eu estou presidindo por dois anos a Comissão de Educação, Cultura, Desporto, Ciência e Tecnologia e estou dedicando a esse espaço institucional toda a força política para dar voz aos educadores e educadoras, para as comunidades escolares, aprofundando o debate e exigindo respeito e investimento na área.

Desde fevereiro já pautamos em audiências públicas a falta de Recursos Humanos, o tema das obras escolares, a defesa das bibliotecas, a escola de tempo integral, a educação indígena escolarizada, a UERGS- nossa Universidade Estadual do Rio Grande do Sul -, a violência nas escolas. Todos os temas têm desdobramentos para a busca de soluções. Logo lançaremos um Observatório da Educação com números e dados que nos ajudarão muito a caminhar, lançaremos a Mostra das Boas Práticas Pedagógicas e faremos um grande Seminário no mês de outubro. 

NEI ALBERTO PIES: Uma frase pela qual valha a pena viver.

Se a vida é assim injusta, violenta e desigual é porque foi produzida por homens e mulheres, não é natural nem inexorável. Outro Mundo é possível, vamos fazê-lo!

NEI ALBERTO PIES: Uma frase que defina Sofia Cavedon.

Uma inquieta professora que ama a vida e as possibilidades de transformá-la.

NEI ALBERTO PIES: Uma frase pela qual valha a luta pela educação.

A educação não muda o mundo, ela muda as pessoas que podem transformá-lo. É do mestre Paulo Freire

NEI ALBERTO PIES: Uma mensagem a todos os professores e professoras do RS e do Brasil.

Coragem!



Fotos: Divulgação/Arquivo pessoal

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