O Cristo, este ano, não sai?

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Quem contou essa história,
que o Cristo este ano não sai?
Se Ele está vestido de branco,
de azul, ou verde,  no hospital?

Quem disse que o Nazareno
não pode fazer penitência?
Se todos estão atendendo
doentes nas emergências?

Quem diz que ninguém
há de encontrar Jesus caído?
Veja-o nem cada médico
caindo exausto, rendido.

São humildes Cirineus
ajudando a cada passo:
socorristas, enfermeiras,
sem descanso, lado a lado.

Como em Jerusalém, em um jumento
entrou o Cristo montado.
Assim os caminhoneiros, noites e noites acordados,
abastecem hospitais, farmácias, supermercados.

O exército e a polícia
patrulham as desertas ruas.
Cuidam das nossas famílias
ficando longe das suas.

E eis que, também no campo,
Jesus semeia a terra, prostrado.
Cuida torres de energia, cava poços,
do mar nos  traz o pescado,
colhe hortaliças e pastoreia o gado.

Que ninguém diga que o Senhor
não está  nas ruas presente.
Quando, em igrejas solitárias,
os padres celebram missa diariamente.

Que ninguém diga este ano,
“às ruas não sairá o Crucificado”.
Enquanto há uma voz serena
falando com  encarcerados.

Ninguém fale que o Nazareno
“este ano não sairá em procissão”,
enquanto há vidas tão plenas
de amor em seu coração.

Com bom humor e sorrisos,
embora, o olhar fatigado,
é Jesus quem nos atende nos caixas
das farmácias e mercados.

Num caminhão, todo dia,
de verde e branco pintado,
Jesus recolhe o nosso lixo
e vai embora sem ser notado.

Quando vejo tanta gente
enterrando seus queridos, sem receber um abraço.
Nossa Senhora da Piedade também sai
das favelas com seu filho nos braços.

E embora nos assuste
esse isolamento sepulcral.
Na solidão, está a fortaleza
daquele que venceu todo mal.

Talvez, não será em imagens esculpidas,
queJesus virá em procissão.
Mas estará em mil faces, sem velas ou soar de sinos,
homenageado com o incenso de pessoas de bom coração.

O amor derruba os muros,
corações não têm fronteiras.
Esta será a Semana mais Santa,
de todas, a mais verdadeira.

Versão musicada por Pablo Morenno.




Poema do Arcebispo de Lima e Primaz do Perú Monseñor Carlos Castillo Mattasoglio.Tradução e adaptação de Pablo Morenno.

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