Independência?

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Acredite na democracia e acredite no seu poder das tuas escolhas. É ela o único meio que temos para promover a verdadeira mudança, a verdadeira independência, que, no fundo, deve partir e ser refletida por cada um de nós.

Estado de não se achar sob domínio ou influência estranha. Autonomia [1]. Depender, assim como o francês dèpendre, proveio do latim dependere, formado de de-, “para baixo” e pendere, “pender, estar pendurado”. Portanto, “depender” é literalmente “pender para baixo, estar pendurado (em algo ou alguém)” [2]. Já o prefixo IN acaba atribuindo ao termo uma posição contrária, ou seja, aquilo que não depende de algo ou alguém, apresentando, portanto, uma certa ideia de liberdade.

No dia 9 de janeiro de 1822, Dom Pedro I decide acatar o clamor da população, proclamando a célebre frase “se é para o bem de todos e a felicidade geral da nação, diga ao povo que fico”. Alguns meses depois, às margens do Rio Ipiranga, no dia 7 de setembro de 1822, trajado a carácter de si — como um príncipe — montado em um belo cavalo, ele inclina a sua espada aos céus e dá voz a sua alma: “Independência ou Mooooorte”! O que aconteceu depois ninguém sabe… (brincadeira, há indícios que guerras eclodiram em algumas partes do Brasil).

A verdade é que, graças a uma sucessão de fatos, sendo eles os mais realistas ou mitológicos possíveis, hoje somos um país independente. E, ao observar as histórias concernentes às independências, podemos avaliar que, na grande maioria delas, a sua semente germina por meio de um acúmulo de mal-estar coletivo que seguidamente se relaciona às formas de exploração e desrespeito.

A impressão que tenho é que possuímos um anseio, quase que inerente ao humano, por igualdade de direitos e em dignidade, que afronta qualquer tipo de contradição a esses preceitos. Quando reconhecemos isso, alimentamos uma repulsa pelo status quo, que incentiva a mudança, mesmo a alto preço.

Eu olho para a história e fico admirada com a infinidade de pessoas que colocaram a própria vida em risco, superando seus maiores medos em prol de um ideal, ou melhor, em prol daquilo que consideravam ser a justiça e isso se traduz por independência ou morte.

Eu olho para o presente e reconheço esse mesmo espírito, que ainda vive em cada um de nós, brasileiros, e clama pelos mesmos princípios. Nos sentimos seguidamente explorados e injustiçados pela máquina pública, que consome a nossa energia (tempo e dinheiro) para financiar escândalos e a falta de ética. Não confiamos na política, mas é a política quem nos governa. Como podemos viver assim?

Fomos abrigo para muitos imigrantes. Nossas terras férteis salvaram diversas pessoas que abandonaram o Velho Mundo com a esperança de dias melhores, a mesma esperança que ainda pulsa no coração dos brasileiros. Foi 199 anos de “independência”. De famílias que literalmente partiram do zero e ajudaram a construir uma nação repleta de cor, cultura e sabor.

Graças a essa receptividade, é que somos gigantes pela própria natureza, não só a ambiental, mas também humana: que abrange o mundo inteiro e resulta no ser brasileiro. Eu sei, nem só de flores são compostos os nossos campos — tem muito agrotóxico por aqui também!

E, quando tudo parece perdido, ainda mais em função da nossa desestrutura política, eu penso: calma! “Ainda somos jovens” ♪ como nação e a evolução moral se constrói com base nos nossos erros, ou melhor, com base naquilo que aprendemos com eles. E, com isso, muitas vezes precisamos de tempo, acontecimentos, e o principal, discernimento.

Outrossim, é válido alertar que a evolução moral não acontece quando temos fome ou quando não conseguimos o mínimo para sobreviver, nesses casos, na imensa maioria das vezes, o que rege é o instinto de sobrevivência. Só após preenchidas as nossas necessidades primitivas é que conseguiremos nos aprofundar em nossos valores e nas estruturas que nos fundamentamos para gerir o meio social.

Com base nisso, observa-se a importância de capacitar os brasileiros para serem autônomos. Em um primeiro momento, emocionalmente e financeiramente, em um prazo mais distante, intelectualmente. Para que a nossa ajuda sirva para ajudar a quem precisa a não precisar mais de nossa ajuda.

O maior desafio aqui, é justamente, ensinar a pescar, pois, considero não haver nada mais digno para um ser humano que não depender de alguém ou de algo para gerir a sua própria vida e isso se traduz pela verdadeira independência.

Em matéria de Brasil, eu continuo a olhar com esperança para o futuro, reconhecendo e me relembrando constantemente de que uma evolução moral é lenta e gradual. Faço um esforço para identificar, a cada pequeno gesto ou ação os princípios que estão nos fortalecendo e nos unindo como um povo. Assim eu não sucumbo, assim eu me alimento.

E com base nessas ínfimas observações, eu afirmo: a evolução moral está acontecendo. E a prova disso, é o que os seus ancestrais foram e o que você é, e o quanto o que eles construíram ainda têm lhe dado suporte, para que você sane as suas necessidades básicas, e tenha espaço para investir na sua formação, tenha tempo para ler um texto reflexivo como este e cognição suficiente para interpretá-lo, argumentar e até mesmo discordar.

Outro indicativo de tal evolução é a ascensão da Filosofia, aqui no Brasil, e com ela a descoberta de que nem só de exatas vive o homem e muito menos uma sociedade (já alertava o hino rio-grandense: povo que não tem virtude acaba por ser escravo!).

Estamos nos dando conta de que o PIB não se traduz por felicidade da nação e de que o dinheiro nunca comprará os nossos valores. Sentimo-nos exauridos com o sistema de barganha que contamina e degrada o nosso primeiro e fundamental ideal, aquele que Dom Pedro I instaurou a 199 anos: “se é para o bem de todos e a felicidade geral da nação”.

Onde então a felicidade pode ser encontrada? Na prática daquelas coisas que a natureza do homem exige. Como então ele fará tais coisas? Com seus dogmas, ou princípios morais e opiniões (dos quais todos os movimentos às ações se originam) sendo corretos e verdadeiros. Quais são tais dogmas? Aqueles que se relacionam ao que é bom ou mau, visto que não há nada verdadeiramente bom e benéfico para o homem além daquilo que o torna justo, temperante, corajoso, liberal. E não há nada verdadeiramente mau e prejudicial ao homem senão aquilo que causa os efeitos contrários (Marco Aurélio, demonstrando que a Filosofia é atemporal e muito úteis para os tempos atuais).

Diante do exposto até aqui, eu lhe aconselho: recupere a consciência de que o Político deve ser aquele que tem o ideal de justiça. Desmistifica a ideia de que eles são de outra espécie, distantes de nossas realidades e de nossas necessidades.

Aproxime-se da política, e escolhe, com cautela, os seus representantes; educa a população. Acredite na democracia e acredite no seu poder de escolha. É ela o único meio que temos para promover a verdadeira mudança, a verdadeira independência, que, no fundo, deve partir e ser refletida por cada um de nós.

Fontes:

[1] Dicionário Online Priberam https://dicionario.priberam.org/

[2] Etimologia https://diariodeumlinguista.com/2020/09/07/no-dia-da-independencia-a-origem-da-palavra/

Autora: Ana P. Scheffer

[3] Meditações: o diário do Imperador Estoico Marco Aurélio. Tradução de Willians Glauber. — São Paulo: Citadel, 2021. P. 107–108.

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