Expectativas e Perspectivas

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Ao refletirmos sobre expectativas e perspectivas precisamos circundar os conceitos.

As expectativas se apresentam em um cotidiano contínuo, como parte das nossas intenções e necessidades. Fazem parte da nossa condição humana. Somos seres de desejos, desejantes e desejados. Nossa vontade, escolhas e circunstâncias condicionam nossas ações e alimentam nossas expectativas.

As perspectivas, em uma outra dinâmica, abrem horizontes ou, estreitam caminhos, com base nas contingências, uma vez que nem tudo se realiza conforme nossa vontade e desejos, porque nem todos os nossos projetos dependem exclusivamente de nós.

Essa dinâmica, experimentada em nossa condição humana, é substantiva e necessária na vivência de todos os momentos, ressignificando acordos que fizemos conosco mesmos. Tudo isso desenha novas expectativas e perspectivas.

Se somos sujeitos de desejos, expectativas e perspectivas, somos seres em movimento de pensamento e de ação. Desse modo, podemos agir compreensivamente com a outras pessoas, em situações de cuidado e acolhida.

De uma forma ou de outra, partilhamos os mesmos limites existenciais, como as formas de alegria e de tristeza, que podem ter motivos diferentes, ainda que a experiência desses sentimentos afete a todos os humanos, no tempo de suas vidas.

Diante disso, delineiam-se expectativas e perspectivas de avanços em vários aspectos de nossa história de vida. Se forem realizadas, nos sentiremos agraciados, se ocorrer o contrário, o sentimento de frustração aparece, diante da reversão do esperado.

Ortega y Gasset tem uma frase lapidar: Eu sou eu e as minhas circunstâncias. Ou seja: as esferas da vida, nas quais estamos envolvidos, evidenciam nossas escolhas, condicionadas às circunstâncias. Não se trata de nenhuma espécie de determinismo, mas revela os limites da nossa condição humana. Tais circunstâncias influenciam nossas expectativas e perspectivas, que orientam nossos projetos. Redefine-se a consigna de Hegel, de que tudo está ligado a tudo, na totalidade do processo da história humana.

Diante de tais evidências, nossas expectativas e perspectivas necessitam de uma certa dose de bom senso, para que as frustrações não aumentem. Afinal, não buscamos a felicidade absoluta. A busca humana é de uma felicidade possível e de uma serenidade inteligente, como desafio do tempo em que vivemos.

Em uma longa jornada, nas continuadas décadas vividas, entre mudanças de costumes e fatos diversos, os que vivem há mais tempo apresentam alguma dificuldade a respeito da continuidade da própria vida e dos que com eles convivem. As dificuldades surgem desde os monitoramentos diários da saúde até o acompanhamento das novas tecnologias, tal como a identificada IA, inteligência artificial.

Podemos ter uma certa reserva com essa denominação, porque se formos à origem do termo latino intus legere – ler dentro, compreender a realidade por dentro, podemos observar que se a IA não for alimentada pelo cérebro humano, não fará leitura nenhuma do real. Logo, a IA necessita da inteligência natural para ser eficaz. Desse modo, torna-se importante entendermos as coisas do tamanho que elas são, sem superdimensionamentos.

Enfim, digressões à parte, falemos de expectativas e perspectivas.

Os idosos, no movimento do saber e do envelhecer se envolvem mais com expectativas do que perspectivas. Adultos, jovens, crianças vivem simultaneamente as duas dimensões, esperam e projetam desejos, sonhos, futuros indecifráveis. Isso não significa dizer que os idosos não sonham e não têm projetos. Apenas, sublinhar que o tempo deles é menor para viver, face ao já vivido.

Trata-se de observar que, na velhice, as perspectivas se estreitam e as expectativas nem sempre se realizam. Desencontros ocorrem. Há vários fatores inesperados que produzem reversão de expectativas.

Expectativa diz respeito a um tempo de espera, que pode ser associada à dimensão de esperança, de promessa, de probabilidade. Perspectiva dimensiona novos cenários e novos alinhamentos. Refere-se a pontos de vista, desenvolvimento e crescimento. Alargam-se espaços.

Ao refletirmos sobre expectativas e perspectivas precisamos circundar os conceitos. Na experiência da vida prática, em que a retórica ocupa um lugar menor, podemos alinhar expectativa relacionada às questões singulares, ocasionais, sejam traduzidas em acontecimentos, ou em comportamentos advindos de pessoas, concretamente. A perspectiva tem um grau de amplitude, no horizonte do tempo, modulando-se em várias dobras, que se desenrolam à medida em que se realizam.

Ambas estão presentes em nossas vidas.

Autora: Cecilia Pires. Também publicou no site Direitos humanos: porque são imprescindíveis: https://www.neipies.com/direitos-humanos-porque-sao-imprescindiveis/

Edição: A. R.

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