O pensar da criança

1996
A group of primary schoolers lying on the ground and smiling

A criança constrói signos que se tornam o primeiro referencial compreensivo de sua subjetividade. Daí a necessidade de lhe ser oferecido compreensões de cuidado com seu corpo, como algo que a liga ao mundo e sensibilizá-la a cuidar dos demais seres da natureza.

Filosofar começa com questões. Importa mais as perguntas do que as respostas. Estas são provisórias. Em se tratando do pensar da criança, seu envolvimento com o pensamento lógico, interessa-nos referir o estímulo que o pensamento crítico pode realizar no imaginário infantil.

Configuramos nossa análise na importância do ato de pensar, como um ato humano, peculiar, identificador da espécie humana da qual a criança faz parte. O exercício de sua racionalidade tem etapas de maturação e desenvolvimento, mas está lá, em potência, desde seu início. Importante é criar condições para que suas potencialidades se desenvolvam. A filosofia pode abrir esse espaço, dada seu carisma reflexivo.

As crianças são capazes de pensar, de escolher, de perceber incoerências, de compreender argumentos, de buscar razões com seus porquês, de refletir sobre as verdades afirmadas pelos adultos. Porque a criança é livre, é aberta ao saber, é atenta ao novo. Não falamos de sistemas e programas escolares para as crianças. Falamos de crianças e saberes, de crianças e perguntas, de crianças e caminhos, de crianças e liberdade.

A primeira percepção da criança é o próprio corpo, a sua forma de estar no mundo como um corpo, que ocupa um lugar, que precisa ser cuidado, acolhido, respeitado pelos adultos.  Cabe-lhes mostrar à criança a necessidade de ela se entender como um corpo que fala, que sente, que toca objetos, que ocupa um espaço, que tem um movimento.

Ressaltamos o significado desses procedimentos imprescindíveis com as crianças, para que elas tenham uma vida de liberdade, segurança e afeto, experiências que elas conhecem e vivem, a partir do universo dos adultos com os quais convivem. A subjetividade infantil capta todas essas circunstâncias e a partir delas constrói sua percepção de vivências afirmativas ou negativas, que servirão de subsídios para seus caminhos futuros.

Tomamos a categoria corpo como uma das chaves conceituais para pensar com a criança e estimulá-la a identificar o mundo, tendo o corpo como um critério perceptivo. Esse corpo olha. O olhar é a dimensão do corpo que capta o sentido, que percebe o objeto, que introduz no campo perceptivo a vivência do mundo.

Há uma situação comum a todos: somos um corpo e esta condição nos torna próximos uns dos outros. Estabelecemos vértices de abertura do mundo. A nossa corporeidade cria aberturas para o mundo e o nosso corpo-consciência capta relações diversas, conforme se situa no mundo. Essa subjetividade corporal, própria de nossa humanidade está situada numa espacialidade e numa temporalidade histéricas.

Essas percepções são muito intensas no imaginário infantil. Eis uma razão fundamental para que a criança seja estimulada a pensar e sentir-se amada, pelas experiências de acolhida e cuidado.

A criança constrói signos que se tornam o primeiro referencial compreensivo de sua subjetividade.

Daí a necessidade de lhe ser oferecido compreensões de cuidado com seu corpo, como algo que a liga ao mundo e sensibilizá-la a cuidar dos demais seres da natureza. E ela tem direito de viver num ambiente de liberdade e tranquilidade, em que os adultos sejam responsáveis por sua dignidade, sem violações de qualquer espécie.

Cabe ressaltar que entender a criança como uma subjetividade que pensa, que fala, que escolhe, torna mais efetiva a identificação entre o pensar e o agir, com fundamento nos direitos que os humanos construíram para tornar o convívio possível.

Ao comemorarem o seu dia, que as crianças possam receber a gratuidade da nossa acolhida.

Autora: Cecilia Pires, autora da crônica “Sobre o amor”: https://www.neipies.com/sobre-o-amor/

Edição: A. R.

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