Ensinamentos do coronavírus

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De agora, até a próxima eleição, teremos oportunidade de identificar pessoas comprometidas com a manutenção e produção da vida, onde tecnologia e políticas públicas estejam a serviço do bem estar de todos; alimentação, moradia e saúde tenham prioridade em relação ao acúmulo material e financeiro da produtividade.

Estado forte? Políticas públicas?  Sistema de saúde público? Sistema público de acesso a moradia? Os grupos políticos que administram o nosso país, seja em nível federal, estadual ou municipal, apesar das diferenças entre si, defendiam que o importante é ter polícia, armas e militares no comando do poder.

Ocorre que, de repente, surge um ser imaterial que ameaça, indistintamente a vida, então o estado e seus gestores passam serem responsabilizados.  Nós, brasileiros e brasileiras, precisamos aprender com os impactos deste vírus, visto que a produtividade e as armas não são garantias para assegurar nossa vida.




Em outro artigo, já abordei que “o vírus é um inimigo imaterial, que exige aumento dos cuidados com a principal ferramenta que nos foi disponibilizada que é o nosso próprio corpo, bem como dos cuidados com os outros, visto que o aumento da contaminação social aumenta o risco de morte de pessoas próximas que temos o dever de proteger”.



Um dos primeiros ensinamentos gira em torno do tema da economia. Desde a idade antiga, quando o ser humano começou a cuidar da própria sobrevivência, a busca por segurança material, associada com a garantia do básico para sobrevir, incluindo a alimentação e a moradia, se apresentaram como componentes centrais para a economia.

O desenvolvimento da tecnologia, das últimas décadas possibilitou a produção de uma quantidade enorme, com centenas de milhares de toneladas de alimentos e unidades habitacionais excedentes, que poderiam atender, além das necessidades da totalidade de pessoas existentes no planeta terra.

Este excesso de produção industrial e de produtividade individual, subordinada pela dimensão egoísta, do individualismo extremado, já estava colocando em riscos saúde e a sobrevivência individualizada e agora coloca em risco a sobrevivência da vida humana no planeta terra.




“A prevalente suposição de que o sistema econômico poderia atingir um ´ótimo´ sempre ignorou a união entre os sistemas econômicos e bióticos, além de desdenhar a existência de limites naturais. Nos modelos econômicos convencionais, os fatores que devem ser maximizados são utilidades individuais e não as necessidades de um sistema biótico”. (Marcus Eduardo de Oliveira)




Em nome da suposta liberdade individual, o “livre mercado” passou a instrumentalizar e sugar ao máximo todos os recursos naturais disponibilizados pela grande ser vivo que conhecemos como planeta terra. A produção de alimentos, tão necessária para assegurar a sobrevivência humana, deixou de ser orientada pelo seu princípio essencial que é de manter o ser humano saudável e passou a ser orientada pelo acúmulo material e pelo lucro. As tecnologias de produção de moradias, com possibilidade de produção de habitações seguras para todas as pessoas é inviabilizada pela ganância do mercado imobiliário.

O Covid 19 se apresenta como uma possibilidade para esclarecer a falsa e superficial polêmica criada pelos defensores da produtividade. Durante décadas fomos levados a crer que o sistema econômico do “livre mercado” era a melhor ou única alternativa para organizar a vida em sociedade.

Em 2020, estamos diante de uma oportunidade revolucionária de redirecionamento, no modo de organizar o uso da tecnologia e da produção, neste grande sistema vivo, interligado e interdependente que conhecemos como planeta terra.

De agora, até a próxima eleição, teremos oportunidade de identificar pessoas comprometidas com a manutenção e produção da vida, na qual a tecnologia e as políticas públicas estejam a serviço do bem estar de todos, na qual a alimentação, a moradia e saúde tenham prioridade em relação ao acúmulo material e financeiro da produtividade.

Professor universitário e da rede pública estadual.

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