É necessário virar o jogo

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Assim como a problemática ambiental coloca em xeque os próprios fundamentos da ciência econômica, a reformulação necessária da economia produtiva precisa ocorrer sob a perspectiva.

Em “Desenvolvimento Sustentável – O Desafio do Século XXI”, José Eli da Veiga assevera em tom de crítica que “o modelo de pensamento dominante na ciência econômica sempre foi mecânico e fascinado pela ideia de equilíbrio.

A prevalente suposição de que o sistema econômico poderia atingir um ´ótimo´ sempre ignorou a união entre os sistemas econômicos e bióticos, além de desdenhar a existência de limites naturais. Nos modelos econômicos convencionais, os fatores que devem ser maximizados são utilidades individuais e não as necessidades de um sistema biótico”.

Pois bem. É justamente por conceber um tipo de economia desse jeito, voltado às ordens do mercado para satisfazer utilidades individuais – daí a veemente defesa de políticas de crescimento expansivo, alheio aos imperativos ecológicos, completamente deixados à margem pela economia convencional – que a crise ecológica se agrava.

O ponto central é esse: não se pode imaginar uma economia sem a interação com o meio ambiente, como se a atividade de produção econômica ocorresse dentro de uma caixa fechada, sem a introdução de energia e matéria. Pensar a atividade econômica sem relação com a causa ambiental é tão estapafúrdio que Nicholas Georgescu-Rogen, o mais célebre pensador da economia sob as bases da termodinâmica, certa vez disse o seguinte: imaginar uma economia sem recursos naturais é simplesmente ignorar a diferença entre o mundo real e o Jardim do Éden.

Ora, enquanto o principal esteio da análise econômica continuar sendo a busca incessante pelo crescimento, parece certo afirmar que iremos assistir, cada vez mais, a destruição da diversidade biológica e ecológica. Enquanto esse modelo de produção global prevalecer, permaneceremos afastados de qualquer política que vise alcançar a sustentabilidade, valor de equilíbrio tão necessário ao mundo de hoje.

É curioso notar que, assim como a problemática ambiental coloca em xeque os próprios fundamentos da ciência econômica, a reformulação necessária da economia produtiva precisa ocorrer sob a perspectiva de que, se não for respeitada a condição ecológica (evitando ultrapassar seus limites), simplesmente, no tempo futuro, não haverá mais economia – atividade econômica.

Até hoje, todas as escolas econômicas têm resistido a reconhecer um valor na natureza em si, e, como apropriadamente escreve Cristovam Buarque (em “A Desordem do Progresso”), essas escolas “têm sido impotentes para administrar o longo prazo no qual os resultados do impacto ecológico se manifestam com clareza”.

Certo mesmo, e não tenhamos dúvida disso, é que já passou da hora de virar esse jogo.



“O resultado? Simples assim: à medida que a política do crescimento – quando emerge entre nós – consolida o mercado de consumo, a economia global segue “engolindo” os recursos naturais e os ecossistemas, piorando desse modo as condições de vida das populações”.  Leia mais:
Economista, ativista ambiental e Mestre em Integração da América Latina pelo Programa de Pós-Graduação Integração da América Latina (PROLAM), da Universidade de São Paulo (USP). Autor de Economia destrutiva (CRV, 2017) e Civilização em desajuste com os limites planetários (CRV, 2018). prof.marcuseduardo@bol.com.br

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