O coronavírus e a verdadeira guerra

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O mundo está sendo impactado por um ser imaterial
que obriga as instituições do estado a repensar as
políticas de austeridade fiscal, para implementar
políticas sociais de renda básica universal e de
altos investimentos públicos para os
cuidados com a saúde de todos.


O discurso, o comportamento, e as ações para combater o corona vírus, um ser imaterial que está ameaçando a humanidade, escondem a verdadeira guerra entre o pensamento individualista/ultra liberal e o pensamento coletivo/social/ sistêmico.

A modernidade antropocêntrica, iniciada com o declínio da pensamento medieval, estava vivendo até o início de 2020, o ápice do individualismo liberal.

Os defensores de instituições estatais, garantidoras de políticas públicas e sociais não tinham voz, nem vez. As políticas liberais, defensoras do estado mínimo, da austeridade fiscal, do estado mínimo e do individualismo, estavam aumentando, sem nenhuma contraposição.

O coronavírus se apresenta, também, como uma possibilidade para evoluirmos, superando o pensamento antropocêntrico que posicionou o ser humano como se fosse o centro, com a falsa compreensão de si mesmo, do planeta terra e do universo.

Esta compreensão equivocada legitimou a instrumentalização egoísta dos outros seres vivos e do planeta terra, usado como um objeto para ser explorado em suas potencialidades materiais. O individualismo, exaltando a competição, que separava as pessoas que com mérito, pela capacidade de especulação financeira, de produtividade, de lucro, de ostentação material e de consumo, separando e excluindo as pessoas sem méritos, por serem improdutivas e não merecedoras de atenção, está sofrendo um ataque momentâneo.



“O crescimento da economia, ao aumentar de forma considerável a oferta de bens e serviços, pode até nos tornar mais ricos, aliás, disso ninguém duvida, mas está longe de ser a condição que nos tornará melhores. Com algum esforço, muitos afirmam que nos tornaremos melhores, de fato, caso consigamos construir uma comunidade de destino sustentável para todos”. (Marcus Eduardo de Oliveira)



A guerra de 2020 está mostrando que os exércitos preparados com armas nucleares, dotadas de inteligência artificial, altamente capacitadas para eliminar os inimigos destrutivos, são totalmente inúteis e ridículas.

O vírus é um inimigo imaterial, que exige aumento dos cuidados com a principal ferramenta que nos foi disponibilizada que é o nosso próprio corpo, bem como dos cuidados com os outros, visto que o aumento da contaminação social aumenta o risco de morte de pessoas próximas que temos o dever de proteger.

A competição, que legitimava a atenção para a produtividade e para o lucro está sendo voltada para a cooperação e para o cuidado coletivo e universal.

O mundo está sendo impactado por um ser imaterial que obriga as instituições do estado a repensar as políticas de austeridade fiscal, para implementar políticas sociais de renda básica universal e de altos investimentos públicos para os cuidados com a saúde de todos.

A humanidade está vivendo uma oportunidade de mudança em direção ao aperfeiçoamento, diminuindo a ganância e aumentando a cooperação.

A distância física, entre pessoas que deveriam estar afetivamente próximas e vinculadas, imposta como regra básica para não ser atingido mortalmente pelo inimigo, possibilita a evolução na percepção da importância do encontro e do afeto. 

A guerra contra o coronavírus é uma oportunidade para percebermos que a verdadeira guerra é entre o pensamento individualista, egoísta, do estado mínimo e o pensamento social que defende a coletividade, a vida acima do lucro, que as instituições públicas devem cuidar das pessoas, que a todos esteja assegurando o básico para viveremos com dignidade.



“O valor da ciência não deve ser questionado, mas para fortalecer nosso cotidiano, nos ajudar a levantar da cama com esperança de algo melhor, para sermos melhores com o próximo, para levantar a cada queda e para superar crises de depressão, precisamos de algo além da razão… precisamos de fé. A fé não pode ser racionalizada, tem de ser experenciada. Temos que acreditar que vai dar certo, mesmo que não entendamos o processo ou direção.  (Eliane Taines Bodah)

Professor universitário e da rede pública estadual.

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