Em busca de uma comunidade de destino sustentável para todos

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O crescimento da economia, ao aumentar
a oferta de bens e serviços, pode até nos tornar mais ricos,
mas está longe de ser a condição que nos tornará melhores.

Face a incisiva cultura capitalista e seu correlato paradigma dominante, a economia do crescimento, não me parece descabido considerar que cada um de nós, desde há muito, foi habituado a pensar e olhar para a estrutura da economia global exclusivamente pelo espectro do crescimento, da expansão da atividade econômica. Ao sabor de uma boa discussão, tem sido dito nas entrelinhas que cada “homem econômico” foi devidamente doutrinado a enxergar o sucesso de uma determinada localidade da economia observando-se tão somente a tendência ascendente da produção material e da geração de serviços.

Pela visão economicista que predomina, o sucesso econômico das nações (ou algo próximo disso), advém do aumento produtivo, mesmo no caso de se perceber, en passant, que isso tende a provocar certas ameaças à integridade do meio ambiente. Mas como a própria história do futuro ainda está para ser devidamente escrita, esse delicado ponto, não obstante a comunidade de ambientalistas elevar a voz em tom de protesto, permanece em aberto.

No entanto, interessa destacar o seguinte: caso se aprofunde a interação entre vida socioeconômica e mundo natural, perceber-se-á que é do fino ajuste da relação Homem-Terra-Economia que se subscreve a tarefa final que espreita o ser humano, realizar-se para uma vida plena. Essa é a questão definitiva.

E como se sabe que a economia desde a sua emergência (final do século XVIII) tem sido não apenas uma boa ciência, mas notadamente espécie de eixo articulador (enquanto atividade produtiva) que orienta os destinos humanos, é possível dizer que essa desejada condição – realizar-se para a vida plena – requer o alcance de boas orientações. Talvez a mais significativa delas seja a necessidade de “cambiar la economia para cambiar la vida”; premissa-chave defendida, entre outros, pela economista equatoriana Magdalena Léon.

Por fim, cabe chamar a atenção para um decisivo chamado: se a nossa espécie ainda tem a intenção de continuar fazendo parte do acervo biológico terreno, com convicção tenaz deve ser pronunciado que já passou da hora de mudar o comportamento existencial dos primatas, a começar pelo abandono da ideia corrente de que o crescimento econômico, ícone da modernidade, irá nos completar.

O crescimento da economia, ao aumentar de forma considerável a oferta de bens e serviços, pode até nos tornar mais ricos, aliás, disso ninguém duvida, mas está longe de ser a condição que nos tornará melhores. Com algum esforço, muitos afirmam que nos tornaremos melhores, de fato, caso consigamos construir uma comunidade de destino sustentável para todos.

E como já não é mais segredo algum que a comunidade humana se especializou em abusar das condições dos ecossistemas planetários (até mesmo ultrapassando em alguns casos as fronteiras ecológicas e assim comprometendo os sistemas geradores de vida da Terra), convém não perder de vista a narrativa feita por Kate Haworth: “a nossa geração é a primeira a compreender adequadamente os danos que temos causado ao nosso lar planetário, e provavelmente a última a ter a chance de fazer algo transformador em relação a isso”.

De tal modo, é desnecessário dizer às claras que isso exige imediata ação. Até mesmo porque, tomando como referência o que consta no preâmbulo da Carta da Terra, (…) estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro […] A escolha é nossa: formar uma aliança global para cuidar da Terra e uns dos outros ou arriscar a nossa destruição e a da diversidade da vida […]

Economista, ativista ambiental e Mestre em Integração da América Latina pelo Programa de Pós-Graduação Integração da América Latina (PROLAM), da Universidade de São Paulo (USP). Autor de Economia destrutiva (CRV, 2017) e Civilização em desajuste com os limites planetários (CRV, 2018). prof.marcuseduardo@bol.com.br

1 COMENTÁRIO

  1. Estou tentando entrar em contato porque gostaria de usar a imagem que ilustra esse texto. Podem me retornar? Obrigada!

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