A luta por um projeto civilizatório

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O centro do sistema também vive suas crises,
e tenta de todas as formas, transferir seus problemas
à parcela do mundo invisibilizado.

 A sociedade que é capaz dos feitos mais extraordinários em termos tecnológicos é a mesma que é arrastada por uma onda avassaladora ao passado, onde a barbárie se fez reinar. Ainda é verdade que a barbárie nunca deixou de existir, mas ao longo do tempo vem tomando outros formatos.

Conforme Voltaire, “A civilização não suprime a barbárie, aperfeiçoa-a.” Por isso, agora a necessidade de reflexão se impõe quanto ao que nos levou a permitir o implacável ciclo histórico de se restabelecer.

Estamos diante de ataques políticos virulentos que suprimem rapidamente conquistas civilizatórias importantes, historicamente conquistadas, que visam tirar da frente do “Todo Poderoso Capital” qualquer obstáculo que atrapalhe sua incessante, egoísta e desumana escalada lucrativa. Lucro este que se edifica rapidamente na destruição de direitos sociais e econômicos da classe trabalhadora.

Ao mesmo tempo, o sentido da liberdade é retorcido à lógica neoliberal da concorrência, onde os reflexos mais significativos são sentidos na consciência dos trabalhadores, no intuito de fragilizar as relações humanas e de classe. Dessa forma, a inércia se faz instrumento pelo qual se estabelecem políticas antidemocráticas das quais o Estado é o principal promotor.

O mesmo Estado que outrora tinha o papel de dirimir as diferenças, na busca de uma mínima harmonia social e que agora tem sua existência resumida a servir aos anseios do que ditam os grandes grupos capitalistas.


“Todos nós fomos coagidos e seduzidos para ver o consumo como uma receita para uma boa vida e a principal solução para os problemas. O problema é que a receita está além do alcance de boa parte da população”. (Sygmund Bauman)


O geógrafo Milton Santos já afirmara isso há pelo menos duas décadas atrás ao dizer que “As políticas que hoje são das grandes empresas, amanhã serão as políticas dos Estados.”

Diante da velocidade com que se desmantelam a democracia e a dignidade, e cresce a indiferença por pautas importantes para a qualidade de vida da população, é inevitável uma visita à ideia de Auguste Rodin. Para ele, a civilização é em suma, senão uma camada de pintura que qualquer chuvinha lava.

A titulo de exemplo, no Brasil, alguns “traços” de democracia que levamos séculos para construir, foram sobre solo movediço, passos incautos em direção às diferenças abissais que fomentam a ignorância, a violência, as doenças e a fome. Esse é um exemplo imediato, que se encontra mais próximo de nós, estamos na periferia do sistema capitalista, somos o elo frágil desse imbricado sistema econômico e social globalizado, porém não somos o único, o centro do sistema também vive suas crises, e tenta de todas as formas, transferir seus problemas à parcela do mundo invisibilizado.

Estamos diante de graves problemas que não contam com antídotos de pronto efeito, oriundos de crises políticas, sociais e econômicas, que exigem uma frente única de resistência, classista e anticapitalista para reagir diante de tanto disparate a ser combatido, numa perspectiva societária e emancipatória dos trabalhadores.

Uma reflexão rápida, contudo importante, é fundamental na construção desta sociedade. É sabermos que existem causas que nos unem, que são anseios comuns. Todos querem vida plena e feliz, e esse já é motivo suficiente para a luta por um projeto plenamente civilizatório.


A história das coisas é um filme dinâmico e objetivo, que fala dentre outros assuntos, sobre o consumo exagerado de bens materiais, e o impacto agressivo que esse consumo desregrado acaba exercendo sobre o meio ambiente. O filme é apresentado por Annie Leonard, e mostra de uma maneira bastante clara todo o processo que vai desde a extração da matéria, confecção do produto, venda e ideologia publicitária, facilidade de compra e falsa ideia de necessidade, até o momento em que vai parar nos galpões de lixo ou incineradores.

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