Um poema para Paulo Freire

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Abertura das
VII Jornadas de Extensão do Mercosul (JEM)
teve a presença do educador popular,
Dr. Carlos Rodrigues Brandão,
amigo de Paulo Freire

Inesperada. Assim pode-se definir a abertura da sétima edição das Jornadas de Extensão do Mercosul (JEM), ocorrida na noite de quarta-feira, 6 de novembro, na Universidade de Passo Fundo (UPF), que sedia a programação até o dia 8 de novembro. O palestrante da conferência de abertura, o educador popular, escritor e poeta, o carioca Dr. Carlos Rodrigues Brandão, pioneiro ao escrever a expressão educação popular no Brasil, em vez de se ater ao tema do evento “50 anos de extensão ou comunicação? Educação popular e extensão na América Latina”, foi além e trouxe para o encontro ninguém mais, ninguém menos, que o mais célebre educador brasileiro, Paulo Freire, que, embora tenha morrido em 1997, deixou ideias e concepções sobre a educação que parecem se eternizar.

Em afeto aos quase 30 argentinos que participam das Jornadas, Brandão, aos seus 79 anos, fez uma coisa inesperada, como ele mesmo revelou. “Vou trazer para este encontro Paulo Freire, que foi meu amigo durante muitos anos. Mais do que isso, vou trazer Paulo Freire vindo de Buenos Aires. Vou explicar. Organizei um conjunto de memórias chamado ‘A pessoa de Paulo’, que é um apanhado de acontecimentos que vivemos juntos. Todo mundo conhece as ideias de Paulo, mas quase ninguém conhece a pessoa de Paulo”, revelou o educador, aos cerca de 350 inscritos no evento, vindos de 32 instituições de ensino superior de oito estados brasileiros e dos países da América Latina.

Brandão começou relatando a única vez que mentiu a Paulo Freire, quando, na década de 1980, o convenceu a participar de um evento não programado em Buenos Aires. Era uma conversa com educadores argentinos. Brandão falou que haveria apenas 10 participantes, no entanto, o evento tomou tamanha repercussão que reuniu mais de 4 mil pessoas. Freire falou uma hora e meia e declarou, em grande parte do evento, seu amor a Buenos Aires e ao Tango. Essa foi apenas uma de tantas histórias e experiências vividas ao lado de Paulo Freire, lidas no evento em espanhol, em mais uma das coisas inesperadas do educador.

Ao final das suas colocações, o palestrante leu um poema recente feito por ele em homenagem a Freire. “A barba branca aveludada, a pausada fala mansa, de quem escuta e então fala o que de outro ele ouvia, quando ensinando aprendia. E os gestos das mãos tão largos, como em festa, volteiam sobre quem esquece como bandeira de guia, e a sua palavra então chamava pra rua e pra luta quem sua fala calava, quem a coragem perdia, quem suas mãos abaixava, quem seu chamado esquecia”, declamou Brandão, aplaudido em pé pelo público.
A conferência foi mediada pela estudante extensionista da UPF, acadêmica de Psicologia, Maria Luisa Nolasco Dal Molim, e pelo vice-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários da UPF, professor Dr. Rogerio da Silva.

Mesa completa

Foi a primeira vez na história das JEM que estudantes extensionistas participaram da mesa de abertura do evento. A estudante extensionista da UPF, Maria Luisa, que mediou a conferência de abertura, apresentou um manifesto realizado em uma das Jornadas, em 2017, e complementou. “Estar aqui me comove muito. É um momento que cumpre com o direito essencial dos homens e das mulheres, revelados a nós por Paulo Freire, que é o direito de dizer a palavra, de dizer a própria palavra a partir da posição que se ocupa no seio das sociedades. Palavra que, no nosso caso, está atravessada pela nossa condição de estudantes, de latino-americanos, e, mais importante do que tudo, palavra atravessada pelo sentir do sofrimento que é gerado a partir das desigualdades do mundo”, declarou a extensionista.

A reitora da UPF, professora Dra. Bernadete Maria Dalmolin, expressou todo seu carinho pelas Jornadas e a importância da união entre as instituições comunitárias de ensino superior. “Vocês não imaginam o quanto eu estou feliz. Que bom estar com vocês. Isso nos dá esperança, mostra que precisamos desse movimento, dessa força, alegria e energia para nos fortalecermos e fazermos frente a tudo que vem ocorrendo nos nossos países. Precisamos fazer que as nossas instituições possam continuar existindo e resistindo para fazer a melhor educação, aquela educação que de fato representa a necessidade de todos os povos”, ressaltou a reitora.

Também participaram da mesa de abertura o presidente da Fundação Universidade de Passo Fundo (FUPF), Me. Luiz Fernando Pereira Neto, o vice-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários, Dr. Rogerio da Silva, a pró-reitora da Universidade Vale do Paraíba e presidente do Fórum Nacional de Extensão e Ação Comunitária das Universidades e Instituições de Ensino Superior Comunitárias (Forext), Maria Regina de Aquino Silva, o secretário de extensão da Universidad Nacional Del Centro de La Provincia de Buenos Aires, Daniel Herrero, e a estudante extensionista dessa mesma instituição, Ana Pia Recavarren.

Sobre as Jornadas

As Jornadas fomentam o trabalho em rede e as discussões e os acordos que permitem fortalecer a extensão universitária, contemplando as particularidades disciplinares e, ao mesmo tempo, sustentando a extensão na perspectiva da integralidade e dos direitos humanos.  Elas são organizadas de forma conjunta pela Universidade do Centro da Província de Buenos Aires (UNCPBA), UPF, Forext, Secretaria de Políticas Universitárias dependente do Ministério Nacional de Educação da Argentina, Conselho Interuniversitário e Rede Nacional de Extensão Universitária Argentina. Na região latino-americana, as Jornadas têm o apoio da União Latino-americana de Extensão Universitária (ULEU) e da Associação de Universidades do Grupo Montevideo (AUGM).

Fotos: Natália Fávero

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