Solidariedade e abundância: dois aspectos centrais para a evolução humana

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O conjunto dos bens indispensáveis para a vida humana
são perfeitamente suficientes para toda a humanidade,
mas o egoísmo e a ganância ou falta de consciência solidária,
impõem sofrimento e abreviação de vidas.


Pensar e desejar a materialização de uma condição social de abundância, no contexto da pandemia, parece ser contraditório, mas é uma imposição para quem está comprometido com a evolução humana.

A estagnação do comércio, as restrições na circulação de pessoas, as vidas abreviadas e o desemprego, estão aumentado o nível de insegurança, que leva inúmeras pessoas ao desespero e ao adoecimento. Neste contexto, que pode ser descrito como a “culminância de uma transformação profunda”, é valido, ainda, registrar que o ser humano, por meio de uma relação inteligente com a natureza produz muito além do que é necessário para viver em abundância material.


A culminância e o esgotamento deste modelo conhecido como modernidade é simbolizada por pessoas escravas de necessidades artificiais, criadas pelo indústria do consumo, apoiado no individualismo, no produtivismo e na competição ilimitada.

A solidariedade é um tema relevante para a vida social humana. Um dos pensadores contemporâneos, considerados como um clássico da sociologia, Emile Durkheim, esmiuçou o tema, partindo de uma divisão geral, que ele caracteriza com mecânica e orgânica. O ponto de partida da sua teoria é que não existe vida social sem solidariedade, que pode ser mecânica, a exemplo das abelhas e das formigas. Mas o ser humano por meio da inteligência, pode assumir comportamentos conscientes, percebendo que os outros seres vivos dependem dele, do mesmo modo que ele, individualmente, não existiria sem os outros.

Nenhum de nós existiria, como ser vivo, sem nossos antecessores que nos geraram e nos cuidaram. Do mesmo modo, no aspecto da identidade individual, não existira, por exemplo, a figura do professor sem a existência do estudante.

Os tempos de escassez e as ausências momentâneas de bens indispensáveis se apresentam como uma oportunidade para ampliar a consciência humana a respeito da importância dos mesmos para a continuidade da vida.  Uma situação fácil de perceber é a seguinte:  a natureza disponibiliza, o ser humano com sua criatividade e com os recursos tecnológicos produz e armazena em abundância bens materiais indispensáveis para a vida, como a água, alimentação e a energia, que poderiam ser disponibilizados de forma universal, mas que não são.

Neste sentido, a pandemia de 2020 está sendo uma oportunidade para percebermos que existe água, energia elétrica e toda sorte de recursos financeiros básicos para todos e que comportamentos solidários que possibilitam a universalização do acesso a estes bens abundantes são possíveis e indispensáveis.

Estas condições mínimas de universalização incondicional do acesso a bens indispensáveis para a vida, devem ser acompanhadas de um planejamento institucional, com a adição de condições mínimas de moradia educação e cultura.

É válido registrar que o conjunto dos bens indispensáveis para a vida humana são perfeitamente suficientes para toda a humanidade, mas o egoísmo e a ganância ou falta de consciência solidária, impõem sofrimento e abreviação de vidas. No tema da habitação, por exemplo, é válido registar e refletir que em decorrência da ganância e da especulação imobiliária, na maioria das cidades, temos vazios urbanos e inúmeros imóveis ociosos, ao mesmo tempo existem seres humanos habitando locais insalubres e precários.

Nesse momento de combate ao novo coronavírus, a expansão da consciência solidária que reconhece a abundância de bens indispensáveis, pode se apresentar como um propulsor para evolução humana.

Professor universitário e da rede pública estadual.

2 COMENTÁRIOS

  1. Belíssima reflexão!
    Parabéns!
    Solidariedade e abundância! Temos o suficiente, a Mãe Terra é generosa e nós inteligentes para gerir os meios para que todos os seres humanos possam viver dignamente. O que está no meio desse caminho – o egoísmo, a não-empatia, o capitalismo, o não-amor – é o que nos afasta dessa realidade, hoje utópica.
    Um outro mundo é possível!!

  2. Li agora o texto belíssimo de Israel: solidariedade e abundância…Recomendo a todos a leitura. Aos poucos vamos nos unindo ao grande grupo de seres humanos que defendem a vida na partilha justa dos bens.

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