Culminância de uma transformação profunda

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A culminância e o esgotamento deste modelo conhecido como modernidade é simbolizada por pessoas escravas de necessidades artificiais, criadas pelo indústria do consumo, apoiado no individualismo, no produtivismo e na competição ilimitada.

O ciclo da história humana que sucedeu o período medieval é conhecido como modernidade. A modernidade passou por várias etapas, tendo como um dos marcos iniciais, as grandes navegações e a chegada dos europeus na América.

A revolução industrial e a revolução francesa, são dois marcos sinalizadores de uma nova etapa da modernidade. Nó século XX, as disputas entre os modelos sociais capitalistas e socialistas e os confrontos pelo poder, simbolizadas nas duas guerra mundiais, no fim das grandes ditaduras e na ampliação das democracias, sugere a caracterização de uma nova etapa para a modernidade.

A partir das últimas décadas do século XX, evolução tecnológica impulsionada pela internet, que revolucionou a comunicação, simbolizou mudanças profundas nas relações humanas que, em nome da progresso, elevaram a instrumentalização da natureza, provocando um aumento no distanciamento dos seres humanos entre si e na desumanização.

O desenvolvimento da inteligência artificial possibilitou a produção muito além do que seria o necessário para a sobrevivência digna de todos os seres humanos existentes no planeta terra. Paradoxalmente ao excesso de produção, de circulação facilitada e rápida das mercadorias, das pessoas e das informações, a humanidade passou a conviver com a falta do básico para a maioria das pessoas.

Para uma leitura e interpretação adequada da crise vivida pela humanidade nas últimas décadas, e frequentemente escondida, duas contradições devem ser evidenciadas. Uma entre a produção de bens materiais, mais do que o necessário para todos e a realidade social na qual a maioria das pessoas estão vivendo sem alimentação e sem habitação adequadas. Outra contradição está simbolizada na rapidez das informações, com a ampliação dos meios de comunicação e o aumento das dúvidas, desinformações, incertezas e desorientações.
Estas duas contradições sugerem que o modo de organizar a vida, pautado pelo progresso visando o crescimento econômico e o lucro ilimitado se esgotou, chegou no limite e perdeu o sentido.

A exaltação do individualismo ilimitado, subordinado ao consumismo, e a produtividade está sendo abalado pelas mortes causadas pelo Covid 19, que não foram prevenidas por um modelo de desenvolvimento que destruiu e distanciou o ser humano da natureza.

A culminância e o esgotamento deste modelo conhecido como modernidade é simbolizada por pessoas escravas de necessidades artificiais, criadas pelo indústria do consumo, apoiado no individualismo, no produtivismo e na competição ilimitada.

A construção de uma transformação profunda que pode possibilitar a evolução da humanidade, está vinculada com a substituição dos valores individualistas, egocêntricos e antropocêntricos por valores alicerçados na solidariedade, na imaterialidade, na evolução espiritual, na reconexão dos seres humanos entre si e com a natureza.

“Mujica emite seu pensamento em frases como: “Não podemos ser fanáticos. Temos que ter a ousadia política de inovar. Devemos ter a honra intelectual de reformular o caminho”. Tais compreensões permitem uma visão alargada do conceito de política, além de uma única determinação da atividade política, como gerenciamento de conflitos ou como gestão da economia. (Cecília Pires)

Professor universitário e da rede pública estadual.

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