Pensar a Política, conectados com a pandemia

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É necessário superar a política como “a arte do possível” (Bismarck) para pensarmos a política como uma atitude de compromisso ético, que as pessoas possam estabelecer entre si.


Hoje queremos falar sobre a importância política para o convívio da espécie humana do nosso lugar de fala, o lugar da Filosofia. Enfatizamos que se trata de pensar a política como a possibilidade de estabelecer laços sociais e não de vinculação estrita às agremiações partidárias.

Tomamos três falas separadas no tempo, mas que produzem, segundo nossa compreensão, aproximações sobre a ideia e a importância da política – Aristóteles, Hannah Arendt e Pepe Mujica.

Para Aristóteles, filósofo grego, o indivíduo não se basta, precisa estar relacionado com um conjunto de indivíduos. E adverte: “Aquele que for incapaz de viver em sociedade, ou que não tiver necessidade disso por ser autosuficiente, será como uma besta ou um deus, não uma parte do Estado”. Isso leva à compreensão de que a espécie humana traz em sua condição a dimensão política, sendo a cidade uma comunidade política.

O que há de comum entre os indivíduos é o ser político, o envolver-se com as tarefas da cidade, da comunidade política. Isso difere da interpretação polarizada de militâncias partidárias que buscam exercer o poder e a governabilidade da cidade. O que não é um mal, apenas destacamos que a ideia da política é mais do que o exercício da governabilidade, de uma representação partidária.

Hannah Arendt, pensadora política alemã, na esteira de Aristóteles, mas já no século XX, discute a forma do fazer político e o sentido da política. Destaca que a condição humana de emancipação se realiza quando as necessidades básicas estiverem resolvidas. É o momento da mundanidade, quando o sujeito entra na esfera pública, para participar da vida política.

Sem a política, a sobrevivência da espécie humana estaria ameaçada. Seu destaque é que a política ocorre entre os humanos, como uma experiência de liberdade. Ela atribui à ação o papel articulador da pluralidade dos homens, da convivência entre os diferentes. “Todos os aspectos da condição humana têm alguma relação com a política; mas esta pluralidade é especificamente a condição de toda vida política”.

Pepe Mujica, político uruguaio deste século, não sabemos se leitor desses ou de outros filósofos, manifesta um entendimento sobre a política, afirmando que ela interessa à espécie humana, por permitir uma conjugação de esforços no sentido de viabilizar a vida em comum.

Mujica emite seu pensamento em frases como: “Não podemos ser fanáticos. Temos que ter a ousadia política de inovar. Devemos ter a honra intelectual de reformular o caminho”. Tais compreensões permitem uma visão alargada do conceito de política, além de uma única determinação da atividade política, como gerenciamento de conflitos ou como gestão da economia.




Mujica afirma: “sou torcedor das cidades pequenas. As megalópoles engolem tudo”. Veja mais:



E Mujica continua: “O homem é o único animal que tropeça várias vezes na mesma pedra e sabe que tropeça”. Isso trata da racionalidade e da emoção, categorias que ele identifica no seguinte dizer: “Precisamos ter tempo para cultivar os afetos”.

Novos interrogantes permitem que façamos uma nova leitura e construamos um novo discurso, como sujeitos políticos que somos, diante das demandas da sociedade atual, em todos os seus desdobramentos políticos, que incidem em questões éticas.

Em tempos de crise, no quadro dessa experiência da Pandemia, em que o cenário dos conflitos se estabelece de uma forma imperativa, onde aparecem racionalidades que se interpelam e se agridem com argumentos pouco convincentes, julgamos oportuno trazer à cena contribuições sobre o nosso “ser político”, como elemento imprescindível para o entendimento das diferenças de perspectiva, acerca da moralidade pública.

Atingida por discursos passionais, advindos de uma estreiteza moral, a esfera pública se ressente de clareza acerca de políticas públicas, no governo da comunidade política. É necessário superar a política como “a arte do possível” (Bismarck) para pensarmos a política como uma atitude de compromisso ético, que as pessoas possam estabelecer entre si. Esse resgate valorativo pode retirar véus conciliadores, próprios de práticas subservientes e utilitaristas.



“A política é a grande estrada para a mudança, não a mídia, o judiciário ou o mercado. A política deve ser feita tanto na inteligência do mercado como na inteligência do bem social, a justiça é o ordenamento de função constitucional, somente isso, e comete grandes atrocidades quando criminaliza projetos claramente benéficos ao povo. Quem não é capaz a isso, não é capaz a política”. (Cristina Schnorr)

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