Sobre desumanizar-se durante a luta

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Há quem prefira esconder-se por trás da maldade do mundo para dar asas à sua própria perversão. Entretanto, os atos alheios jamais devem justificar os nossos.

Quem luta do lado oposto da trincheira é tão humano quanto quem luta ao nosso lado. Sem as devidas precauções, seremos reduzidos a monstros, desprovidos de qualquer traço de humanidade.

Ainda que o outro lado já tenha se desumanizado, lançando mão de procedimentos cruéis, devemos nos manter leais à nossa consciência, preservando assim a nossa essência. Como disse Nietzsche, “aquele que luta com monstros deve acautelar-se para não tornar-se também um monstro. Quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para você.”

 Para o filósofo alemão, as dificuldades da vida são como uma escola que pode nos endurecer e até nos transformar em pessoas cruéis, todavia, no final, essa será uma opção pessoal.

Como dizia Sartre, “não importa o que fizeram com você. O que importa é o que você faz com aquilo que fizeram com você.” Cada um responde de acordo com que tem dentro de si.

Viktor Frankl comenta em seu livro “Em busca de sentido” que, até nas circunstâncias mais adversas, o ser humano tem o direito de decidir qual será sua postura diante do mundo. Sobre sua passagem pelo campo de concentração em Auschwitz, Viktor relatou que alguns prisioneiros se embruteciam e colaboravam em atos de tortura, agindo contra os próprios companheiros, ao passo que outros consolavam os doentes acamados e dividiam com eles seu último pedaço de pão. “Mesmo que não esteja em suas mãos mudar uma situação dolorosa, é sempre possível escolher a forma de lidar com o sofrimento”, afirmou.

Há quem prefira esconder-se por trás da maldade do mundo para dar asas à sua própria perversão. Entretanto, os atos alheios jamais devem justificar os nossos.

Autor: Hermes C. Fernandes

Edição: Alex Rosset

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