1824 – 2024 – duzentos anos da imigração alemã no Brasil

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É preciso dizer que a imigração alemã trouxe muito progresso, com a sua arte, cultura e saberes técnicos, para os locais em que os alemães se fixaram. Eles são os fundadores de várias cidades importantes, nos estados do sul do Brasil.

Dias desses participei de uma discussão, em um site chamado “Blumenau Mil Grau”, sobre uma enquete feita no “Reddit”, cujo tema era: o que os alemães pensam sobre os descendentes sul-americanos? Para quem já teve a oportunidade de conhecer e vivenciar a Alemanha e a sua cultura na atualidade, nada de novo. Mas para quem vive no Brasil, se achando alemão, pelo fato de ter um sobrenome germânico, a discussão poderá propiciar uma interessante reflexão.

Inicialmente, para quebrar aquele paradigma dos “imigrantes agricultores”, que emigravam aos milhões da Europa fugindo das guerras ou da fome, para cultivar terras no Brasil. Comprovei em pesquisas feitas por mim, e por outros autores, que muitos alemães não eram agricultores. Alguns eram ferreiros, sapateiros, marceneiros, construtores, padeiros, alfaiates, tipógrafos, ou de outras diversas profissões da época.

Família Franken: histórias em dois continentes: As curiosidades do autor, transformaram-se em pesquisa e depois em um livro. Com o intuito de pesquisar sobre o sobrenome alemão Franken, a imigração alemã no Brasil e a vinda de sua família da Alemanha para o Brasil, levou o autor a pesquisar no Brasil e na Alemanha em diversas fontes. Leia mais: https://www.neipies.com/passo-fundense-divulga-dois-importantes-livros/

Meu bisavô Heinrich Franken, por exemplo, veio para o Brasil, a pedido do II Império, como mestre fundidor, (Stahlgusmeister). E tivemos até imigrantes alemães que se tornaram soldados mercenários e ajudaram a defender as divisas do Brasil, dos frequentes ataques espanhóis. Não sei por que se desenvolveu a ideia de que os imigrantes alemães, eram todos agricultores. E, também, por que os brasileiros acreditam que aquelas bandinhas da Baviera (Blasmusik) e seus trajes típicos, representam as músicas e vestimentas alemãs? Ledo engano!

A imigração alemã foi um projeto em larga escala e de longo prazo, patrocinado pelo governo brasileiro para povoação das terras. Em 1824, chegaram os primeiros 39 colonos alemães. Em 1850, com a proibição do tráfico de escravos, os programas para atrair imigrantes floresceram. Além do que, a vinda de imigrantes europeus brancos corroborava com a ideia racista da elite dominante, de que era preciso “clarear” a população brasileira, formada em parte por índios e negros. Nessa mistura de vontades, interesses, disposições e necessidades, de dois povos distintos e distantes, muitas coisas aconteceram e uniram brasileiros e alemães.

É preciso dizer que a imigração alemã trouxe muito progresso, com a sua arte, cultura e saberes técnicos, para os locais em que os alemães se fixaram. Eles são os fundadores de várias cidades importantes, nos estados do sul do Brasil.

Vários de seus descendentes transformaram-se em políticos, cientistas, industriais, comerciantes e intelectuais de renome. Eles também fundaram por aqui inúmeras associações, educandários, clubes sociais, esportivos e recreativos, empresas e jornais. É inegável a influência positiva da imigração alemã na formação do povo brasileiro.

Porém, acho instigante voltar aos dias atuais, para nos olharmos como descendentes de alemães e perguntar: o que sabemos dos alemães e da Alemanha atual? Então voltarei a enquete que participei, sobre as respostas dos alemães no “Reddit”. A pergunta era se os alemães sabiam da existência de uma cultura alemã no Brasil.

Muitos alemães que já visitaram o Brasil se manifestaram dizendo que sim. Blumenau foi a cidade mais citada por eles, mencionando-a positivamente pela “Oktoberfest” e pela sua arquitetura. Entretanto, todos os alemães participantes que tiveram contato com a cultura alemã no Brasil, afirmam que existem muitos estereótipos, variando entre “isso é muito engraçado” e “isso é bem racista”.

Eles acreditam que alguns descendentes mantiveram aspectos negativos da cultura alemã como, por exemplo, achar que apenas pessoas loiras são alemãs. Faz tempo que comentários desse tipo são altamente reprováveis por lá. Ficam indignados ao ver brasileiros com ascendência alemã, sentindo-se superiores aos das outras etnias. E acreditam que essas pessoas estão culturalmente distantes do que a Alemanha realmente representa atualmente. Devido à desconexão com a Alemanha atual, não enxergam os brasileiros de origem alemã, como parte do povo germânico.

Em conclusão, os alemães acreditam que esses brasileiros possuem uma concepção da Alemanha e do seu povo, baseada em línguas e estereótipos antigos. Pois eles têm orgulho de sua cultura atual, com aspectos muito diferentes daqueles do passado e gostariam de compartilhá-la com os brasileiros.

Em cem, duzentos anos, dá muito tempo para construir e desconstruir ideias, costumes, tradições e até mesmo a língua, que se transforma, junto aos avanços tecnológicos. Para além do “Jus Sanguinis”, ficou um legado importante da vinda dos imigrantes alemães: a amizade, a cooperação e a fraternidade, que de longa data os dois países e seus povos cultivam. E assim, comemoraremos os 200 anos da imigração alemã. Pois, a riqueza do nosso povo é ter recebido a influência de tantas culturas, para nos tornarmos um povo singular e multifacetado, que ainda hoje forja a sua própria identidade.

Meu bisavô: Heinrich Franken, nascido em 1841, em Düsseldorf/Alemanha.

 Minha neta: Isadora Loss Franken, nascida em 2013, em Passo Fundo.

Autor: Rubens Mário dos Santos Franken

Edição: A.R.

2 COMENTÁRIOS

  1. Salve! Estou fazendo a arvore genealogica da familia, sou descendente de Franken tb, sou um “primo distante” seu, o Arnilo Franken era meu tio-avô, acho que ajudou durante seu livro, sabe dizer se existe a documentação do Heinrich? Sabe dizer que ano ele desembarcou no Brasil? Abraço

  2. Agradeço ao amigo, Prof. Nei Alberto Pies, pela divulgação do meu trabalho.
    Um abraço e boa leitura a todos (as)!

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