A problematização do mundo aberto, que se baseia na condição própria da natureza humana como inquisitiva, a uma ação transformadora, trata da condição social na produção do conhecimento como fundamental na crítica do próprio conhecimento, bem como na sua condição política e ideológica.

 

Paulo Freire propôs diversos saberes necessários à prática pedagógica ao longo de sua obra, desde o esboço do livro “Pedagogia da Autonomia” e até mesmo, indiretamente, em suas reflexões posteriores em “Cartas a Cristina”.

De acordo com reflexões internacionais são cinco as principais ideias de Freire: (i) pedagogia da pergunta ou problematização; (ii) ensinar exige respeito pelo conhecimento dos alunos; (iii) ensinar exige respeito pela autonomia de ser aluno; (iv) ser alfabetizado não é aprender a repetir palavras, mas aprender a dizer sua palavra; (v) e ensinar exige escutar.

Este trabalho traz um recorte sobre a pedagogia da pergunta ou problematização através de uma história de vida focal autobiográfica, apresentada em dois momentos. O primeiro momento trata-se da problematização do meu processo de construção como educadora e o segundo momento apresenta uma reflexão sobre a problematização em si mesma.

 

Problematizando meu processo de construção como educadora

“Nenhum vento é favorável quando não se tem rumo.” Quem nunca ouviu esse ditado? Esse provérbio expressa um pouco de minha trajetória pessoal e profissional, além de que, em uma linguagem mais direta indica que a definição de objetivos é um passo fundamental para o sucesso.

Da época dos bancos escolares até o atual momento, passando pela experiência de ser professora na rede pública brasileira e em universidades privadas nos Estados Unidos, onde atualmente sou professora adjunta no Onondaga Community College, esse provérbio está entre algumas considerações que se tornaram essenciais na minha carreira.

Nesta minha trajetória pude constatar que a definição de objetivos impacta, sim, os fatores de aprendizagem.

Nutro empatia por Paulo Freire, para o qual devemos “nos colocar no lugar do educando”. Assim, fazendo um breve resgate do meu tempo de estudante e avaliando minha educação, acredito que as séries iniciais do ensino fundamental foram satisfatórias, sob meu ponto de vista.

Aprendi a ler, somar e dividir e devo recordar que fui considerada uma “aluna” normal, até que os conflitos próprios da adolescência se acumularam na expressão de um intenso senso crítico. Talvez, aquela “aluna” que questiona o porquê dos conteúdos, as amarras do sistema, os conflitos do mundo, enfim, imersa naquela sensação de não saber qual a função da escola.

Esses questionamentos me acompanharam ao longo de minha formação final na educação básica e parte do ensino superior em Ciências Biológicas, quando recebi um convite para lecionar ciências em uma comunidade precária no sul do Brasil.

Confesso que hesitei, pois afinal sou filha de professora e além do mais, quem quer ser professor quando essa profissão, embora nobre, sofre um processo de desvalorização ao nível nacional há várias décadas?

Para ser professor é necessário ter coragem e perseverança, pois os desafios são imensos… Ah, Desafios? Aceitei.

Dificuldades de várias ordens surgiram devido à situação da educação atual, que muitos autores atribuem à crise econômica, desestrutura familiar, falta de incentivos e políticas públicas, ruptura social, entre outras palavras complexas que aprendi no Mestrado em Educação no Brasil, Ph.D. e pós doutorado nos EUA, e em meu Ed.D. no México.

Contudo, meus objetivos ajudaram a manter o foco e guiar minha paixão pela educação, ressignificando meus próprios saberes e fazendo com que eu reconstruísse minha práxis cotidiana e não desistisse… Aqui vale resgatar o ditado popular de que “uma vez professor, sempre professor”.

 

A problematização em si mesma

Um dos tópicos dessa história focal que elegi na obra de Freire aborda as seguintes assertivas “se faz necessário desenvolver uma pedagogia da pergunta. Estamos sempre ouvindo uma pedagogia da resposta. Geralmente, os professores respondem às perguntas que os alunos não têm”.

Ao problematizar minha própria formação como educadora, foi possível observar traços de uma educação tradicional ou bancária baseada na memorização e transmissão de conteúdos, que caracterizam a pedagogia da resposta.

A falta de adaptação no ensino fundamental e médio (no meu caso e de muitos outros) pode ser um resultado da falta de autonomia dos alunos proporcionada por essa educação. Felizmente, nas últimas décadas têm-se observado um reconhecimento global sobre a importância da problematização na formação do pensamento crítico e para manter os estudantes motivados visando o sucesso escolar.

A problematização do mundo aberto, que se baseia na condição própria da natureza humana como inquisitiva, a uma ação transformadora, trata da condição social na produção do conhecimento como fundamental na crítica do próprio conhecimento, bem como na sua condição política e ideológica. A importância desse método pode justificar-se na tríade antropológica em Freire:

  1. O ser humano é um ser em transição, ou seja, é um projeto inacabado, que está em constante busca de si mesmo; é incompleto, finito, temporal e não sabe de maneira absoluta.
  2. O ser humano é um ser de relações. “Ninguém educa ninguém, os homens se educam em comunhão”, mediatizados pelo mundo.
  3. O ser humano é um ser em busca – estando em permanente procura, curioso, “tomando distância” de si mesmo e da vida que porta; esta capacidade de reflexão dialógica e crítica assume a si mesmo e ao mundo como realidades inacabadas.

Este vídeo é um pequeno resumo do livro “PEDAGOGIA DA AUTONOMIA” de Paulo Freire.

 

A problematização como minha construção

Através desta história de vida focal autobiográfica, realizei um resgate sobre a problematização, iniciando pelo meu processo de construção como educadora até a problematização em si mesma. Nesse resgate, foi possível observar que apesar de receber uma educação tradicional na educação básica, passei pela ruptura com a mesma e recebi a influência da obra de Freire na minha formação profissional. Posso concluir que a problematização tem um papel fundamental na formação do pensamento crítico e na motivação dos estudantes.

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