Palavras ao vento. Palavras sem efeito. Fala sem ouvido.
Palavras ao vento são palavras em vão. Palavras vãs não tem eficácia.
O vento é leve. O vento desfaz.

 

Cheguei. Olhei. Sentei. A brisa da manhã já avisa que o sol logo estaria ali. Tinha tudo para ser um dia eficaz. Era Sábado. Março. Observei. Professores sentados ao fundo. Acheguei-me a eles. Mas por que os professores costumam sentar ao fundo de uma reunião. Dia normal gostam dos que sentam a frente? Paradoxo.

O ambiente estava pronto. Cadeiras arrumadas. Quem as arrumara? Em torno de 150 cadeiras. Reunião de pais. A primeira do ano. Recordo-me de que a diretora na semana anterior pediu que para salientar importância do comparecimento dos pais. Muitos alunos novos. O dia chega era 8horas e 10 minutos.

A diretora pega o microfone. Falou e testou o volume do microfone. Pais. Mães. Olhares atentos. Era como se uma autoridade máxima iria falar. E era. Logo o assunto em pauta esteve. Horário. O de sempre. Frisou a diretora e estabeleceu um paralelo da casa de cada um. Em casa pode. Aqui não. Temos de manter uma organização mínima.

Aqui trabalhamos com muitas pessoas que precisam cumprir “hábitos escolares”. Esses. Diferentes dos hábitos de casa. Se em casa o pirulito e o chiclete pode. Aqui não. Eles precisam entender isso. Aqui trabalhamos com “uma cidade”. Se cada um quiser fazer o que bem entende, fica impossível. Se cada um quiser num horário, aqui não pode. Trabalhamos com a necessidade da concentração.

Minha cabeça deu uma reviravolta. Olhei a diretora. Falando. Uma gota de imaginação na minha mente brota. Uma canção era possível compor naquele momento. Meu pensamento viaja. Um papel. Um papel. Não havia. Olhei para o lado. A coordenadora tinha. Pedi. Sentei-me de novo. São 1200 alunos que frequentam a escola. Reportei-me para o local eram 150 cadeiras arrumadas. Algumas vazias. Onde estão os demais pais?

A diretora continuava a proclamar sua palavra. Importante. Quem as ouvia? Palavras ao vento. Quem poderia captá-las? O vento. Que vento?

Os pais e mães atentos. Muito atentos. Será que esses pais eram os que as palavras deveriam ter chegado? Como poderia ter eficácia aquelas palavras. Importantes. Se de 1200 alunos teríamos a presença de 140 pais?

Meu cérebro voltou-se numa reflexão profunda.

Como ser eficiente quando a fala não fala? Quando as palavras não chegam? Palavras ao vento. Palavras sem efeito. Fala sem ouvido. Palavras ao vento são palavras em vão. Palavras vãs não tem eficácia. O vento é leve. O vento desfaz. Tudo o que a diretora falou não chegou. Segundo, estarão os alunos sem a informação. Como manter uma ordem sem com que os interessados não sabem? Onde estarão os demais pais?

Na prática “se colocar no lugar do outro” permite que
você tome conhecimento de algo que vai além da sua percepção.
É se proporcionar entender o outro. Receber o que ele tem a contribuir,
mesmo que baseado na argumentação (e não em juízos de valor)
você tenha que desconsiderar quase tudo depois.

Saber ouvir

Como fazer com que os pais tomem conhecimento sobre o pensamento da escola, se as palavras foram jogadas ao vento? Como tornar o pensamento da escola em ação se o esforço foi em vão?

Garanto que se cada pai tivesse a consciência de que seu filho é um ser humano. Humano. Ser humano. Jamais negaria esse gesto nobre de participar de uma reunião de início de ano no colégio do seu filho que o carinho fala mais alto. São nesses momentos que a gente demonstra a importância que o filho tem na vida da gente. Ele se sente valorizado.

Olha! Eu sou importante, a minha mãe, o meu pai foram à reunião porque eu sou importante. Sabe-se que a vida é corrida. É sábado, tem de se descansar. Porém, filho é pra sempre. Filho é importante. E é dando a importância nas simples coisas que valorizaremos as grandes.

Não adianta quando vier as “datas importantes” rechear as mãos dos filhos de presente. Jamais os presentes. Tudo o que damos financeiramente suprirá os pequenos gestos que dispomos aos seres amados.

O mundo líquido sucumbiu às crianças.
Não criemos crianças consumidoras, criemos crianças fazedoras de coisas.
Na escola ou em casa quase não se ensina mais a fazer nada:
tudo já vem pronto, com manual de instruções.

Tempos líquidos na infância

 

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