Inteligência artificial e sala de aula virtual: no passado uma possibilidade, no presente uma imposição e uma realidade

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Precisamos estar atentos para que os
aspectos negativos do distanciamento e da destruição
da natureza não sejam sucedidos pela destruição
do afeto e do ser humano, com expansão da
substituição do contato humano.


Os recursos da internet para interação de grupo, como as plataformas de salas de aula e reuniões virtuais, existe desde muito antes de 2020. Nos últimos anos foram expandidos, acompanhando o aperfeiçoamento e a ampliação no uso da internet, bem como o debate social sobre a implementação da Educação à Distância (EAD) e do Ambiente Virtual de Aprendizado (AVA).

A partir do advento da pandemia, o que era uma possiblidade para os segmentos educacionais privados e do ensino superior, como uma opção adicional ao ensino definido como presencial, se tornou uma imposição.

As relações entre os seres humanos e a tecnologia não são de mão única, são contraditórias, pois trazem muitos benefícios, mas já trouxeram muitos prejuízos e destruições, com o uso das armas e a destruição da natureza. Podemos mencionar os impactos das ferramentas primitivas, criadas na pré-história, passando pela revolução industrial, para chegarmos nas atuais transformações, vinculadas com a expansão da inteligência artificial.

A construção e o uso de ferramentas parecem estar imbricadas com a expansão daquilo que se concebe como inteligência.

No histórico primitivo das ferramentas construídas pelo ser humano, ainda presentes em nossa cultura, podemos mencionar a faca, o facão, a foice, o machado e o serrote. Essas ferramentas contribuíram significativamente para as transformações no modo de vida dos seres humanos.

Nesta trajetória se evidencia a diminuição do esforço, substituindo a energia humana, aumentando a proteção, das ameaças de outros seres vivos e da natureza, além de buscar melhorar a segurança alimentar e facilitar o deslocamento.

Nesta relação benéfica e ambígua, associada com a construção e uso de novas ferramentas tecnológicas, a substituição do trabalho humano pela máquina decorrente da revolução industrial, transformou radicalmente as relações dos seres humanos entre si e com a natureza.

A produção em larga escala, com a disponibilização de alimentos e bens materiais, além do necessário, trouxe um direcionamento para a diminuição da durabilidade dos produtos, incentivando o consumismo e o produtivismo. Desse modo, entre as consequências dramáticas de usar as ferramentas produzidas pela revolução industrial indiscriminadamente, está a destruição da natureza centrada na renda.

Antes do isolamento social, imposto pelo Covid 19, já se falava da extinção de muitas profissões. A possibilidade de automatizar alguns postos de trabalho como, por exemplo, cobradores de alguns meios de transporte coletivo, ainda não se concretizou com o argumento da necessidade de distribuir renda, por meio do trabalho. Mas, também, os argumentos contrários na implantação das salas de aulas virtuais estão sendo quebrados com a imposição do isolamento social.

Nesta ambiguidade, que continua permeando a história humana, devemos comemorar as facilidades como o acesso às informações sem o esforço do deslocamento físico. No entanto, precisamos estar atentos para que os aspectos negativos do distanciamento e da destruição da natureza não sejam sucedidos pela destruição do afeto e do ser humano, com expansão da substituição do contato humano.



Esta é a vigésima quarta publicação no site. Em recentes reflexões, pensei as relações e os impactos da tecnologia, da pandemia, dos comportamentos e dos processos educacionais que estão em curso. Convite é para que conheçam demais reflexões:

Professor universitário e da rede pública estadual.

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