Humana beleza de ser empático

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Segue um belo exemplo de uma situação vivida que alguém aproveitou para enxergar o que não estava enxergando; para vivenciar a sensação maravilhosamente gratificante de ser empático.

Há situações que mudam nossas vidas. Uma delas é quando percebemos em nós, de repente, a humana beleza de ser empático. Até o nosso céu, como na foto, ganha cor.

Aleixo da Rosa conta, na crônica “Em todos os lugares” (CANALS, A.R. Coletânea: 2017. PPF), de uma “experiência modificadora de vida” que se passou com ele quando na escola.

Havia uma menininha, com seu vestidinho branco, com uma fita no cabelo, tímida, da qual todos zombavam por ser negra, por ser pobre. “A turma tinha um apelido para ela, um dos mais cruéis já ouvidos e repetidos por mim: Tição do Inferno”.

Certo dia, alguém derrubou o estojo dela no chão. Aleixo abaixou-se com intenção de pegar o estojo e jogar longe. Mas, nesse exato momento, ouviu a voz da professora a elogiar sua atitude de juntar o estojo para a coleguinha. Ele não sabia que a professora estava na sala. “Não tive outra opção, assim, a não ser juntar os materiais para minha colega. A menina não percebeu minha intenção inicial, ficou profundamente tocada, e disse-me obrigada, muitas vezes. Seus olhos se encheram de lágrimas por aquele gesto, tão simples. Senti-me a pior pessoa do mundo…”.

Uma lição para a vida, descreve Aleixo em sua magistral crônica.

“Naquele dia, sem querer, eu comecei a aprender o que é ter ética. Também aprendi que, comumente, a multidão está errada. É preciso tomar cuidado ao seguir a turba, ao fazer o comum simplesmente por que é comum”.

Um belo exemplo de uma situação vivida que alguém aproveitou para enxergar o que não estava enxergando; para vivenciar a sensação maravilhosamente gratificante de ser empático. Aleixo alertou que a tristeza do racismo, e outras tantas discriminações, podem existir “em todos os lugares”, daí o título de seu texto.

Há humanidade na menininha, ela agradeceu. Há humanidade em Aleixo que teve, inclusive, a bondosa coragem de contar o que se passou. E há humanidade em nós que desejamos fazer o possível e o impossível para que “menininhas de vestidinho branco e fita no cabelo” nunca mais sofram o que já sofreram.

Leia também reflexões de Aleixo, citado nesta crônica: https://www.neipies.com/author/aleixo_rosa/

Autor: Jorge Alberto Salton

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