Eureca no caminhar pensante

1926

“Só consigo pensar quando caminho. Minha mente só funciona com minhas pernas”. (Jean Jacques Rousseau)

Eureka: Exclamação de Arquimedes tornada proverbial, ao descobrir, no banho, a lei do peso específico dos corpos. Dizem que ele ficou tão entusiasmado com a descoberta que saiu imediatamente do banho e correu nu pelas ruas de Siracusa gritando:

Eureka, que em grego significa descobri, encontrei. Arquimedes encheu o balde de água e concretizou sua hipótese. Depois da descoberta a humanidade caminhou a passos largos, libertando-se dos mitos, do criacionismo e do teocentrismo, andando lado a lado com a ciência.    

Considerando que vivemos num mundo opressor, caótico e estressante, rodeados por obrigações, cobranças e de todos os tipos de responsabilidades, é concebível imaginar uma realidade em que as pessoas começam a dedicar parte do dia a duas ações concomitantes: caminhar & pensar.

Na novela Caminhando na Chuva, o escritor gaúcho Charles Kiefer conta a história de Túlio, um jovem pobre, filho de imigrantes alemães, que vive numa pequena cidade do RS. Enquanto caminha na chuva, pensa sua condição de pobre, seus amores, sonhos, medos e desilusões. Caminha na chuva para limpar sua alma, enquanto os habitantes bisbilhoteiros e chatos seguem suas rotinas recolhidos em suas rotineiras cavernas domésticas.  

Do ponto de vista lúdico, o sonho de milhares de pessoas, depois de muito trabalho, estudos com desgastes físicos e mentais é ir às praias por uma temporada para fins de renovar as energias corporais e desanuviar a mente. O mais comum a se observar são as caminhadas ao longo da praia, muitas vezes empreendidas solitariamente, ou em pequenos grupos.  

Os que andam sozinhos demonstram estar pensando na vida, nos negócios nos projetos futuros.

Por sua vez, os que andam em grupos trocam experiências de vida, relatam fatos e projetam o futuro presente. Caminham quilômetros, usando poucas roupas, pés no chão, a sentir o toque da natureza na areia úmida e salgada.

Diria que os que caminham em grupos estão na condição de desapegados. Naquele espaço parece não haver categorias sociais, diferenças políticas, múltiplas etnias. Um paraíso! São pequenos seres da terra diante da imensidão do mar e da finitude das coisas, em que as pessoas exercem o pensar e se locomovem como as ondas do mar.

Romeiros, peregrinos, andarilhos e andantes. Multidões em busca de um sentido à vida. Passeatas, manifestações, protestos. Todos a caminhar, pensando publicamente encontrar alternativas dialogadas para a solução dos problemas, especialmente aqueles de ordem política, econômica e ética. Sem-teto, sem-terra, sem rumo a caminhar, requerendo terra e moradia digna para dar sentido e conforto à vida.

Como se observa, cada dia é mais visível, especialmente à tardinha, observar que a população exerce o ato de caminhar pelo menos uma hora por dia pelas ruas, avenidas e rodovias do entorno das cidades, quer pequenas, médias e grandes.

O velho ensinamento Mente sana in Corpore sano – Mente sã, Corpo são – se renova a cada novo tempo, mesmo que a pandemia tenha inibido a mobilidade das pessoas por força do lockdown. O fato de andar, mesmo que seja devagar e sem propósito, libera energias para a mente vaguear livremente e fazer associações inesperadas, necessárias para reestabelecer o equilíbrio de cada um.

Para o poeta Drummond, há pedras no meio do caminho, o que, sem dúvida, constitui um grande acontecimento. Por isso mesmo, há que se pensar no caminhar pensante, alternativas para se evitar o choque com as pedras, pois são mais duras do que o frágil ser humano. Levanta hipóteses: saltar sobre elas, passar por baixo ou, simplesmente, buscar um suave desvio.

Não estranhe, caro leitor(a), se no teu caminhar pensante encontrar pessoas pronunciando Eureka! Eureka!  Eureka!

Assista ao vídeo “A inteligência também caminha”. https://www.facebook.com/watch/?v=767518007295482

Autor: Eládio V. Weschenfelder

PROPOSTAS DE ATIVIDADES PEDAGÓGICAS

(Marciano Pereira, professor de filosofia)

Essa proposta pode ser desenvolvida junto a turmas do fundamental II e ou Ensino Médio, em mais do que uma aula, a depender da intencionalidade e adaptação que o / a docente pode fazer.

Objeto do conhecimento.Os peripatéticos / Aristóteles.

Habilidades[1].

  • Entender o método de ensino utilizado por Aristóteles e seus discípulos.
  • Conhecer, ainda que em partes, a proposta filosófica de Aristóteles.
  • Vivenciar uma experiência peripatética visando desenvolver as o raciocínio lógico, o diálogo, e a empatia. 

Competências

  • Desenvolver o raciocínio lógico;
  • Construir sínteses acerca dos conteúdos abordados tendo em vista o desenvolvimento da escrita criativa, lógica e comprometida com a verdade.
  • Utilizar diferentes gêneros e meios para aproximar-se cada vez mais do pensamento filosófico.

1º Assistir um dos vídeos a seguir:

¿QUIÉNES ERAN LOS PERIPATÉTICOS? Serie TV Merlí

Assista ao vídeo “A inteligência também caminha”. https://www.facebook.com/watch/?v=767518007295482

2º. Ler com os estudantes o texto “Eureca no caminhar pensante”, em seguida destacar partes do texto que mais chamou atenção e justificar porquê. (A intenção desta tarefa é perceber a compreensão do estudante, seus gostos, aptidões – isso pode ser muito útil para o planejamento da tarefa que será sugerida no final desta proposta).

3º. Partilhar os destaques do texto e falar sobre a metodologia que Aristóteles utilizava na sua academia fundada em 335 a. C em Atenas.

  1. A academia Aristotélica conhecida como Liceu, tinha como método um ensino que se dava junto com o ato de caminhar, assim desenvolvia-se a observação da natureza junto com a educação do corpo. Também nós, estudantes e professores aprendemos continuamente a partir da observação e da reflexão características necessárias para o filosofar.  
  2. Chamar atenção para o termo academia, mais conhecido nos dias de hoje como local para cuidado do corpo / físico, chamar atenção para o sentido grego de educação integral, intelectual e física/corporal. Frisar a importância dessa concepção mencionado trecho do texto “O velho ensinamento Mente sana in Corpore sano – Mente sã, Corpo são – se renova a cada novo tempo, mesmo que a pandemia tenha inibido a mobilidade das pessoas por força do lockdown. O fato de andar, mesmo que seja devagar e sem propósito, libera energias para a mente vaguear livremente e fazer associações inesperadas, necessárias para reestabelecer o equilíbrio de cada um”.
  3. Mencionar uma breve biografia de Aristóteles, principais temas abordados, a relação de proximidade e divergência deste com Platão, especialmente no tocante ao que podemos chamar de teoria do conhecimento.

 4. Fazer a experiência de aprender andando como os peripatéticos. De que forma? Sugiro a construção de uma trilha com desafios lógicos, “experiências sociais”, questões sobre conteúdos já estudados, sobre o filosofar em nossos dias. Onde?  Sendo possível no espaço da escola ou ainda em um trajeto previamente estabelecido que inicie na escola e termine em uma praça onde a atividade possa ser finalizada.  Possibilidades para compor a trilha:

a) Desafios lógicos, charadas,( para exercitar o raciocínio lógico);

b) “Experimentos sociais” como: andar com os olhos vendados deixando-se conduzir por colegas; caminhar com um “rótulo” na testa ou colado nas costas. Possíveis rótulos pobre, faminto, negro, LGBT, sem teto, empresário, político.   (Para fomentar a empatia, a solidariedade e o respeito a diversidade).

c) Propor dilemas éticos para refletirmos sobre a implicância de nossas escolhas na construção da sociedade.

d. Outras possibilidades que nascerem de sua criatividade e experiência docente.

5. Síntese. Solicitar que os estudantes escrevam uma memória da experiência, ou ainda escolham o gênero: poesia, história em quadrinhos, texto dissertativo para expor como foi a experiência e que aprendizados ela possibilitou.

Algumas perguntas para ajudar o estudante na elaboração de seu trabalho síntese.

* Como foi a experiência da trilha?  Quem você viu, como reagiu diante dos desafios propostos?

* Algum acontecimento do caminho lhe chamou mais atenção, porque?

* Nós podemos ser os peripatéticos do século XXI? Como precisamos agir para sermos peripatéticos?


[1] As habilidades e competências precisam ser adaptadas de acordo com o sistema de ensino a que pertenças. Colocamos aqui habilidades e competências que estão em consonância com uma compreensão de ensino de filosofia e dialogam com a BNCC.

Edição: Alex Rosset

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