Escolas na pandemia: horizontes de dentro e de fora delas

1608

A escola faz parte da sociedade, é uma organização que compõe a dinâmica social e por isso qualquer saída ou solução sobre retorno às aulas presenciais dependerá do comportamento do vírus e do comportamento da sociedade.

Giane Guerra, jornalista, expôs, de forma brilhante, uma opinião pessoal com refinado trato jornalístico sobre a relação deste momento da pandemia e a volta às aulas presenciais, em rede social sua no dia 06 de março de 2021. Leia na íntegra.

A pressão pela volta às aulas presenciais é justificada por muitas razões mas, principalmente, ocorre pela necessidade que as crianças, adolescentes e jovens têm da socialização, do encontro, do convívio e do prazer em conviver coletivamente.

Após leitura e interpretação desta crônica, construímos convicção de que o seu conteúdo interessa aos leitores do site, aos pais e mães, aos professores e professoras, aos estudantes e à toda comunidade que vive a angústia pela volta às aulas de forma presencial.

Levando em conta a sua forma e seu conteúdo, resolvemos repercuti-la por conta de seus pertinentes argumentos e ponderações sobre tão delicado e controverso tema que vem pressionando a sociedade gaúcha: a abertura das escolas para as aulas presenciais.

Ao analisar a crise pandêmica e as consequências dos filhos estarem em casa há mais de um ano, a jornalista pondera que este momento é o mais crítico para enviá-los à escola, justamente pela agressividade das novas variantes.

Assim escreveu: “não estamos lidando com o mesmo vírus do ano passado. Elas avançam em ambientes onde imunizados e não imunizados convivem e geram os escapes para surgimento das variantes, potencializada pela vacinação no ritmo que temos. Tenho ainda o receio do comportamento das pessoas fora da escola. A situação se agravou porque a população buscou uma “normalização” da vida quando se aplicava ainda meia dúzia de vacinas lá em janeiro. Imagina agora”.

Como a maioria dos pais e mães, a crônica da jornalista aborda que o maior medo dos adultos é mesmo um medo pelas crianças, um medo de fazê-las sofrer, um medo de perdê-las.

Revelando conhecimento das peculiaridades e diferenças entre escolas das redes de ensino privadas e públicas, Giane Guerra se posiciona: “há o abismo entre educação pública e privada, pais que não têm onde deixar os filhos, famílias que não se adaptaram ao homeschooling, mas estamos em um dos piores momentos da pandemia fora da escola e sabemos que o distanciamento entre crianças e adolescentes não acontece de forma tão efetiva para realmente não ocorrer a transmissão”.

De maneira objetiva e jornalística, Guerra acha que é momento, sim, de discutir a volta às aulas, mas levanta questionamentos bem pertinentes: as famílias estão engajadas realmente nos seus protocolos familiares fora da escola? Estamos preparados se as variantes chegarem nelas com mais força? Nosso sistema de saúde está? Nosso coração e mente estão preparados?

Guerra faz menção a consulta que fez a um médico virologista, professor da Feevale e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Virologia.

Em respostas a algumas de suas perguntas, o especialista referiu que, infelizmente, as novas variantes estão associadas a casos mais importantes em adolescentes e que esta questão precisa ser considerada no retorno às aulas. O especialista ainda refere que seria necessário um esforço concentrado da sociedade mais a vacinação para conter novas variantes. “Já vemos bons efeitos nas poucas faixas etárias vacinadas, mas isso pode se perder se continuarmos com novas mutações”.

Sobre a volta às aulas, o consultado explica que a questão central sobre a circulação das crianças nas escolas é que estas acabam conectando famílias que, de outra forma, não estariam ligadas. A volta às aulas deveria ser pensada fora do pico da pandemia. A volta segura às aulas deve ser em período de pouca circulação do vírus.  Mesmo com a vacinação dos professores, é importante que se considere o contexto de que há uma população da escola em risco do vírus ou de transmitir o vírus. Quer pensar na escola? Tem que pensar o horizonte fora da escola, como está o vírus fora da escola, enquanto a vacinação não estiver universalizada”.

Sobre a educação infantil, a constatação do especialista é de que o distanciamento físico é difícil e que as crianças podem excretar cargas altas de vírus, se tiverem infectadas. Por outro lado, como toda sociedade reconhece, a educação infantil é o setor mais frágil no sentido da sustentabilidade financeira das escolas e da necessidade de trabalho das famílias e pela necessidade de muitas famílias não terem onde deixar os filhos para poder trabalhar.

Como observamos na crônica que estamos analisando, as implicações e a complexidade da volta às aulas presenciais, no pior momento da pandemia no Brasil e no RS, são enormes e de proporções incertas.

A escola faz parte da sociedade, é uma organização que compõe a dinâmica social e por isso qualquer saída ou solução sobre retorno às aulas presenciais dependerá do comportamento do vírus e do comportamento da sociedade.

O retorno às aulas presenciais deverá ser feito de forma segura e no melhor momento de enfrentamento da pandemia. O funcionamento regular das escolas movimenta toda a sociedade, envolve os pais, mães, tios, avôs e avós, professores e professoras, funcionários e funcionárias, gestores e gestoras, podendo irradiar a disseminação do vírus, com consequências em toda sociedade.

Escolas abertas e funcionando regularmente não são a solução para os problemas decorrentes do impacto da pandemia na sociedade, mas podem colaborar, no momento mais apropriado, para a construção de soluções que valorizem a vida e promovam a saúde e o bem-estar de toda sociedade.

As experiências de enfrentamento ao coronavírus mais bem sucedidas no planeta colocaram a vida em primeiro lugar e já estão colhendo os frutos da retomada da economia. Todavia, como uma tática para desagregar ainda mais a população, no Brasil resolveram abrir escolas no pior momento, forçaram as pessoas ao trabalho presencial, mesmo sabendo que logo teriam que fechar e que seriam necessárias medidas mais restritivas, por força das mortes, do colapso da saúde ou de decisão da Justiça.(Aline Kerber) Leia mais!

Autor: Nei Alberto Pies

Edição: Alex Rosset

DEIXE UMA RESPOSTA