Educar por ideologia ou pela esperança?

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Não existe, em se tratando em educação,
a ausência de neutralidade.

Por tempos ouço e me calo. Interiorizo. Mas agora falo. “Escola Sem Partido”, sim, porém esse discurso já vem carregado de pensamento ideológico. Não existe, em se tratando em educação, a ausência da neutralidade.

Precisamos retomar alguns conceitos educacionais. Educar parte do princípio da transformação. Que transformação é essa? É para que o indivíduo aceite sua condição social, sem que ao longo da escola não desenvolva sua autonomia de criticidade para perceber que a luta de classe existe e essa realidade não é a de se conformar.

 Não podemos negar que o professor tem a obrigação de trabalhar com o conteúdo que é determinado pelas bases nacionais, no entanto, um papel, que é inerente ao educador de qualquer área do conhecimento, é despertar a esperança da transformação social. Não há como educar na neutralidade.

Aliás, o próprio enunciado discursivo, “Escola Sem Partido”, já traz na sua essência a ideologia que determina que a educação deixe de ser ferramenta do despertar para o levante da desigualdade social. A grande massa das nossas escolas públicas, inclusive os professores, vem de uma exclusão social em favorecimento da elite brasileira e, dessa forma, nessa elite se pode incluir, inclusive, políticos que defendem essa ideologia.

No entendimento dessa ideologia, é que devemos apresentar dois lados da história, porém, muitas vezes, a história só tem um lado que podemos, de sã consciência defender. Esse lado é o das injustiças sociais. Para ser mais claro, vou dar um exemplo. No trabalho da Literatura Romântica, com o Segundo Ano do Ensino Médio, apresento a grande problemática do indígena, na voz dos textos de Gonçalves Dias e a escravidão, no clamor dos textos de Antônio de Castro Alves. É impossível achar que se tratando de massacre e exploração de seres humanos, eu proferir um discurso, enquanto professor, achando e tentando convencer os alunos que a posição, tanto dos colonizadores, como dos senhores de escravos, tem certo grau de positividade. É claro que o meu papel não é só apresentar o conteúdo, porém é meu dever fazer o aluno entender que algo está errado. Ou não está?

Ou ainda quando eu trabalho com o Texto do Fernando Sabino, A Piscina, que fala da mulher que invadiu a mansão no Rio de Janeiro, porque na favela não havia água para beber e pegou água da piscina com um balde e saiu.

O meu papel enquanto professor de língua e literatura é, além de trabalhar os tempos verbais, que dão significado ao texto, fazer o aluno entender que há contrastes sociais e que isso não é positivo em se tratando na essência da cidadania. Quer dizer se a mulher da mansão é brasileira e vive em determinadas condições, tanto como a mulher da favela tem os mesmos direitos cidadãos. Caso contrário, algumas injustiças estão sendo cometidas e indevidas.

É preciso dizer que se tratando de linguagem humana, ela sempre virá carregada de ideologia, pois o discurso proferido é uma escolha de um sujeito sócio-histórico e traz de ideologias fortemente carregadas.

Quem profere o discurso de “Escola Sem Partido”, automaticamente é ideológico. Pois não existe imparcialidade, neutralidade e objetividade no discurso, pois entendemos que para formar determinado enunciado houveram escolhas de palavras em detrimento de outras.

Entendemos que “Escola Sem Partido” já é um partido, carregado de ideologias, dentre elas a desmoralização da educação e dos que a fazem. Esse discurso tem um objetivo, não é por acaso que ele foi proferido. E eu diria mais, que esse discurso é produto de um sujeito, histórico, ideológico e espacial. Fica a dica.


O projeto versa sobre a ética profissional do professor em sala de aula, criando uma série de regras comportamentais contra o “abuso da liberdade de ensinar”. O projeto cria canais de denúncia, incentivando pais e alunos a denunciar professores, inibindo a atuação de educadores”. (Luciano Pimentel, professor rede estadual)

O professor é condenado porque tem de trabalhar com a esperança. Esperança da inclusão social. Esperança da busca dos direitos inerentes ao ser humano. Esperança!

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