Educar ou doutrinar sem escola?

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Num cenário intensa desconfiança em relação aos professores,
chamados, não raro, de doutrinadores, considerar primeiro
a educação domiciliar significa colocar mais lenha na
fogueira desse conflito, produzindo também uma
cortina de fumaça para a segurança
do direito à educação.


A discussão sobre educação domiciliar (“homeshoolling”) é bastante ampla, porém a defesa dessa ideia no Brasil tem ocorrido de forma limitada.

Avalia-se a escola pelos seus déficits, tanto públicas quanto privadas, em relação ao conteúdo, às formas de inclusão e aos resultados e são propostas soluções simplistas e restritas para um pequeno grupo. Mas essa política deveria ser prioritária se pensamos que há pelo menos 1 milhão de jovens fora da escola no país por conta da pobreza e da violência?



“A grande motivação dos defensores do modelo, seria a violência e o bullying sofrido pelos estudantes, além de incompatibilidade moral e religiosa das famílias com o sistema escolar. Mas será mesmo? Ou seria um processo de salvamento seletivo para um modelo educacional moribundo?” (Amilton Martins, professor)



A escola com todas as suas dificuldades ainda é o espaço garantidor de outros direitos. A cada 1% a mais de crianças na escola, reduz em 2% os homicídios (IPEA, 2016). Além disso, através dela se pode construir uma sociabilidade na diversidade, com a pluralidade de ideias e aprendizados.

Por melhores que sejam as mães e pais eles não poderiam ter a prerrogativa exclusiva de educação dos filhos e a Constituição Federal assim o diz, até porque as mulheres, em geral as cuidadoras dos filhos, não são recompensadas por este trabalho, fragilizando-as socialmente e em relação aos homens.


Em um cenário de intensa desconfiança em relação aos professores, chamados, não raro, de doutrinadores, considerar primeiro a educação domiciliar significa colocar mais lenha na fogueira desse conflito, produzindo também uma cortina de fumaça para a segurança do direito à educação.

E os pais que querem homeshoolling sem interferência do Estado não estariam pleiteando uma espécie de doutrinação, advogando por um projeto educacional de pensamento único, desconsiderando outras realidades, inclusive que 70% das crianças e adolescentes abusadas sexualmente são vítimas em casa?

 
Uma escola mais inclusiva e humanizadora precisa ser construída, com espaço para a subjetividade e rompimento dos preconceitos, fomentando seres livres, focados no bem comum, empáticos e capazes de resolver problemas concretos, sem tanto foco no individualismo e na competição, a começar pela experiência de aprender no coletivo, e nada como estar em uma sala de aula para barrar doutrinações e violências.



“Na minha experiência, se a escola se construir num espaço onde os estudantes são convidados a se encantar com os conhecimentos, onde sejam aguçadas as curiosidades sobre os conteúdos mais interessantes com ações pedagógicas dotadas de sentimentos e significados, formaremos mais que alunos. Formaremos seres humanos.” (Ivan Dourado, professor UPF)

Socióloga e presidente Associação Mães e pais pela democracia.

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