As aparências enganam: breve reflexão para cristãos ou não

1940

No primeiro domingo de outubro, o trecho do Evangelho lido para milhões de fiéis é um “manifesto” de Jesus contra a incoerência, a soberba e a falsidade (Mateus, 21, 28-32).

O Nazareno provoca os autoglorificados sacerdotes e anciãos do templo: vale mais falar ou fazer? Arrepender-se e seguir ou prometer e não cumprir?

Escolados na hipocrisia, esses poderosos mentirosos – algozes de João Batista, voz que clamava no deserto – não titubearam: “fazer, cumprir”.

Jesus, diante dos engalanados (e enganosos) “chefões”, é definitivo, revolucionário, contundente: “os publicanos (cobradores de impostos, considerados ladrões) e as prostitutas (alvo de toda sorte de discriminação) precederão vocês no Reino dos Céus!”.

Jesus desmascarou a elite mais poderosa de seu tempo, serviçais do Império Romano, ao afirmar que aquele(a)s tidos como os grandes “pecadores” da sociedade tinham muito mais valor que os que se julgavam maiorais, “doutores”, donos da verdade e da virtude.

Na prática, falsos “defensores da vida”, indiferentes aos sofrimentos e à humanidade aviltada dos semelhantes, que só viam como objeto de manipulação.

Jesus contraditava: o Deus do Amor abre suas veredas para os “improváveis”, os “imprestáveis”; o deus do poder só existe para os exibidos e cínicos que, com suas vestes douradas, fazem dele meio de submissão, negócio e mercado.

Jesus assinou sua condenação à morte, mas revelou a radicalidade de sua compreensão do mundo: o que vale é a autenticidade, a coerência, a dignidade, a simplicidade.

Os “perdidos” e desconsiderados serão salvos, voando livres; os arrogantes, oligarcas da religiosidade e do mando político, presos a seus ritos e ganâncias, não são nada do que aparentam…

“O homem que diz dou não dá/ porque quem dá mesmo não diz/ o homem que diz vou não vai/ porque quando foi já não quis” (Vinicius de Moraes e Baden Powell, “Canto de Ossanha”, 1966).

E você, está mais próximo de quem? Qual trilha você busca nessa vida?

Caminho aberto para os simples, porta estreita para os soberbos – Koinonia.

Autor: Chico Alencar

Edição: A. R.

Professor de História, mestre e doutorando em Educação e tem 35 livros publicados. Em 2022 foi eleito para seu 5° mandato como deputado federal, graças ao voto de 115.023 eleitores e eleitoras do Rio de Janeiro. Chico tem 30 anos de experiência na política institucional, ganhou nove vezes o prêmio de “Melhor Deputado” do site Congresso em Foco e já foi escolhido por jornalistas o parlamentar mais atuante do Brasil.

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