Templo é dinheiro?

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O lema franciscano devia valer para todos aqueles que se dedicam a propagar suas crenças, qualquer que ela seja: “fazer do necessário o suficiente e viver mais simplesmente, para que simplesmente todos possam viver”.

As igrejas de negócios e os “místicos” de ocasião, exploradores da boa-fé da nossa gente, desmerecem as religiões. São um contratestemunho.

A Receita Federal suspendeu ato descaradamente eleitoreiro de Bolsonaro, de julho de 2022, que ampliava a isenção de impostos (previdenciários e de renda) sobre a remuneração de chefes religiosos.

O privilégio foi suspenso por recomendação do Ministério Público ao TCU. Deveria ter sido anulado de vez, pois a simples suspensão não permite à Receita fazer cobranças retroativas.

O “favor” se soma a vários outros, como isenção de IPTU para templos (1988); IPVA para carros de igrejas (1997); sobre as contribuições de fiéis (2000); ICMS sobre serviços, como conta de luz (2019); flexibilização da prestação de contas das organizações religiosas que arrecadem menos de R$ 4,8 milhões (2019); perdão de dívida de R$1,4 bilhão do imposto sobre lucro líquido dos templos (2021); além da isenção de impostos para entidades filantrópicas vinculadas a instituições religiosas (2023).

Para alguns líderes ditos religiosos, tão apegados a ganhos materiais, isso tudo não é suficiente. Sua reação à suspensão das contribuições sobre a remuneração direta – a que todos nós estamos sujeitos – foi irada e vergonhosa: “perseguição!”, “a esquerda odeia os evangélicos”, “a bancada evangélica vai retaliar o governo Lula”, vociferaram.

Esses “cristãos” andam esquecidos do alerta de Jesus (em Mateus, 6:24): “vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro”. Para alguns mercadores da fé, “Jesus é o caminho”, mas cobram pedágio e enriquecem pessoalmente. Prosperidade para uns poucos, que têm gordas contas bancárias, jatinhos e imóveis de luxo, até no exterior. Onde fica a espiritualidade?

O lema franciscano devia valer para todos aqueles que se dedicam a propagar suas crenças, qualquer que ela seja: “fazer do necessário o suficiente e viver mais simplesmente, para que simplesmente todos possam viver”.

As igrejas de negócios e os “místicos” de ocasião, exploradores da boa-fé da nossa gente, desmerecem as religiões. São um contratestemunho.

Autor: Chico Alencar. Também publicou “Compro, logo existo?”: https://www.neipies.com/compro-logo-existo/

Edição: A. R.

Professor de História, mestre e doutorando em Educação e tem 35 livros publicados. Em 2022 foi eleito para seu 5° mandato como deputado federal, graças ao voto de 115.023 eleitores e eleitoras do Rio de Janeiro. Chico tem 30 anos de experiência na política institucional, ganhou nove vezes o prêmio de “Melhor Deputado” do site Congresso em Foco e já foi escolhido por jornalistas o parlamentar mais atuante do Brasil.

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