Agricultura, Justiça e o Pacto de Assis

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O Papa Francisco propôs encarnação para a construção de Economias de Terra e Caminho, ou seja, economias que tenham história, trajetória, inserção no território e um sentido de horizonte e caminhada, uma economia verdadeiramente humana e humanizada, que cuide de todos.

Neste texto, apresentaremos elementos do trabalho que os jovens que responderam sim ao chamado do Papa Francisco, elaboraram juntos em um processo que foi celebrado em setembro de 2022 em Assis, e que segue sendo um compromisso a transformar a economia começando pelos sistemas agroalimentares. O trabalho ao qual todo o povo de Deus é chamado, no realmar a economia, se inspira no chamado de Cristo a São Francisco: “vai e reconstroi a minha casa que, como você vê, está em ruínas”, o que significa começar escutar as injustiças que vemos e buscar construir a comunhão com quem vive e trabalha pela ecologia em nossos territórios, indo ao encontro, e exemplo do bom samaritano.

O enfoque nas juventudes é um convite a combinar o conhecimento científico ao qual muitas das novas gerações são chamadas a conhecer e a experiência e competências das formas de vida tradicionais em comunidade para co-criar respostas eficazes e proféticas com uma visão global e uma ação local.

Nossas ações locais são convidadas a aproximar dois elementos importantes do ensinamento do Papa Francisco: a ecologia integral enquanto paradigma e construir pontes entre todos os atores envolvidos na sociedade, ou seja, formar alianças pela vida.

Nesta 46ª Romaria da Terra do Rio Grande do Sul, ocorrida no dia 13.02.2024, fomos chamados a construir ações pela vida, direitos e conquistas das mulheres camponesas. Isto é crucial para resolver injustiças presentes em muitos setores, especialmente no setor da agricultura, uma vez que os sistemas alimentares envolvem vários atores da sociedade. O que aqui apresentamos são pistas para ações possíveis às nossas realidade a orientar os nossos passos futuros.

1. Ver as injustiças: em de diferentes territórios, culturas, origens e valores, três principais formas de injustiças persistem na produção de alimentos:

I. “O grito da Terra”: ameaças à biodiversidade de plantas e animais, uso massivo de produtos químicos que contaminam os solos, exploração indiscriminada de florestas e recursos hídricos, minimizar (tirar terras dos camponeses) falta e uso indevido de água, ciclones e outras consequências das alterações climáticas que causam incerteza e custos elevados para agricultores, resultando por vezes em migração e abandono da terra.

II. “O grito dos pobres”: marginalização e exploração de diferentes grupos: as mulheres, indígenas e demais populações tradicionais, comunidades quilombolas, pequenos agricultores, pessoas vulneráveis que sofrem de insegurança alimentar, e também o grito dos animais, da fauna e da flora silvestre. Os grandes empreendimentos para a agricultura, a mineração e o extrativismo não consideram estes gritos da terra e de seus habitantes, deixando um cenário de terra arrasada.

III. A perda do verdadeiro valor dos alimentos e a distribuição injusta do valor econômico na cadeia de abastecimento agroalimentar: as razões econômicas que estão na base da exploração da terra, geram lucro para um setor da sociedade, deixando muitos à margem dos fartos lucros obtidos a partir da terra e dos filhos da terra, o Papa Francisco tem denunciado e dito que isto não é economia.

2. Refletir juntos para responder às injustiças socioambientais e climáticas: os sintomas de injustiças são comuns a nível global, mas assumem características diferentes consoantes nos territórios. Por isso a nossa reflexão comunitária e participativa, é convidada a dar nova alma às economias de verdade, que nascem da vida em comum: Construindo e comunicando uma narrativa caracterizada por uma abordagem integral na produção alimentar, compartilhando realidades e soluções locais. Apresentar uma visão comunitária nas políticas públicas e estratégias ecológicas desde o nível local, nacional e internacional.

3. Chamados para a ação. É importante refletir bem para agir bem, por isso propomos, enquanto jovens que responderam ao chamado para uma Economia de Francisco, a construir uma nova aliança para mudar os Sistemas Agroalimentares, o que implica a ajuda de todos nós, incluindo aqueles que têm a responsabilidade e o papel crítico de tomar decisões económicas e políticas e difundir uma nova narrativa. Para tanto é fundamental um processo contínuo para construir ações sustentáveis através nos locais onde atuamos, orientando nossas ações para ouvir as injustiças que ferem a terra e os pobres da terra, buscando solucioná-las.

O Papa Francisco nos propôs encarnação para a construção de Economias de Terra e Caminho, ou seja, economias que tenham história, trajetória, inserção no território e um sentido de horizonte e caminhada, uma economia verdadeiramente humana e humanizada, que cuide de todos.

REFERÊNCIA: https://francescoeconomy.org/

Autoria: Este texto é uma síntese de algumas ideias apresentadas pela Vila Agricultura e Justiça da Economia de Francisco, reunidos em Assis, em 22 de setembro de 2022. Gabriela, Federica, Maria Virgínia, Catalina, Mateusz, Andrei Thomaz e outros jovens que trabalharam neste processo podem ser contatados através do endereço: agricultureandjustice@francescoeconomy.org

Edição: A. R.

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