Somos seres humanos com esperanças e desejos.
Agora pergunto: Será que a esperança e a
ilusão estão numa linha tênue?

 

Como de conhecimento literário, sabemos que a maioria dos textos brota como um insight na mente do escritor, com esse texto não poderia ser diferente, porém ele brotou na sala dos professores, quando me deparei com um colega degustando sua refeição rápida no intervalo da manhã para tarde. Por ele estar comendo apressadamente, pois logo o sinal anunciaria o início das atividades do turno da tarde, não me surpreendeu, porque na vida de um trabalhador passa, inclusive, despercebido, porém o que me prendeu o olhar foi que ele estava comendo umas folhas de rúcula, queijo branco e frutas. Não me contive, logo, abordei-o: – Professor, isso te sacia a fome? Ele sem hesitar me respondeu: – A vida é uma ilusão e a gente se ilude com tantas coisas! Frente a essa resposta do colega surge um insight para escrever este texto que hora você lê.

Assim, com essa resposta, o colega me desestabilizou. Desestabilizar significa para um escritor, o provocar para a escrita. Será que a vida é uma ilusão? Vivemos de ilusão? Ilusão ou desilusão? Tudo o que vivemos torna-se ilusório? Questões que permearam  automaticamente meu cérebro.  E decidi escrever uma crônica para compartilhar essa reflexão.

Somos seres humanos com esperanças e desejos. Agora pergunto: Será que a esperança e a ilusão estão numa linha tênue? Precisamos de certas ilusões? Precisamos acreditar em algumas ilusões que são desejos de aperfeiçoamento humano na terra? Eu quero trazer aqui, segundo a minha concepção uma divisão entre ilusão/desejar/querer/crescer de ilusão/acomodação/tapar os olhos.

Assim, quando ouço ou dizemos que este ano perderei tantos quilos. A ilusão de encontrar nossa cara metade. Que aquela música vai aliviar a dor. Que poderemos mudar o mundo. Que o casamento vai durar até que a morte nos separe. Que a juventude tem jeito. Que a educação é a essência social. Que a leitura transforma. Que é com a luta que conquistamos direitos. Que podemos acreditar no ser humano ou ainda que os sonhos não são mentiras. Isso tudo, me faz entender que essa ilusão, na verdade, é a esperança que trazemos dentro de nós.

Quem seríamos nós se não acreditássemos que a cada dia podemos ser melhores ou que o mundo pode ser melhor a cada dia vivido. Quem seríamos nós se não tivéssemos ilusões que se transformam em esperança?

Realmente vivemos em tempos líquidos, segundo teoria de BAUMAN. Teoria essa que traz tal denominação porque os líquidos não mantém sua forma com facilidade, não fixam espaço nem prendem o  tempo, não se atêm muito em qualquer forma, movem-se facilmente. Os afetos são líquidos, a felicidade efêmera, os relacionamentos se dissolvem. Isso é o que chamo de ilusão/acomodação. Acreditar que a roupa trará a felicidade. A marca estabelecida por uma grande empresa me fará alguém de prestígio. Se pudesse comprar aquele carro seria feliz. Se fulano/fulana me quisesse encontraria a felicidade. Isso tudo se resume em sentimentos líquidos. Líquidos estão nos olhares ilusórios do consumismo.

A vida se torna líquida quando esquecemos e ignoramos o céu, a lua e as estrelas.

Por outro lado, podemos observar essa geração líquida que não é de todo ruim, pois consegue adaptar-se com mais facilidade. As mudanças não os incomodam. Porém o que cabe a nós é trazer o equilíbrio entre o passado e o presente porque não podemos ser totalmente líquidos, nem totalmente sólidos.

Essa geração precisa entender que os valores têm de ser sólidos. O amor é sólido. O afeto deve ser sólido, para que a vida emocional não se lidifique. Nem tudo que é passado é ruim. Para construir nossa identidade, precisamos de solidez e não de liquidez. Para dominar o que virá precisamos dominar o presente e buscar base no passado. Por isso, nem tudo pode representar “mico”, por exemplo: tomar chimarrão não é perda de tempo.

Conversar com a família só ajuda. Passear num parente pode ajudar trazer identidade. Rever amigos distrai as tensões cotidianas. Dançar pode ser um momento de construção psicossocial. Pois as ilusões que trazem negatividade estão na vivência, que muitas vezes, não percebemos. As mensagens são descartáveis. As escritas são efêmeras. Os sentimentos efêmeros. Guardar coisas é ultrapassado.

Depois de tudo isso, fica a folha que cai para brotar outra e não para morrer. A noite que traz a noite não para entristecer, mas para percebermos o sol. Mantemos o que vale para florescer não só para iludir. Ilusão para acreditar. Para lutar. Para sermos melhores. Seremos líquidos para a mudança de atitude positiva. Líquido que transforma em sólido os sentimentos, os afetos e a felicidade. Esperança que aviva a alma e o coração. Jamais ilusão que nos tapa os olhos e nos acomoda.

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