A Ilíada na Cultura Grega

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Em nosso tempo, infelizmente, apesar de tantos recursos e facilidades, arquitetar maldosamente as estratégias da ganância e da mentira, substituíram o cultivo das virtudes resultantes da uma sólida formação.

Não se pode compreender as raízes da cultura ocidental sem falar da Grécia Antiga e do seu legado para a constituição do pensamento ocidental. Os livros de história mencionam com propriedade o papel que os gregos tiveram no desenvolvimento das distintas áreas do conhecimento: filosofia, artes, política, retórica, religião, economia, direito, dramaturgia, as ciências de modo geral.

Dentre as diversas obras que ainda estão associadas a Grécia Antigo estão a Ilíada de Homero. Não se sabe ao certo se Homero foi um historiador, poeta ou se de fato tenha existido. Seu próprio nome tem sido traduzido de várias formas: “aquele que não vê”, “aquele que põe ordem nas coisas”. O certo é que a Ilíada continuam sendo lida até os dias de hoje e possui uma qualidade literária marcante e profundamente expressiva.

A Ilíada é composta de 15.693 versos, onde cada verso é composto de seis sílabas longas e duas breves e narra a famosa guerra de Tróia. A cidade de Tróia, que estava localizada onde hoje é a Turquia, foi destruída por volta de 1.200 a.C.

Não se sabe ao certo se de fato essa guerra aconteceu, mas da forma como é narrada na Ilíada mostra os feitos heroicos dos gregos (também chamados de aqueus) que atacaram a cidade, buscando vingar o rapto de Helena, esposa de Menelau, irmão de Agamenom e rei de Esparta.

Homero utilizou-se dos mitos para construir a narrativa que passou a dar identidade ao povo grego. Tudo começa quando Tétis, a ninfa do mar que era desejada como esposa tanto por Zeus (deus supremo do Olímpo) quanto por seu irmão Posseidon (o deus do mar). Prometeu (o deus que entregou o fogo aos homens) fez uma profecia, dizendo que o filho da ninfa seria maior que seu pai.

Temendo que a profecia se cumprisse, os deuses pretendentes resolveram dar a ninfa como esposa para Peleu, um mortal já idoso, e com isso esperavam que seu filho seria fraco, um simples humano. O filho de Tétis e Peleu tornou-se Aquiles, o guerreiro que lutou na guerra de Tróia. Sua fortaleza se deu em função de que sua mãe, mergulhou quando ainda era bebê nas águas do mitológico rio Estige. As águas tornaram o herói invulnerável, exceto no calcanhar, por onde sua mãe o segurou para mergulhá-lo no rio. Desta narrativa mítica vem a expressão utilizada até hoje de “calcanhar de Aquiles”, significando, ponto vulnerável.

A mãe de Aquiles profetizou que ele poderia escolher dois destinos: ir para a guerra, alcançar a glória e morrer jovem; ou permanecer na sua terra natal, ter uma vida longa e ser logo esquecido. Aquiles optou pelo primeiro destino e seus feitos são lembrados até nossos dias.

A Ilíada constitui a base da educação grega na antiguidade. Os feitos de Aquiles e seus companheiros eram amplamente relembrados e recontados como processo formativo para as inúmeras gerações que compuseram a celebrada cultura grega. Lealdade, justiça, honra, coragem, honestidade, coletividade eram virtudes importantes extraídas da Ilíada para formar as novas gerações.

Em nosso tempo, infelizmente, apesar de tantos recursos e facilidades, arquitetar maldosamente as estratégias da ganância e da mentira, substituíram o cultivo das virtudes resultantes da uma sólida formação.

Flertar com boatos que se espalham pelas redes sociais e promover a difamação do outro se tornou mais importante do que incentivar e educar as novas gerações para que se sintam encorajados em construir uma sociedade decente ancorada na justiça, na verdade e no bem.

Ler os clássicos e aprender com a tradição se constitui um desafio educacional que vai para além da escola e que deveria germinar nas relações familiares para nossa existência pudesse ser digna de ser vivida.

Dr. Altair Alberto Fávero

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