7 dicas para incorporar a aprendizagem por pares a sua aula

1251

A necessária mudança do modelo educacional surge diante de um mundo em constantes (e rápidas) transformações. Consequentemente, a aprendizagem por pares integra os estudantes.

“Ensinar é aprender duas vezes”. E que tal utilizar esse pressuposto para tornar o estudante mais ativo na construção do conhecimento? Que tal incentivar a aprendizagem por meio do protagonismo dos estudantes?

Vários autores defendem a cooperação, ou seja, o trabalho em grupo como parte fundamental de um bom aprendizado. Vygotsky (1896-1934), por exemplo, já chamava a atenção para a importância da interação entre o estudante e o docente e entre os próprios estudantes em situações de aprendizagem.

Nesse sentido, a aprendizagem por pares é um termo usado para descrever uma grande variedade de acordos de tutoria. No entanto, ela pode ser resumida, grosso modo, como uma abordagem onde os estudantes trabalham em pares para ajudar uns aos outros a aprender sobre conceitos ou desenvolver uma atividade acadêmica. Nesse contexto, o professor torna-se mediador desse processo. Acompanha, avalia e orienta de modo personalizado o desenvolvimento de cada estudante.

Se você está em busca de dicas sobre como incorporar essa abordagem em sua prática docente, compartilhamos a seguir 6 boas práticas para você se inspirar, adaptar e incorporar às suas aulas. Confira:

Como posso incorporar a aprendizagem por pares?

1. Enfatizar a importância da aprendizagem ativa

Parece óbvio! Mas, a inclusão e explicação aos estudantes sobre o funcionamento deve ser bem elaborada. Recomendamos a criação de um documento onde estejam explicitadas as regras, informações importantes e os estudantes possam consultar, em caso de dúvidas.

Atualmente, muitas instituições estão buscando promover métodos de ensino que envolvam o aprendizado “ativo”. Contudo, essa mudança de paradigma é delicada e complexa para todos os envolvidos. Portanto, além de todo o planejamento e capacitação é preciso também explicar, ouvir e incluir os estudantes para que o processo seja implantado dentro do contexto de atuação da instituição. Mitigando com isso os riscos e problemas já diagnosticados.

Esses métodos e abordagens apresentam oportunidades para que os estudantes formulem suas próprias questões, debatam e expliquem seus pontos de vista. É preciso enfatizar como será a rotina de trabalho e quais benefícios serão alcançados (aulas mais dinâmicas, jogos, resolução de problemas, desafios interdisciplinares etc.).

O trabalho em grupo também transforma o papel do professor. Que passa a criar as condições para que os estudantes tomem decisões e resolvam as situações-problema sem ter o processo todo dirigido. Nesse contexto, o docente define a atividade, orienta e corrige as rotas, indica materiais e explica regras.

Essas atitudes permitem que os estudantes se envolvam na aprendizagem colaborativa. Trabalhem em equipes, com resolução de problemas ou por projetos. A inversão de papéis, os estudos de caso e os projetos integrados são outras estratégias de ensino significativos e eficazes que estimulam e incentivam a aprendizagem entre pares.


2. Escolher a atividade e a mídia apropriada 

Adotar uma abordagem didática para uma aula requer planejamento. Colocar simplesmente os estudantes em grupos ou pares e delegar qualquer atividade para “trabalhar em conjunto” não surtirá, provavelmente, resultados significativos.

É preciso, portanto, pensar no conteúdo a ser ensinado. E a partir daí adaptar ou elaborar uma atividade com o(s) objetivo(s) de aprendizagem bem delimitado(s). Em seguida, deve-se escolher o suporte/mídia adequada para tal atividade (papel, cartolina, celulares, tablets, livros etc.). A escolha da mídia pode determinar maior ou menor engajamento por partes dos estudantes.

Por fim, com o planejamento detalhado da aula, os estudantes compreenderão a finalidade da atividade e se envolverão, obtendo os benefícios da aprendizagem por pares.

3. Diagnosticar antes de agrupar

Com o objetivo de aprendizagem definido, o seguinte passo é conhecer bem as características dos estudantes. Saber suas preferências, dificuldades e nível de domínio do conteúdo é importante para iniciar uma abordagem de aprendizagem por pares. Portanto, recomendamos a aplicação de avaliações diagnósticas (formais ou informais) para, somente então, planejar as atividades que serão trabalhadas.

Uma maneira de realizar esse diagnóstico pode ser através de propostas de trabalho individual. Com base nos resultados analisados é possível formar duplas ou grupos cujas ideias, estratégias de resolução ou nível educacional sejam diferentes. Em seguida, duplas ou grupos com estratégias diferentes apresentam ao outro seu pensamento e em conjunto, todos elegem o caminho menos trabalhoso.

4. Criação de grupos

No processo de aprendizagem por pares a divisão do grupo vai variar de acordo com a finalidade da atividade. Entretanto, para fins de aprendizagem é recomendado fazê-lo com base nos diagnósticos. Colocando juntos os estudantes que têm saberes diferentes. Desse modo, todos aprendem, engajam-se e as atividades tornam-se mais produtivas.

Portanto, recomendamos que antes de pensar nos grupos seja considerado os níveis de conhecimento, habilidades e atitudes dos estudantes elencados nos diagnósticos.
Confira a seguir alguns exemplos de agrupamentos:

  • Duplas, Trios, Quartetos ou Quintetos: Os estudantes podem possuir nível de conhecimento similar, mas habilidades diferentes. Nesse caso, eles podem se ajudar, ao trabalhar em conjunto ou podem avaliar um ao outro. Em casos de estudantes com níveis diferentes, um dos estudantes pode assumir o papel de tutor em determinada área de conhecimento.
  • Grupos aleatórios: Geralmente destinados à promover a interação. Pode-se separar por cores ou números escolhidos na entrada da sala. Apresente as questões ou atividades aos grupos. Após cerca de 20 minutos de discussão, os grupos ou um membro de cada grupo apresenta as descobertas a todo o grupo.
  • Grupos por afinidade: Grupos com conhecimentos heterogêneos recebem tarefas específicas para serem realizadas dentro ou fora do tempo formal de aula. Cada estudante deve ter sua atuação definida pelo professor e o trabalho deve ser em conjunto e colaborativo. Após o tempo estimado para a atividade, os grupos apresentam as descobertas para toda a turma.
  • Solução para grupos críticos: Um grupo recebe um tópico para apresentação de seminário ou desenvolvimento de tutorial. O grupo desenvolve sua solução e apresenta os resultados para todos. Os outros grupos “críticos” observam, fazem comentários e avaliam a apresentação do grupo.

5. Simulação de papéis para boas práticas

Além do documento com regras e boas práticas, aconselhamos a criação de simulações durante a semana prévia à atividade em pares para estimular um comportamento com atitudes construtivas e produtivas. Nessas simulações são compartilhados os procedimentos, regras, a função de cada papel existente e as maneiras de fornecer feedback positivo.

Nesse sentido, você pode solicitar aos estudantes que criem uma lista de declarações com reforços positivos padronizados para serem usados no feedback. Eles também precisam ser orientados com relação ao tempo de resposta. Em casos de inconsistências ou erros, a resposta deve ser sem crítica e focada na correção.

Em resumo, a orientação deve ser voltada para que o processo seja pautado em confidencialidade, reforço positivo e tempo de resposta adequado.


6. Programa de tutoria

Comum em algumas universidades, o programa de tutoria é composto por estudantes reconhecidos com nível avançado em determinada área de conhecimento. Ele pode ser uma alternativa para promover a aprendizagem por pares, bem como para incentivar valores e atitudes positivas.

Com a orientação e acompanhamento de professores, os estudantes podem solicitar ajuda sobre temas nos quais eles precisam de reforço. Em um quadro ao lado, os estudantes-tutores podem disponibilizar horários e assuntos no qual podem ajudar. Cabe ressaltar a importância dos tutores receberem orientações sobre como atuar de maneira eficaz.

A incorporação do programa de tutoria geralmente melhora o índice de desempenho dos estudantes, além de fomentar o senso de responsabilidade, coletividade e competência colaborativa.

7. Sistema de recompensa

Toda atividade desempenhada com sucesso deve ser recompensada! Contudo, ressaltamos que recompensa não é somente sinônimo de ganhar coisas materiais ou acréscimos associadas à nota. Ela pode ser expressa de variadas formas e deve servir para engajar e reconhecer uma boa prática.

Nesse sentido, uma abordagem que pode ser adotada para essa finalidade é a aprendizagem baseada em jogos. Mais especificamente a gamificação que já possui regras e sistemas de recompensas que podem ser adaptados e incorporados à sua prática docente.

Para incentivar a participação dos estudante na aprendizagem por pares é preciso deixar claro quais benefícios eles obterão e criar um sistema de recompensa adequado ao contexto institucional. Por exemplo, pode ser um componente curricular (créditos) onde todos os estudantes de determinado nível educacional devem atuar no papel de tutoria ou pode-se oferecer cursos específicos, como robótica, agroecologia ou programação para os que desenvolverem a função com reconhecido louvor.

Professor-mediador-facilitador

Facilitar a aprendizagem dos estudantes exige acompanhamento personalizado, significação e contextualização. A necessária mudança do modelo educacional surge diante de um mundo em constantes (e rápidas) transformações. Consequentemente, a aprendizagem por pares integra os estudantes. Além de promover o desenvolvimento de conhecimentos, habilidades, atitudes e valores condizentes com o mundo contemporâneo.

Leia também artigo de minha autoria sobre ensino por competências.Os currículos de educação baseada em competências permitem que os estudantes usem o conhecimento adquirido previamente fora da sala de aula. Ou seja, busca-se valorizar o contexto de cada estudante, bem como utilizá-lo à favor de sua educação”.


Autor: Kamil Giglio

Edição: Alex Rosset

Assessor pedagógico das editoras Ática, Saraiva e Scipione para a rede pública. Professor Doutor em Engenharia e Gestão do Conhecimento (UFSC/Hochschule Rhein Main. Mais de 10 anos de experiência em Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (projetos nacionais e internacionais associados à Educação). Desenvolvimento e coordenações de projetos interdisciplinares. Mais de 30 publicações - nacionais e internacionais)

DEIXE UMA RESPOSTA