Tributo a John Lennon

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Tenho certeza que se estivesse vivo,
fatalmente estaria ainda envolvido
com a causa da paz e escrevendo
grandes e inspiradas canções para a gente ouvir,
como a antológica Imagine.


Há 39 anos, em dezembro de 1980, morria aos 40 anos de idade John Lennon, deixando um dos mais extraordinários legados que a cultura moderna já recebeu.

Não há notícia de que outro compositor, ou outro conjunto musical, tenha sido mais universal que John Lennon e os Beatles, ou que tenha encantado tanta gente, durante tanto tempo, em tantos lugares, que tenha influenciado de maneira tão completa a época em que viveu.

Em 1970 os Beatles se dissolveram, para jamais cantar ou gravar juntos. Mesmo assim, passados 49 anos, suas canções, seus discos e sua imagem continuam tão atuais e presentes como se o conjunto continuasse atuando.

Sem existir mais, os Beatles permanecem tão vivos como sempre. John Lennon é a alma e o cérebro desse admirável fenômeno. O único a contestá-los é o guru do bolsonarismo, o terraplanista Olavo de Carvalho, que descobriu ter sido Theodor Adorno o autor das músicas do quarteto. Uau!!

Lennon é o que se pode chamar de o primeiro grande fenômeno de massas produzido pelo marketing moderno, e o único que ainda em termos de mídia, sobrepujou o rótulo que veio daí. Na verdade, mais do que produto de marketing ou gênio, ele foi um produto de sua época.

Época conturbada, rica em mudanças e em estremecimentos sociais – Guerra do Vietnã, Watergate – da qual ele foi, ao mesmo tempo, causa e efeito.

Em 1966, provocou a ira dos católicos, no auge do ardor planetário da beatlemania, ao dizer que os “Beatles eram mais populares do que Cristo”, alimentando uma controvérsia que levou o Vaticano a declarar satânico o rock ‘n’ roll.

Esta pecha durou até o Papa João Paulo II convidar Bob Dylan para cantar na Santa Sé, em 1997. E o popstar americano descascou “Knockin’ on heaven’s door” ( “Batendo na porta do céu” ).

Mesmo antes do desfazimento dos Beatles Lennon passou a desempenhar um papel fundamental na luta pela paz. Foi um dos mais duros críticos da intervenção americana no Vietnã, o que lhe rendeu a proibição de entrar nos EUA.

Sua canção “Give Peace a Chance”, se transformou no verdadeiro hino das grandes manifestações populares contra a guerra no Sudeste Asiático.

Promoveu, igualmente, intervenções mais ousadas, como a que ocorreu em Amsterdã, quando ele e Yoko permaneceram por uma semana na cama de um quarto de hotel, à frente das câmeras – e do mundo –, pedindo: “Deem uma chance à paz”.

Lennon foi um rebelde, um revolucionário e saiu de cena para cuidar do filho em 1975 quando a geração à qual fornecia a trilha sonora crescera e começava a perceber que o mundo, afinal de contas não havia mudado tanto assim, e que ninguém era muito diferente dos seus pais – o que significava encarar o mundo e ter que ganhar a vida, ou seja, entrar no establishement daquele mesmo jeitinho tão criticado.

Lennon tinha plena consciência que a música pop não passava de indústria e que havia sido definitivamente alicerçada por eles, Beatles.

Seu último disco, que hoje ouvi com emoção e nostalgia, enquanto escrevia este texto, Double Fantasy, foi uma espécie de crônica de sua vida. Um disco romântico, sem as letras revolucionárias dos anos 60 e 70.

Um disco que parecia antever a chegada da era Reagan, do neoliberalismo. Um mundo apático, desiludido que passou a assistir as guerras como se elas fossem meros jogos de vídeo game.

Passados 39 anos de sua morte percebemos quanta falta está fazendo um talento como o de Lennon. Tenho certeza que se estivesse vivo, fatalmente estaria ainda envolvido com a causa da paz e escrevendo grandes e inspiradas canções para a gente ouvir, como a antológica Imagine.

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