O paraíso dos agrotóxicos

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O que assusta é que do total de liberações recentes,
64, ou 43% das liberações, estão terminantemente proibidos
em diversos países, especialmente na União Europeia,
um dos principais mercados para os
produtos agrícolas brasileiros.

Para o filósofo australiano Peter Singer, em seu livro “Ética Prática”, “as atitudes ocidentais ante a natureza são uma mistura daquelas defendidas pelos hebreus, como encontramos nos primeiros livros da Bíblia, e pela filosofia da Grécia antiga, principalmente a de Aristóteles.

Ao contrário de outras tradições da Antiguidade, como, por exemplo, a da  Índia, as tradições hebraicas e gregas fizeram do homem o centro do  universo moral; na verdade, não apenas o centro, mas quase sempre,  a totalidade  das  características moralmente significativas deste mundo”.

Assim, o homem teria recebido, segundo o Gênesis, uma espécie de concessão de  “domínio” sobre todas as demais criaturas existentes. Um “cheque em branco”, para fazer tudo o que quiser na natureza.

O governo Bolsonaro está seguindo à risca estas tradições. Em apenas 6 meses de governo os órgãos de controle  liberaram  211 pesticidas  para uso em lavouras, média superior a um produto  por dia.

O que assusta é que do total, 64, ou 43% das  liberações, estão terminantemente  proibidos  em diversos países, especialmente  na  União  Europeia, um dos principais mercados para os produtos agrícolas  brasileiros.

A liberação é um presente de Bolsonaro aos ruralistas que o apoiaram na campanha. O governo entende que o mundo natural   existe para o benefício da turma da bancada ruralista. Na verdade, há uma grande irresponsabilidade e desdém pelo meio ambiente.

Enquanto na França é anunciada a intenção de abolir até  2022 o uso do glifosato em suas plantações, aqui , dos produtos recém-licenciados pelo ministério da  Agricultura, nove contêm o herbicida como insumo básico.

Mais. Há menos de 60 dias, o governo prorrogou até 2020 a redução de  60% do imposto relativo à comercialização dos defensivos.  Não é à toa que atual ministra, Teresa Cristina, quando deputada, recebeu o apelido de “Musa do Veneno”, em breve,  será  a  Rainha.

A natureza, longe de ser apenas o palco de nossas atividades, deve ser o objeto  de um respeito  estético, moral e jurídico. A civilização ocidental, entregue a um consumismo desenfreado, vem conduzindo de forma inequívoca à  devastação da Terra.

O governo Bolsonaro mostra um desprezo absurdo pelo meio ambiente. Se tenta eliminar as reservas legais, áreas indígenas são invadidas, criminosos são liberados de multas e se libera esta quantidade de agrotóxicos, quando o mundo todo luta  contra isto. Hoje o Brasil é o verdadeiro   paraíso dos   agrotóxicos.

Ao contrário de muitas sociedades humanas mais estáveis e voltadas para as suas tradições, a nossa formação política e cultural tem uma grande dificuldade de admitir valores a longo prazo.

Precisamos, definitivamente, entender que algumas coisas, depois de perdidas, não podem ser   recuperadas. Uma delas é a saúde. O que está em jogo é o futuro de nossos filhos e netos diante da irresponsabilidade deste desgoverno.



Os homens inventam coisas que matam e que curam, sem nenhum constrangimento, porque agem em nome do progresso e da ciência. Resta saber como cada um decide o que consumir saudavelmente. Quem morre ou quem se cura é sempre a gente. O problema é que não temos poder nenhum sobre a produção. Resta saber o que nos resta! (Nei Alberto Pies)

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