Não estão preocupados com a educação

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Por que os professores estão tão irritados, magoados e ansiosos? Porque nós estamos sendo atacados por todos os lados.

A preocupação é ter onde deixar o filho do pobre para esse pobre poder trabalhar (lembrando que todos nós, assalariados, somos pobres). Mentir em lives e mandar as aulas presenciais voltarem em uma entrevista pela internet, é muito fácil.

Quando defendem que a criança precisa ir para a escola para ter onde se alimentar estão confirmando que o papel da escola é cuidar e alimentar, não ensinar e educar. Eles não estão preocupados com a educação.

Quando dizem que os alunos precisam voltar porque precisam se alimentar estão confirmando que todo o sistema está errado, que todo o resto deu errado, que não tem emprego, que não tem auxílio, que não tem distribuição de renda, que não tem assistência social que dê conta (toda a minha solidariedade aos profissionais dessa área), então resolveram colocar mais essa responsabilidade nas costas das escolas e dos educadores.

É muito fácil o jornalista famoso defender a volta às aulas presenciais quando está trabalhando em casa e seus filhos estão tendo aula online na escola particular.

É muito fácil o deputado (do partido mais corrupto do Brasil) falar que o professor não quer trabalhar sabendo que para ele vai ter hospital, mas para os professores e para as famílias desses alunos pode não ter.

Nenhum deles está preocupado de verdade com saúde, alimentação ou educação das crianças. Tudo isso é mentira e eu tenho pena de quem acredita nessa mentira. Quem está de verdade preocupado com os alunos, fazendo “vaquinha” para dar cestas básicas para as famílias e se esgotando de tanto trabalhar é o professor!

Em nenhum momento nós, professores, paramos de trabalhar. Em nenhum momento eu parei de me preocupar com a alfabetização dos meus alunos.

Se depender de nós, vagabundos, o ano não vai ser perdido, porque improvisamos, com o que temos, em nossa casa. Do governo, só cobrança, sem contrapartida. Aliás, faz muitos anos que isso ocorre. Mas continuamos sendo atacados por não trabalharmos. (Laércio Fernandes dos Santos) Leia mais!

Estamos trabalhando muito mais, fazemos vídeos, atendemos ao vivo em grupos, individualmente, respondemos whatsap, preparamos aulas para turma e para as particularidades de cada aluno e ainda damos conta da burocracia.

Em nenhum momento postei qualquer reclamação sobre o excesso de trabalho, apesar de todo o cansaço e a ansiedade.

Me preocupo com a minha saúde e com a saúde das pessoas que eu mais amo nesse mundo. Minha esposa e minha mãe são professoras e nem consigo pensar na possibilidade de acontecer algo com elas, pois meu mundo desabaria.

Se algo acontecer comigo, o mundo delas que desaba. Já nas escolas alguns dias depois alguém estaria no nosso lugar.

Por que os professores estão tão irritados, magoados e ansiosos? Porque nós estamos sendo atacados por todos os lados. Eu tenho sorte porque os pais dos meus alunos são empáticos e nunca foram grosseiros comigo ou me xingaram, mas cada xingamento para colegas nas redes sociais corta o meu coração.

Por que estamos nos defendendo tanto? Porque nenhum outro setor da sociedade defende os professores. Somos nós por nós e nós pelos nossos alunos!

Enquanto uma maioria luta bravamente para garantir sobrevivência, apenas pequena parte da população tem condições de garantir estudo e disponibilidade plena das crianças e adolescentes aos estudos. Outra questão, igualmente importante, é a expectativa imensa que a sociedade alimenta sobre a volta das aulas presenciais. Mas não vemos nenhum grande movimento, nem das escolas e nem da sociedade, para ressignificar esta volta presencial de aulas. Queremos voltar, sim. Mas voltar para quê? Que mudanças e que novos significados vamos incorporar na volta às aulas? Leia mais!

Autora: Camila de Freitas, professora rede Municipal de Charqueadas.

Edição: Alex Rosset

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