Livres, mas conectados na teia da existência

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“Nossas vidas não são nossas. Estamos vinculados a outras, passadas e presentes. E de cada crime, e cada ato generoso nosso, nasce nosso futuro.” (Frase filme “A Viagem)

Tudo está conectado. Nada há que desminta tal fato. Pelo contrário, não faltam evidências. Porém, nem sempre a história segue uma trajetória linear. Às vezes, ela lembra mais a mecânica quântica do que o método cartesiano de causa e efeito. Na descrição microscópica proposta pela física quântica, alguns conceitos do nosso cotidiano são desafiados, dentre eles, o de causa e efeito.

No mundo subatômico, o efeito pode anteceder à causa, por mais irracional que isso pareça. Seria como se fôssemos diretamente influenciados pelo futuro, tanto quanto pelo passado (ou até mais). Destoando de seu mestre Freud, Carl Jung, psicanalista suíço, acreditava nesta possibilidade. Pierre Teilhard de Chardin, o teólogo e antropólogo francês, dizia que toda a criação é atraída pelo que chamava de Ponto Ômega.

Ora, os que se atrevem a crer em profecias, creem que o futuro exerça poder sobre o presente, de modo que o efeito preceda a causa na linearidade histórica. Recebemos sinais vindos do futuro o tempo inteiro.

Por isso, não faz sentido ficarmos presos a uma espécie de carma, sendo assombrados pelo passado. Há que se romper o cordão umbilical, ficando livre para avançar na direção do futuro.

Nossa conexão com o passado, entretanto, não se desfaz, assim como a criança não perde seu elo com a mãe depois que seu cordão umbilical é aparado. Se antes fomos carregados em seu ventre, agora a carregaremos em nosso DNA. Seremos, por assim dizer, a extensão de sua existência. Fora do ambiente intrauterino podemos alcançar estatura antes inimaginável. O ventre, entretanto, cumpriu o seu papel, embalando-nos por nove meses, até que estivéssemos prontos para o mundo exterior.

Estamos conectados com nossos contemporâneos, pois partilhamos o mesmo ar, a mesma realidade, a mesma ancestralidade, visto que todos descendemos de um ancestral comum. Somos atores no mesmo palco existencial, ainda que com falas diferentes. Mesmo a nossa felicidade está vinculada à felicidade de nossos companheiros de jornada.

Enfim, tudo está interligado. A existência é uma grande teia. Qualquer vibração em suas extremidades balança toda a sua estrutura.

No dizer de Paulo, somos membros uns dos outros, de sorte que, se um sofre, todos sofremos, se um se alegra, todos nos alegramos.

Que aprendamos com a aranha, listada em Provérbios de Salomão entre os quatro exemplos de sabedoria, tendo cuidado para que a teia que nos conecta a tudo nos sirva de pavimento na direção do porvir, mas jamais nos enrede, enclausure ou embarace o nosso caminhar (Pv.30:28).

Autor: Hermes C. Fernandes

Edição: Alexsandro Rosset

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