Lições de uma implosão

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É válido lembrar que sempre poderemos aprender não somente com os nossos erros, mas também, com os erros dos outros. Seja por intermédio de uma estória, como vimos sobre Pandora e Eva, seja na própria vida “real”, como é o caso deste texto que procurou encontrar lições, mesmo em uma tragédia.

O Titan embarcou rumo a uma expedição nas profundezas obscuras do oceano com o principal objetivo, turístico, de visualizar nada mais que, segundo os boatos de 1915, o navio mais luxuoso e seguro do mundo.

A passagem do Titanic poderia chegar a 50 mil Euros ou 240 mil Reais. Isso sem correções, que poderia passar de meio milhão na atualidade. Já um “assento” do Titan (entre aspas, porque aquilo não parecia ter bem assentos e não era nenhum pouco luxuoso), poderia ser comprado pela bagatela de 1,1 milhão de Reais.

Isso tudo para ver uma das maiores catástrofes marítimas da história, por uma tela. Eu não iria, não porque eu não tenho dinheiro, sendo sarcástica, mas, porque entrar em contato direto com algo que representa tanto sofrimento não é algo que se assente muito bem em mim (eu sei, tem muita história por lá, e essa é a parte interessante, mas, ao menos para mim, o outro lado parece pesar mais).

Às pessoas que me rodeiam que sabem: ai delas se compartilharem fotos de acidentes ou tragédias no meu whatsapp: leva xingão e discurso na hora!

Isso, de algum modo, me faz questionar essa “curiosidade” que muitas vezes chega a ser insana. Aliás, para os curiosos, a palavra curiosidade, segundo a página “A Origem das Palavras” deriva do latim Curiositas que significa “desejo de conhecer, de se informar”, a raiz latina “cur” significa por quê. É também a origem da palavra “cura” que quer dizer cuidado, e da palavra curioso, que se refere àquele que teria sempre o cuidado de saber o porquê, de saber mais.

Curiositas era uma virtude, associada ao desejo da mente pelo conhecimento, e uma motivação nobre e louvável. Nada parecido com a curiosidade que estamos nos referindo por aqui, não é mesmo?

Mas, o povo antigo era esperto, pois possuíam uma denominação específica para esse outro tipo de curiosidade, eles a denominavam cupiditas, que também, segundo informações da página A Origem das Palavras, se trata de um tipo de “curiosidade” que tem efeitos opostos sobre a própria mente. Como, por exemplo, a curiosidade dos fofoqueiros, a curiosidade por informações inúteis, a curiosidade que coloca em risco a própria vida sem um bom motivo! Falando nisso:

De cupiditas sofreu Pandora, na mitologia, aquela que se fez esposa de Epimeteu e a quem deram os deuses uma caixa com a recomendação de que nunca a abrisse, pois, continha lá dentro todos os males e desgraças do mundo. Por não ter resistido ao pior da sua própria curiosidade, sucumbiu Pandora à tentação de ver o que havia dentro da caixa – e libertou toda a espécie de males sobre o mundo (o egoísmo, a crueldade, a inveja, o ciúme, o ódio, a intriga, a ambição, o desespero, a tristeza, a violência, e todas as outras coisas que causam miséria e infelicidade). E todos os males podem ser chamados por um único nome: Ignorância (A Origem das Palavras).

De algo parecido sofreu a Eva, lá no jardim do Éden, ao escolher comer a única fruta proibida naquele paraíso inteiro (e eu nem vou entrar na discussão de que essas estórias parecem ser um tanto quanto machistas, ao escolherem o que a ampla cultura impõe como o “sexo frágil”, para ceder as tentações, essa discussão fica para uma próxima oportunidade). Mas, salvo as exceções, parece-me que as nossas narrativas retratam muito bem os males que uma curiosidade mal-empregada pode nos causar.

É justamente dessa curiosidade que os telejornais se alimentam, de sangue e de tragédia. É a curiosidade oca, vazia que as pessoas mais consomem. Infelizmente, pois se utilizassem a curiosidade como virtude, aquela que está relacionada ao desejo por conhecimento, acredito fielmente que grande parte dos maiores sofrimentos e preocupações da humanidade estariam, no mínimo, bem encaminhados. No entanto, elas preferem continuar abrindo a caixa de Pandora ou comendo maças.

Mas, o Titan, além de carregar consigo o peso ou a problemática da curiosidade, também pode nos fazer refletir sobre as profundezas de nosso oceano: metaforicamente falando…

Isso porque, segundo o G1, ele já havia feito mais de vinte viagens. Segundo os especialistas, toda vez que ele submerge e emerge ele vai acumulando danos, que quando submetidos a altas pressões, um pequeno amassado que represente 2% da superfície do submarino é suficiente para reduzir a profundidade máxima da operação em 50%, pois, a pressão externa exercida em uma profundidade de 3,8 mil metros é equivalente a um elefante apoiado em cada pedaço de 25cm² (um quadradinho de 5cm x 5cm) e isso significa dizer que qualquer trinquinha, nessas condições, pode virar um trincão.

O que me faz lembrar de algumas questões subjetivas, como, por exemplo, quantas vezes nos submetemos a altas pressões, dizendo sim a todos os pedidos, enquanto o nosso corpo implora por descanso ou reparo. Quantas vezes fizemos mais do que podemos fazer, deixando marcas em nós mesmos, até que um dia, essas pequenas trinquinhas, acumuladas ao longo de inúmeras situações, culminem em uma implosão. Que pode ser um AVC, um infarto, um Burnout, uma Depressão ou um transtorno de Ansiedade Generalizada.

E o mais irônico de refletir, é que as pessoas se indignam com o que aconteceu com o Titan, mas, nem piscam para a implosão que está se encaminhando dentro delas, ignorando todas as medidas de segurança, dia após dia.

Podemos refletir também o quanto o mundo inteiro se envolveu com a história do Titan. Por alguns dias, ficamos aflitos e até mesmo sufocados em nos imaginar dentro de uma cápsula, a quilômetros de profundidade, sem comida e com o oxigênio contado.

Você já parou para refletir em como o fato de apenas imaginarmos algo pode nos causar tremendo mal-estar? Como nos lembra o Estoicismo, a sugestão é: domine a sua mente, caso contrário ela dominará você!

Mas, a essa capacidade de se colocar no lugar do outro, como se você fosse o outro, e portanto, compreendendo o contexto do outro, e o mais importante sentindo! Chamamos de empatia. Esse mecanismo natural é fundamental para a sobrevivência da espécie humana, porque ao nos solidarizarmos com aquela situação, de tal modo que consigamos sentir a dor a aflição do outro, também sentimos uma vontade de querer ajudar. Resultado das buscas para encontrar um submarino no oceano e a comoção mundial. É por essas que a empatia acaba promovendo a preservação de nossa espécie. É por essas que um mundo cada vez mais egoísta, uma grandeza diretamente contrária à empatia, pode mesmo culminar em nossa implosão.

Nem precisaremos de uma ajuda externa, um meteoro, como aconteceu com os dinos, a gente dá conte de acabar com a humanidade sozinha, dada a nossa “inteligência” ou “curiosidade”.

De tudo o que conversamos até aqui, ainda acredito que a maior lição vem a partir de agora, ou seja, em como alteraremos as normativas de segurança, o projeto de submarinos, a escolha de materiais, estudos, pesquisas dentre outras infinidades de cuidados redobrados, com o principal objetivo de tentar assegurar que essa tragédia não se repita.

E eu sei, ninguém gosta de errar, ficamos putos quando dá um erro no computador, ficamos chateados e incomodados quando erramos, quando as pessoas erram, pois, ele atrapalha os nossos planos… e ainda mais quando tudo isso resulta em uma tragédia. Vivemos em uma sociedade que associa o erro ao fracasso, a incapacidade. Essa cultura também alimenta um perfeccionismo tóxico, que deixa muita gente doente. Isso porque, a maioria de nós nunca parou para enxergar o erro como uma oportunidade.

Um erro, por pior e mais trágico que ele seja, sempre poderá nos fornecer um aprendizado para consertarmos o que não está bom, para escolhermos um caminho melhor, para nos tornarmos pessoas melhores. Mas, há um porém, é preciso reconhecer no erro essa capacidade, ao invés de apenas lamentar ou como muitos costumam fazer por aí: escondê-lo!

E tem mais uma coisinha (depois eu prometo que finalizo o texto). É válido lembrar que sempre poderemos aprender não somente com os nossos erros, mas também, com os erros dos outros. Seja por intermédio de uma estória, como vimos sobre Pandora e Eva, seja na própria vida “real”, como é o caso deste texto que procurou encontrar lições, mesmo em uma tragédia.

E agora eu desafio você, caro Leitor, a fazer o mesmo! Deixe um comentário contando para gente quais foram as lições que o submarino Titan lhe ensinou! Sinta-se à vontade para deixar um comentário e ampliarmos a discussão a respeito do assunto!

Conheça as outras 08 crônicas já publicadas no site: https://www.neipies.com/author/ana-paula/

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Bem pessoal, chegamos ao final de mais um texto reflexivo! Espero que essa reflexão possa ter contribuído, de algum modo, com a sua vida.

Se possuir interesse em conferir mais deste conteúdo, você pode clicar nos meus textos aqui em baixo ou conferindo os meus vídeos pelo youtube, procurando pelo canal Diálogos da Ana! https://www.youtube.com/channel/UC0_oBeGUwF2ce2YdL9-1GSQ

Autora: Ana P. Scheffer

FONTES:

A Origem das Palavras: https://www.facebook.com/113798452062157/posts/234575589984442/

G1: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2023/06/24/entenda-como-as-escolhas-de-design-e-materiais-do-submarino-podem-ter-causado-a-implosao.ghtml

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