Ideias difíceis de se conviver

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Nas nossas vidas pessoais, quais ideias estão nos prejudicando?

As ideias que introjetamos podem nos parasitar, nos enfraquecer e até nos matar. Podem ter mais valor, muito mais valor que a nossa existência. Nos submetemos com facilidade à elas. E as transmitimos para os outros.

Como escreveu Yuval Noah Harari:

“Elas se multiplicam e se espalham de um hospedeiro a outro, alimentando-se deles, enfraquecendo-os e até mesmo os matando. Uma ideia cultural – tal como a crença no paraíso cristão nos céus ou no paraíso comunista aqui na Terra – pode forçar um ser humano a dedicar sua vida a espalhá-la, às vezes tendo a morte como seu preço”.  

De cada dez alpinistas que tentam chegar ao cume do Monte Everest, um morre. Acima dos 8 mil metros, há bem mais de cem corpos congelados: o cemitério mais alto do mundo. Alguns desses cadáveres são vistos pelos alpinistas. Mesmo assim, a ideia de subir o monte persiste. Muitos mais irão morrer devido a ela.

O bom senso nos manda abandonar ideias que vão encurtar nossas vidas, mas não é o que vemos acontecer. E elas já contaminaram muitas pessoas e essa contaminação se retroalimenta.

A Copa do Mundo de Futebol, para citar outro exemplo, é uma fábrica de sofrimentos. Só os torcedores de um país ficarão felizes. Todos os outros amargam a tristeza da derrota. E, assim, acontece com todos os esportes competitivos profissionais, mas eles vão persistir.

Crístofe, personagem de “A noite das tartarugas”, com facilidade, expõe-se ao risco de morrer ao enfrentar bandidos para salvar desconhecidos, ao se colocar na mira de tiro de bilionários traficantes de drogas.

Por quê?

Por duas ideias que comandam e se tornaram donas dele.

A primeira, veio de seu pai. Quando viu que não mais se livraria da dependência do crack e que, devido a ela estava se tornando violento, optou pela morte. Viver para fazer o mal? Melhor morrer.

A segunda, pelo bom vizinho que o pai arrumou antes de morrer para adotá-lo: não vale uma vida não dedicada ao bem.

Crístofe,  com o exemplo dos dois, com essas ideias dentro dele, deixou de lado a qualidade de sua vida e a quantidade de tempo que irá existir. Tem de fazer o bem, mesmo que morra ao fazê-lo.

Nas nossas vidas pessoais, quais ideias estão nos prejudicando?

Autor: Jorge Alberto Salton, no seu livro “Convivendo com pessoas difíceis”, Passo Fundo: Physalis Editora, 2018.

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