Quando um filho se sacrifica pela sua mãe

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A maioria dos filmes sobre mãe e filho que vi focalizam os sacrifícios que as mães fazem pelos filhos. Alguns, é verdade, mostram a tirania delas. Poucos se detém no sacrifício que filhos fazem pelas mães.

Acompanhei um rapaz que havia, após muito esforço, passado no vestibular para medicina em uma cidade muito distante da sua. Teria de se afastar da mãe viúva e de uma irmã adolescente. A mãe, ao saber, teve uma crise de pânico. Mesmo tratada e assintomática, não admitia se afastar do filho. Não podia se mudar junto pois sustentava a família como costureira.

O filho implorava para que o deixasse ir. A mãe respondia com choro descontrolado. Quando ele me perguntou o que fazer, nós dois ficamos a pensar. A matrícula se encerrava em três dias.

“Vou e não olho para trás e olho só para mim. E é um direito meu, lutei por isso, não estou fazendo nada de errado. Ou não faço a matrícula e fico com a minha mãe. Faço mais um ano de cursinho e tento passar na faculdade que fica a apenas trinta quilômetros de minha cidade. Priorizo a relação com a minha mãe ou o meu futuro profissional?”.

Como fazia parte dele a empatia, deduzi a decisão que tomaria. Praticava o VAIVÉM EMPÁTICO: ia em imaginação ao interior das pessoas e retornava trazendo o sentimento que nelas deduzia existir e sentia como elas.

“Vou ficar. Não faz parte de mim virar as costas para minha mãe e para minha irmã. Vou fazer mais um ano de cursinho”.

Sem empatia não sentiria o sofrimento da mãe e iria embora. Mas com empatia, o sofrimento desesperado dela era sentido por ele. E assim percebia a limitação de sua mãe e a gravidade da situação.

Esse rapaz acabou no ano seguinte entrando na faculdade de medicina próxima a sua cidade.

Não tive mais notícias dele, mas posso crer que vem sendo um bom médico.

Autor: Jorge A. Salton. Também publicou no site a crônica “Psicólogos e psiquiatras gostam de olhar pela janela”: https://www.neipies.com/psicologos-e-psiquiatras-gostam-de-olhar-pela-janela/

Edição: A. R.

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