Houve uma ditadura ou não?

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Houve ou não ditadura?
É possível mudar um
fato histórico com tantas evidências?


Quando assistimos ao surgimento de um movimento que visa negar um período negro de nossa história, a ditadura militar, se faz necessário resgatar acontecimentos que marcaram aqueles longos e tristes 21 anos, que acabaram com qualquer resquício de democracia.

Para tanto, vou me deter ao que aconteceu entre nós, deixando de lado os fatos nacionais, já sobejamente conhecidos.

Vou contar aqui alguns fatos ocorridos em Passo Fundo entre 1964 e 1985. Depois deixo o leitor a vontade, para dizer se houve ou não um regime de exceção. Vamos a eles.


Ainda em 2014, em participação na TVUPF, da Universidade de Passo Fundo, participação sobre Golpe de 1964 e reflexos deste em Passo Fundo, RS.


Em maio de 1964, foi presa e remetida à Porto Alegre toda a bancada do PTB na Câmara de Vereadores: Meirelles Duarte,Odilon S.de Lima, Ernesto Scortegagna, Wilson Garay, Gilberto Tubino e Bernardino Guimarães. Razão. Pertenciam ao partido de João Goulart.

O caso mais notório de perseguição política foi ao jornalista, advogado e funcionário da Câmara Municipal, João B. de Mello Freitas. Foi preso em maio de 1964, por suas ligações com o PCB e por denunciar em sua coluna no jornal ONacional, o arbítrio do governo militar.

Em 1965, o jornalista voltou a ser preso e remetido à Porto Alegre, onde permaneceu em local desconhecido pela família e amigos por mais de 30 dias. Ao retornar da prisão era um homem debilitado. Familiares e amigos nunca souberam como ele sobreviveu ao cárcere, nem sobre as torturas que lhe acarretaram sérios problemas físicos.

A imprensa local também foi alvo da ditadura. ONacional, que seguia uma linha mais crítica ao regime, foi alvo da ação da censura e repressão. O Diário da Manhã, alinhou-se aos militares, seguindo a linha reacionária que o caracteriza até hoje.

Em 1965, ON foi empastelado, a mando do Cap. Grey Belles, comandante da unidade local do exército. Motivo. O jornal havia noticiado a guerrilha iniciada pelo Cel. Jefferson C.A. Osório, na fronteira com o Uruguai. Foi o motivo para a segunda prisão de João Freitas, redator do jornal.

Em 1978, a rádio Municipal, foi fechada pelos militares. Foi uma represália contra o prefeito Wolmar Salton, do MDB, por este não ter demitido de seu secretariado três comunistas, segundo o governo. É bem verdade que a rádio do município tinha muitas irregularidades. Entretanto, ao longo dos governos da ARENA, isto nunca impediu seu funcionamento.

Curiosamente, pouco tempo depois, o canal da emissora passou para um grupo local que tinha relações familiares com o general-ditador de plantão, Ernesto Geisel. Surgia a rádio Uirapuru. Assim, fica fácil de entender a linha jornalística que a caracteriza até hoje.

No meio acadêmico, foram inúmeras as prisões. Em 1968, o vice-reitor da UPF, Pe. Alcides Guareschi, foi preso pelo fato de ter citado Che Guevara e Chico Buarque, no seu discurso como paraninfo da turma da Faculdade de Filosofia.

Os estudantes secundaristas, João Carlos Bonna Garcia e Sólon Viola foram expulsos da EENAV – por promoverem protestos –, exigência do todo poderoso Cap. Grey Belles, proibindo, igualmente, que qualquer outra escola os acolhesse.

Enfim, prisões, ameaças anônimas, denúncias, atuação dos desprezíveis S.2 e P.2, censura, violência, o autoritarismo e arbítrio dos comandos militares locais, fizeram parte dos “anos de chumbo” vividos pelos passofundenses.

Isto posto, deixo ao prezado leitor as perguntas: Houve ou não ditadura? É possível mudar um fato histórico com tantas evidências?


Em tempos de polarização política, a ditadura militar voltou a ser assunto comentado por alunos e sociedade em geral. Mas, o que foi esse período e por que houve tanta violência?

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