“Fé em ação”: em defesa da vida e do equilíbrio planetário

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“Somente lutam bem aqueles que tem visões de beleza.
Até lá, será a luta contra o feitiço. Já devastaram a terra.
Que não devastem a alma…”
Rubem Alves, em “Conversas sobre política”


Marcus Eduardo de Oliveira e eu, Nei Alberto Pies, nos conhecemos há pelo menos 07 anos, quando passamos a dividir a edificante responsabilidade de assinar mensalmente, de forma intercalada, coluna em Revista Missionária impressa MISSÕES.

Faz dois anos que, dada a facilidade do mundo virtual, passamos a conversar/teclar através das redes sociais. A bem da verdade, como dois caminhantes que somos, e que não temem se perder nesse vasto mundo que nos ampara, ainda estamos nos conhecendo e reconhecendo como sujeitos ativos (atores sociais) na sempre necessária luta diária e ininterrupta a fim de edificar uma sociedade mais igualitária – e “menos malvada”, como disse Paulo Freire, o pedagogo da esperança -, capaz de respeitar a dignidade humana e a diversidade religiosa, reverenciando o meio ambiente e a natureza (matriz da vida), não deixando de considerar com elevada distinção todas as formas de viver e ser no mundo contemporâneo que compartilhamos.

Acreditamos, antes de mais nada, no poder das palavras. Não por acaso, ambos temos livros publicados, e com relativa frequência, emprestamos nossas penas para sites ou mesmo páginas eletrônicas das redes sociais. Por certo, e desde há muito, já temos a leitura e a escrita como hábitos, como verdadeira rotina que nos ajuda a engrandecer, incorporados ao nosso cotidiano ou vida profissional. É assim que seguimos professando nossa fé!

Agora, deixando de lado essas lacônicas linhas de apresentação, cada um de nós, de modo próprio, relatará sobre a importância de assinar a coluna Fé em Ação, da Revista Missões. Na oportunidade, também explicitaremos, cada qual a seu jeito, a nossa maneira de professar a fé e suas correlatas crenças, algo que, por certo, nos ajuda a construir relações cotidianas.


I

“Sou Nei Alberto Pies, e me assumo como professor, escritor e ativista de direitos humanos, sempre em formação. Sempre escrevi como um ato libertador. Desde a minha adolescência e juventude, escrevia para me tornar belo aos olhares dos outros (como ensinou Rubem Alves). Diante da minha dificuldade de comunicação, por sofrer de gagueira, lia e escrevia para me sentir acolhido e reconhecido em alguma habilidade, desde os colegas da sala de aula.

Aos poucos, o escrever foi tornando-se uma necessidade. Desde o ano de 2007, passei a escrever, sistematicamente, em forma de crônicas, aliando reflexão filosófica com realidades do cotidiano. Foi então que aprendi que ninguém escreve se não tiver alguém que lê o que a gente produz. Neste momento em diante, busquei espaços em diferentes plataformas (analógicas, impressas ou digitais) para publicar minhas reflexões. Descobri, ainda, que quem “escreve, pensa melhor”.

Em 2014, já com mais de 150 crônicas publicadas em jornais e revistas impressas ou digitais, criei site www.neipies.com que hoje conta com mais de 40 Convidados, dentre eles, o amigo Marcus Eduardo de Oliveira.

Escrevo porque acredito no poder das palavras. As palavras, escritas de forma reflexiva e crítica, podem nos tornar seres humanos melhores. Escrevo também para afirmar os valores de solidariedade, compaixão, espiritualidade, fé, convivência, cidadania, democracia. Deste jeito, com convicção nestas ideias (que também são ideais), coloco a minha “fé em ação”.


Como nos tornamos humanos?

Participar da Coluna “Fé em Ação” nestes últimos 07 anos é motivo de muita satisfação e alegria por poder dividir parte do que creio e do que cultivo como ser humano e como cidadão do mundo. Misturar as dimensões humanizantes com as dimensões do conhecimento do planeta e de sua sustentabilidade tem feito desta coluna da Revista MISSÕES uma referência importante para os leitores da mesma”.


II

“Sou Marcus Eduardo de Oliveira, economista, professor e ativista ambiental. Assim como você, prezado (a) leitor (a), eu também não passo de um grão de areia, habitando a Terra, esse “cenário muito pequeno numa vasta arena cósmica”, para fazer uso das pontuais palavras de Carl Sagan.

Indo direto ao ponto, sem confabular com o pessimismo, o fato é que estamos num momento bastante delicado (e perigoso) em que a realidade está fazendo questão de nos dar uma lição de humildade. E mais que isso: está nos dando uma incomensurável chance de resgatarmos certos valores morais (nosso edifício cultural, por assim dizer) há muito esquecidos. Portanto, precisamos aprender. Temos necessidade de aprimorar nosso entendimento e refinar nossa percepção. Urge lapidarmos nossa cosmovisão.

Mas veja, no entanto, que, tentar dar respostas para tudo o que está ocorrendo, convenhamos, é tarefa quase impossível. Porém, não podemos nos esquivar à tentativa de procurar compreender o que se passa lá fora. Para tanto, nem mesmo é preciso muita imaginação para logo compreender que os fatos confirmam a lógica: o CONHECIMENTO – talvez a mais importante ferramenta que a humanidade conhece – se bem usado, pode ser a chave do paraíso; mas também pode abrir, dado o uso inadequado, os portões do inferno.

Por isso, para não perder a oportunidade, afirmo em alta voz que sou daqueles que acreditam que o capital cívico (isto é, as crenças e os valores que estimulam a cooperação, no qual o conhecimento se destaca) faz a diferença. E repare no detalhe: isso é algo que perceptivelmente encontra-se enraizado na cultura de certos povos.

Grosso modo, é no capital cívico que precisamos nos apoiar, uma vez que isso ajuda até mesmo a identificar as boas escolhas no campo da ação política. Com essas, goste-se ou não, temos a possibilidade de melhorar a qualidade do Estado e dos serviços por ele prestados.

Falando em linguagem simples, a coisa toda, salvo erro de interpretação, me parece, à primeira vista, bastante simples. Ouso dizer que não há segredo. No fundo, e a rigor, todos, sem exceção, precisamos de um Estado a serviço da sociedade, e não de uma sociedade a serviço do Estado. Afinal, somos nós, atores sociais, que, dia a dia, ajudamos a “construir” o Estado em todas as vertentes conhecidas.

Em última análise, o Estado depende de todos nós. Trabalho, cidadania, fortalecimento da democracia, do Estado de Direito, cumprimento dos deveres, prática da cooperação/solidariedade, estímulo à pesquisa e desenvolvimento, ampliação da ciência e tecnologia, consolidação dos valores morais, atuação político-partidária, fortalecimento das instituições. É assim que podemos consolidar nossa participação na hercúlea tarefa de “fortalecer” o Estado. Importa ter em vista, sobretudo, que a qualidade de vida – legítimo anseio dos povos – vem a reboque disso tudo. Não duvidemos dessa assertiva.

Por fim, pelas bandas de cá, e em reforço ao presente argumento, bastante simples e igualmente modesto, confesso, mas dotado de muita esperança, estou plenamente convencido de que esse conjunto de ações, chamemos assim, nos ajudará naquilo o que mais interessa aos povos, estejam esses onde estiverem: imprimir muita, mas muita qualidade ao mais universal dos mistérios, A NOSSA EXISTÊNCIA.

Juntos, e unidos, exercitando a cooperação e a solidariedade, venceremos todo e qualquer óbice. Especialmente a prática da cooperação, e somente ela, vale reforçar e não perder isso de vista, traz consigo a possibilidade de SOMAR e INCLUIR. Duas palavrinhas aparentemente ingênuas, mas com elevado poder de fazer a diferença, quero crer.

Desnecessário dizer, às claras, que o desafio que temos pela frente é enorme. Difícil contestar, do ponto de vista lógico, que precisamos agir com brevidade, uma vez que somos constantemente convocados ao entendimento de que as coisas seguem, e a nossa história, para o bem maior da humanidade e de necessários tempos de paz, não tem fim. Sigamos cooperando. Temos o dever de continuar nossa evolução moral.



Autores: Nei Alberto Pies e Marcus Eduardo de Oliveira

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