Conhecendo Jesus pela arte

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Quando a Escola retrata as diferentes realidades
do povo pobre nos dias atuais e diz que Jesus está ali
o faz a partir de uma hermenêutica dos evangelhos,
dialogante com os nossos dias.


Assistimos no final de semana passado, por ocasião do carnaval, o desfile de algumas Escolas de Samba que, nos seus diferentes sambas-enredo, nos provocaram à reflexão. Em todo o Brasil outras formas de diversão carnavalesca não deixaram de sugerir uma leitura crítica do atual contexto brasileiro. 

As diferentes manifestações do carnaval são produções artísticas. E a arte tem a capacidade de fazer uma leitura de mundo de um jeito original, mas não menos comprometido. Neste sentido a arte é orientação, quando aponta para um caminho possível. É profecia quando denuncia situações de ameaça à vida e a dignidade humana e ao mundo criado. A arte também faz refletir, provoca a pessoa a sair do senso comum e ler os fatos da vida de uma forma mais aprofundada.

Dá visibilidade a temas que nem sempre a sociedade acolhe como importantes. Foi significativo o enredo vencedor tematizando a trajetória das mulheres negras no Brasil apresentado pela Escola de Samba Viradouro.

Destaco aqui a apresentação da Escola de Samba Estação Primeira da Mangueira. A Escola se dispôs a apresentar para o público a história de Jesus de Nazaré. Sem dúvida, o resultado do trabalho foi fruto de pesquisa e também de uma hermenêutica original. Apresentou-se uma interpretação dos fatos da vida de Jesus. Não é novidade.



Na opinião do Teólogo Leonardo Boff, o enredo da escola “atualiza a figura de Jesus para a nossa situação, que é muito semelhante à situação da Galileia, da Palestina, na qual vivia o Jesus histórico”. Veja mais aqui.



Ao longo da história do cristianismo sugeriu-se tantas outras interpretações da vida e missão de Jesus. Algumas próximas dos evangelhos que são o testemunho mais fiel da vida do homem de Nazaré e outras muito distantes.

A Escola de samba falou de Jesus através da arte em suas diferentes dimensões. Certamente surgirão críticas. Muitas críticas. Alguém já opinava que a imagem de Jesus crucificado como um jovem negro favelado era muito feia. Mas podemos nos voltar à imagem de Jesus chagado, crucificado, agonizando na cruz que está em nossas casas e igrejas. Esteticamente não é das mais atrativas. Mas ali está o filho de Deus, aquele que nos amou até o fim. E está também na imagem do jovem negro favelado. 

Os organizadores do desfile procuram retratar Jesus no corpo do negro, do indígena, da mulher e tantas outras pessoas com a vida e a integridade física ameaçadas. É possível que tenha escandalizado os puristas que viram nisso grande pecado.

 Contudo vale a pena retomarmos o evangelho de João, primeiro capítulo. Ali o evangelista afirma que Jesus é o verbo encarnado morando no meio da humanidade. E o verbo se fez carne e veio morar entre nós (Jo 1, 1). Significa que Jesus assumiu a condição humana nas suas grandezas e limitações. Esteve presente na história da humanidade nas condições que esta história permitia. Fez isso para conduzir a humanidade à salvação. Cabe reforçar: assumiu a condição de todos os humanos e não apenas de grupo. Fez isso para salvar a todos. 

O evangelista Mateus descreve as consequências da opção de Jesus de se encarnar. Em Mateus, 25, 31-46 o Filho de Deus afirma os critérios de salvação para os homens e mulheres, a capacidade de reconhecê-lo no faminto, sedento, estrangeiro, na pessoa nua, no doente e no preso. Ver Jesus nestas pessoas e agir para o seu bem, matando a fome e a sede, vestindo, visitando, ou seja, dando uma atenção samaritana e misericordiosa é o grande critério de salvação. Jesus, o Filho de Deus, se fez presente nestas pessoas, porque se encarnou para salvar a todos.

Quando a Escola retrata as diferentes realidades do povo pobre nos dias atuais e diz que Jesus está ali o faz a partir de uma hermenêutica dos evangelhos, dialogante com os nossos dias. Provoca-nos a rever as nossas concepções de Jesus e como consequência, a nossa experiência de fé cristã.



Teólogo e pastor batista Henrique Vieira defende que a Escola levou para a Avenida um Jesus dos evangelhos: amigo, amoroso e parceiro dos oprimidos. Veja mais aqui.



Que Jesus acolhemos em nossa vida e procuramos seguir?


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