As crianças das guerras

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Tenho medo de um dia as crianças desaparecerem da face da terra. As crianças das guerras são vítimas do ódio de pessoas adultas que esqueceram de que um dia foram crianças.

Disse Jesus Cristo na sua passagem pela Terra “deixai vir a mim os pequeninos, pois deles é o meu reino…” Reino este que não temos visto aqui na Terra em meio a tantas guerras civis e militares que têm destruído lares, hospitais, escolas, hotéis e restaurantes. Lugares onde as crianças vão se esconder também estão sendo bombardeados.

Parece-me que o alvo são as crianças. Sim, são as crianças que estão sendo bombardeadas com uma mídia que impõe goela abaixo produtos que elas não podem comprar, com uma Internet que as intimam e muitas vezes as matam sem nem precisarem de armas nucleares.

O grupo terrorista Hamas degolou muitos bebês como pode ser visto a quem teve coragem de ver fotos nas redes sociais. Eu não tive essa coragem. Para mim toda criança devia apenas brincar até os seis anos de idade e nada mais. O mundo da criança é tão incompreendido pelos adultos! Elas querem ser ouvidas, fazem perguntas, choram, desejam coisas, mas sempre recebem um tremendo “não” a qualquer um dos seus pedidos.

As últimas guerras que temos acompanhado pela televisão bombardearam hospitais, lares e abrigos. A guerra da Ucrânia contra a Rússia e de Israel contra o Grupo Terrorista Hamas. Talvez o que mais passe na cabecinha das crianças desses lugares é por que tanto barulho e tanta gente morta perto delas.

Eu não sei direito o que se passa pela cabeça de uma criança em meio a uma guerra, mas sei que devem ficar muito assustadas, pois se nós adultos trememos de medo de enfrentar as bombas, os mísseis, as balas das metralhadoras dos soldados imagine uma criança de três ou cinco anos de idade acordar com a casa sendo bombardeada.

Devia existir um acordo mundial para que nenhuma criança fosse vítima nas guerras, mas como evitar isso se explodem seus abrigos, lares, igrejas, escolas e hospitais?

Tenho medo de um dia as crianças desaparecerem da face da terra. Não existirem mais bebês com essa onda de aborto sendo legalizada no mundo inteiro e discutida no Supremo Tribunal Federal – STF. Ninguém tem o direito de tirar a vida de outro. A vida é concebida desde o ventre da mamãe.

Vejo pela televisão as crianças chorando ensanguentadas nos hospitais, assustadas, sem a presença dos seus pais ou alguém conhecido, sem alguém que possa acalmá-las, sem seus brinquedos ou animais domésticos, sem nada. É triste. É doloroso. Crianças tendo seus membros amputados sem anestesias, sofrendo pelos corredores dos hospitais à espera de alguém que lhes diga quando tudo isso vai acabar, mas ninguém arrisca dizer por que ninguém quer mentir para uma criança em meio a tanto sofrimento.

Outro dia lendo uma revista de notícias vi a foto de uma criança correndo toda suja de poeira com medo das explosões no seu bairro. Ela chorava. Todos nós choramos quando estamos assustados enfrentando o inimigo que nem sabemos do que se trata porque ninguém nunca teve coragem de contar para a maioria das crianças que os homens brigam entre si e jogam bombas que destroem milhões de lares, escolas, hospitais e abrigos.

Eu só queria que as crianças fossem retiradas desses lugares em guerras e levadas para um lugar seguro onde tivessem brinquedos e pessoas sorridentes para lhes contarem histórias de princesas, bruxas e dragões.

Não matem as nossas crianças, peço pelo amor de Deus.

Deixem-nas longe das bombas, dos mísseis, das metralhadoras. Deixem-nas viverem. Elas não sabem o que são as guerras, elas não fazem ideia do que está acontecendo ao seu redor, elas veem pessoas mortas, pessoas chorando, pessoas ensanguentadas pedindo socorro e se sentem sem saber o que fazer em meio a uma multidão de gente que está morrendo perto delas vítimas de bombardeios.

Salvem as nossas crianças das guerras, eu peço. Não as deixem saber que existem pessoas capazes de mandar destruírem cidades e acabar com a vida de inocentes por problemas que poderiam ser resolvidos com conversas de ambas as partes.

A matança das nossas crianças é uma injustiça ao mundo da infância. Estamos matando as crianças por uma causa que dizemos ser necessária à humanidade. De qual humanidade falamos quando terroristas degolam crianças?

Tratam as nossas crianças como adultas quando nas favelas da cidade do Rio de Janeiro, São Paulo, Recife e outras mais que não preciso citar os nomes são feitas de “aviõezinhos” nome dado às que levam drogas para cima e para baixo no meio do tráfico. Crianças essas que deveriam estar brincando e estudando.

Não vejo nenhuma política federal, estadual ou municipal se preocupar com essas crianças, apenas vão aos noticiários lamentarem quando uma dessas é vítima de bala perdida ou violentada por um adulto. Falo aqui da guerra que as crianças brasileiras vivem todos os dias e que não movemos um dedo para tirá-las desses lugares.

As guerras não são somente as que usam bombas e mísseis, mas todas que afrontam contra a dignidade da pessoa humana como já se referia o filósofo do renascimento Pico Della Mirandola. Toda guerra começa com um simples desentendimento que vai crescendo e se tornando um problema maior.

Vivemos em guerra constantemente quando odiamos as pessoas ao nosso redor, quando apontamos uma arma para uma pessoa na rua, quando maltratamos as nossas crianças ou quando as deixamos nas mãos de pessoas violentas.

As crianças das guerras são vítimas do ódio de pessoas adultas que esqueceram de que um dia foram crianças.

Chorando ao redor do corpo do pai ou da mãe mortos sem lugar para onde ir e sem saber o que fazer a criança chama pelo pai à espera de que ele ou ela abra os olhos. Não sabe ainda o que é a morte, desconhece mais ainda o que é uma guerra feita por adultos que se intrigam e querem mostrar poder ao mundo.

Que mundo horrível este em que vivemos hoje em dia! Onde está o amor por Jesus Cristo?

Cadê os evangélicos que nessas horas se escondem e não protegem as nossas crianças dos traficantes, dos bandidos, dos soldados perversos. Onde estão os cristãos que mataram as bruxas e não destroem as armas que matam as nossas crianças? Armas essas que se misturam com gritos, palmadas, violências psicológicas.

O papa Francisco parece preocupado com as crianças das guerras, mas ele só fala e o momento é de agir e não aceitar ditadores nos cargos de ministros e presidentes de países em guerras. As milícias cariocas matam as nossas crianças oferecendo-lhes drogas e armas para guerrearem com os verdadeiros policiais que buscam a paz. Um soldado que aponta uma arma para uma criança e atira nela esqueceu completamente da sua infância.

Crianças são vítimas de guerras todos os dias. As guerras com os pais, as guerras com os avós, as guerras com os responsáveis que deveriam cuidar delas e ao invés disso as violentam cruelmente.

Não posso parar as guerras. Nenhum tipo de guerra das quais falo aqui neste pequeno ensaio, mas posso pedir as autoridades que olhem com mais carinho para as nossas crianças que andam assustadas com alguma coisa que não sabem nos contar, mas está as incomodando e elas entram em guerra contra esse inimigo invisível. A pior guerra da infância é não saber dizer o que está acontecendo consigo por medo da incompreensão dos pais.

Existem guerras em todos os lugares. Guerras cruéis por sinal. Guerras que matam nossas crianças todos os dias, que matam seus sonhos, suas esperanças, seus sorrisos e seus mundos imaginários. Qual criança em meio a uma guerra com bombas, mísseis, metralhadoras vai poder crescer saudavelmente? Quais adultos estamos formando para o futuro nesses países onde as crianças desde cedo já são treinadas para guerrearem e pegarem em armas pesadas para matarem outras crianças iguais a elas?

Para onde estamos indo que não enxergamos o mal que estamos fazendo às nossas crianças? Este é um reino de hipócritas e egoístas, pois o de Jesus Cristo ainda espera pelas crianças com flores e anjos à sua porta.

Outro dia estava lendo uma notícia no jornal da minha cidade e vi a triste história de que faltavam vagas para crianças nas creches. Ora, ora, pensei comigo. As nossas crianças se não têm escolas para irem como serão os seus futuros?

As autoridades estão mais preocupadas em construírem pontes, arranha-céus que está na moda em orlas marítimas, estradas e não em construírem creches e ampliarem o número de matrículas para que nenhuma criança fique sem acesso ao estudo garantido pelo Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA.

Parece que vivemos uma guerra grande em nosso Brasil e estamos “matando” o direito das nossas crianças pensarem criticamente e aprenderem a ler e a escrever na idade certa. Estamos com medo de formarmos cidadãos críticos e não termos mais a quem comprar votos. Talvez seja isso. Era para ter creches, parquinhos, quadras, brinquedos em cada bairro das cidades porque as crianças são o nosso maior tesouro. Serão elas que vão dirigir o país em breve. Elas precisam de amor, cuidados e carinho.

Para terminar eu concluo com uma música que acredito ser o resumo de tudo o que quis dizer acima, o nosso querido Gonzaguinha na canção “O que é, O que é” quando ele nos diz:

 “Eu fico com a pureza / Da resposta das crianças / É a vida, é bonita
E é bonita…”

Que a infância das crianças da Faixa de Gaza na Palestina ou as de Israel que foram degoladas, onde crianças estão morrendo todos os dias e a cidade do Rio de Janeiro onde crianças aprendem a pegar em armas todos os dias, possa ser dada com a pureza das crianças a clamarem no fundo dos seus olhinhos cheios de interrogações o que são as guerras e por que elas acontecem.

Eu não sei nada de guerras, mas sei um tanto que me importa e me faz chorar. A pureza das crianças é mais bonita.

Autora: Rosângela Trajano. Também publicou crônica “Por que esperamos das crianças o que não esperamos de nós?: https://www.neipies.com/por-que-esperamos-das-nossas-criancas-o-que-nao-esperamos-de-nos/

Edição: A. R.

4 COMENTÁRIOS

  1. As maiores vítimas, as mais vulneráveis, órfãs da fraternidade que deveria existir entre os povos, mártires da sociedade adoecida de desamor e ganância. Parabéns pela abordagem, querida Danda Trajano. Mais que palavras, são necessárias atitudes. Oremos pelas crianças do nosso Brasil e do mundo, nelas repousa a esperança de uma humanidade melhor. Oremos pelos governantes, pelos educadores e pelos pais e mães do mundo!

  2. Excelente abordagem. Em toda parte, nas guerras principalmente, crianças são vítimas da ganância e da insanidade dos covardes.

  3. Você tem muita inspiração. Parabéns pelo que escreve, relata. Mas, o que dizer dos casos absurdos que ocorrem em nosso país, precisamente, Ilha de Marajó, onde nas crianças pequenas são arrancadas os dentes para que o bicho homem tenha seu deleite sexual oral e não seja mordido, entre outras atrocidades, e quando uma ministra se manifestou, denunciando os fatos, logo quiseram caçar-lhe o mandato? Infelizmente, isto é Brasil.

  4. Parabéns pelo texto reflexivo e propositivo, de cunho sociológico e psicológico.
    Ao ler, fui pensando se os acordos ainda são válidos, se as convenções são suficientes. Pensei em exemplos: a invasão da Embaixada do México, no Equador, pela polícia equatoriana viola um acordo; a Faixa de Gaza sendo estraçalhada para que, como disse Benjamin Netanyahu, seja irreconhecível ao término da missão; as atrocidades de Hitler, Mussolini, Stálin… entre tantos outros, e poucas outras, inclusive no Brasil de tempos a não muito idos… rompendo os acordos, as normas, dos Direitos Humanos de 1789, de 1948… os acordos estabelecidos pelas constituições, legislações… as convenções da ONU, Unicef… para as crianças terem alimentação, saúde, bem-estar… um lar… É preciso operar muito para que os acordos sejam cumpridos. Está tão fácil de fazê-los, efetivar é um problema maior…

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