Alucinados por cloroquina

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Houve troca de ministro que não adotou a cloroquina. O comando político usou a força para substituir vozes acreditadas mundialmente no conhecimento. Até quando irá este negacionismo tão nocivo ao país?

O colossal marketing do governo devotado ao êxito eleitoral extrapolou os limites recomendados pelo preceito constitucional da orientação social. Impressionante é saber que a busca anunciada pela ciência na produção de uma vacina teve o volume de adesão alucinante em nome de tratamento precoce pela adoção oficial da cloroquina.

O ex-presidente Trump foi a grande referência inicial para a ação desmedida do poder executivo do Brasil, forçando espécie de crença num remédio alternativo, de reconhecida eficiência para alguns males, mas nunca afirmado como droga adequada ao combate do coronavírus. O próprio Trump, diante da flagrante rejeição do seu receituário, mandou enorme estoque de cloroquina ao governo brasileiro.

A busca do fortalecimento da tese vacinal tornou-se esforço ingente enfrentando o negacionismo e a versão cloroquina. O fanatismo político do Planalto com ação tresloucada do então ministro das relações exteriores e outras lideranças, além dos filhos do presidente causou enorme e grave constrangimento quando apareceu a primeira vacina.

Outros entulhos, como o combate a medidas preventivas como uso de máscara e distanciamento, tornaram mais difícil a urgente consolidação de consciência pública sobre verdadeiros fatores de combate à pandemia.

Já estamos cansados de mencionar a extravagância com apoio teocrático e fanatismo político, a mau exemplo das aparições exóticas do presidente e seus sabujos sem máscara nos encontros públicos.

Os laboratórios em ritmo acelerado no mundo e no nosso país lutando diuturnamente concentraram trabalho dirigido à produção da vacina. Os médicos e heróicos agregados pelo SUS não tiveram tempo nem recursos para convencimento sobre a ideia salvadora da vacinação.

Foi momento terrível na luta pelo combate eficiente conquistado pela seriedade da ciência. Sem nenhuma lógica decente, os empecilhos formaram o efeito retardatário da adesão à vacina. Difícil acreditar, mas foi pesado demais o jogo dispersivo do poder executivo desconhecendo a situação dramática dos cidadãos de nossa terra.

Pressão da morte

Houve momentos em que o negacionismo impregnado na sociedade levou até à desconsideração em relação ao número de mortos. As estruturas do Ministério da Saúde, pela consistência da missão estatal, têm sido resistentes aos estragos dos estranhos interesses manipulados.

Registre-se que as afirmações de base científica emitidas por autoridades sanitárias dentro do próprio governo enfrentaram o sonambulismo dos fanáticos de Bolsonaro. Houve troca de ministro que não adotou a cloroquina.

O comando político usou a força para substituir vozes acreditadas mundialmente no conhecimento. Vieram outros fatores terríveis como o ainda assustador número de mortos, superlotação dos hospitais, e até o oxigênio faltou para socorrer pacientes.

A imprensa, na obrigação de divulgar o caos causado pela pandemia, também foi atacada pelos irredutíveis alheios ao maior problema de saúde da nação. Lá pelas tantas o presidente mencionou laconicamente que lamentava a mortalidade. Tudo muito longe do sentimento reclamado por todos pela compaixão. Veio a manifestação do Congresso Nacional, mesmo atrasada, enquanto até o Poder Judiciário precisou interferir. O presidente prossegue nas esquivas.

Até quando?

Autor: Celestino Meneghini

Edição: Alex Rosset

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