A Pandemia e o Caos

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É possível que a ação de uma única cidade
ou de um pequeno grupo de pessoas mude a
maneira de pensar e agir de todos nós?
A confiar na Teoria do Caos, existe uma esperança.


Segundo a Teoria do Caos, uma pequenina mudança no início de um evento qualquer pode trazer consequências enormes e absolutamente desconhecidas no futuro. Na origem da teoria está o “efeito borboleta” que sugere que eventos simples e distantes no tempo e no espaço podem estar de alguma forma relacionados (“o bater de asas de uma borboleta no Brasil pode causar um tornado no Texas” é a frase que ficou famosa com a teoria).

Recentemente, a cidade holandesa de Amsterdam anunciou que passaria a adotar os princípios do modelo Donut para recuperar a economia pós pandemia. Perto dali, na França, um grupo de artistas e cientistas de várias nacionalidades publicou um manifesto contra a volta ao normal.

As duas atitudes tiveram origem nos desafios apresentados pela pandemia do novo Coronavírus, mas esses e outros acontecimentos podem estar mais relacionados do que parecem, agora ou no futuro.

Kate Raworth é uma economista inglesa, da Universidade de Oxford, que há alguns anos pesquisa e divulga novas formas de enxergar a economia. No livro A Economia Donut, ela contesta a ideia de que o objetivo das economias deva ser o crescimento, e defende que o foco deve ser o equilíbrio.

Para ilustrar suas ideias, ela usa a imagem de uma rosquinha (o donut), onde o círculo menor (borda interna da rosquinha) representa o mínimo que precisamos para viver, e o círculo maior (a borda externa da rosquinha) representa o limite de recursos do planeta.

A meta da economia deve ser colocar todo mundo dentro do donut, num equilíbrio onde todos possam viver dignamente e usando de forma sustentável os recursos naturais. Um pouco antes do isolamento social iniciar, a economista foi recebida pela Comissão Europeia, em Bruxelas, para debater suas ideias.

Voltando a Amsterdam. O modelo de desenvolvimento socialmente justo e ambientalmente seguro foi oficialmente adotado pelo município neste mês de maio. A prefeita Marieke van Doorninck, com o apoio da economista Kate, comprometeu-se a abraçar uma nova abordagem econômica para orientar as ações pós pandemia.

Entre as muitas mudanças a serem implementadas está a redução do desperdício de alimentos e a reutilização de materiais na construção civil. Mesmo entendendo que a transformação depende do engajamento de muitos governos, e de vários setores, a cidade resolveu agir e fazer a sua parte.

Também no início de maio, o jornal francês Le Monde publicou um manifesto assinado por artistas como Juliette Binoche, Madonna e Robert De Niro, e cientistas, entre eles vários ganhadores do prêmio Nobel, falando sobre a impossibilidade de retornarmos ao normal depois de passada a pandemia.

Os signatários alegam que vivemos uma tragédia, que nos obrigou a encarar questões essenciais.

Segundo eles, o nosso comportamento de consumo levou o mundo ao colapso, chegamos a um nível insustentável de degradação do ambiente e de desigualdade social. Não podemos voltar a esse “normal”. O momento exige coragem e ousadia para uma transformação radical e inevitável.

É possível que a ação de uma única cidade ou de um pequeno grupo de pessoas mude a maneira de pensar e agir de todos nós? A confiar na Teoria do Caos, existe uma esperança. De certa forma, nosso futuro depende dessas pequenas borboletas.




“Para empresas e empregadores, ser responsável e empático também significa evitar demissões, para não criar mais pânico e insegurança na sociedade. Vale lembrar que, em geral, empresas têm mais acesso a crédito e conseguem aguentar um pouco mais a crise do que uma família”.



Para quem quiser aprofundar a leitura:

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